sábado, 27 de novembro de 2021

Cosmogônico

Deus nasceu de um trago

Depois de uma garrafa de vinho.


quinta-feira, 18 de novembro de 2021

Tráfego

Sê inteiro
Todavia
Que passam
Carros
Carregados 
de hipóteses.

E numa dessas,
Parado no acostamento,
Um lugar improvável
Se explica para a polícia federal do acaso
Como o flagrante foi parar ali.

Pensei:
Eles querem propina
Um regalo
Um presente
Que os faça lembrar do passado
E esquecer da fatalidade que os aguarda.

Outras hipóteses seguem
Cada qual ao seu tempo
A sua velocidade
Algumas inclusive na contramão

Já são tantas,
Que me parecem
Que a mão contrária é a minha

Seria eu
Uma hipótese evidente
Uma evidência impossível
Uma impossibilidade hipotética?

Ou apenas o eixo
A estrada pela qual escorre
O trânsito indecifrável?

Sigo a reboque
Até o fim da linha.

sexta-feira, 15 de outubro de 2021

Aforismo deslizante

 A frase, um resvalo. Tantas coisas que deixaram de ser ditas pela vergonha. Tantos sem vergonha ditados pelas coisas. De repente, de alguma forma, eu me torno um daqueles seguranças de shopping que desliza sobre os patinetes do futuro que já existem. Não sei bem o que estou protegendo, mas a sensação parece boa.  Existo por conta de uma suposta insegurança e designado a missão de controlar não sei o que e nem porquê. Mas o deslize é fenomenal...

sábado, 25 de setembro de 2021

Aforismo ao vagalume

 Eu converso com o eco

Montanhas são paredes construidas pelo acaso

Ou pela razão ilógica do sistema

Sou o próprio sentido

Do universo que habito

Isso deveria ser fantástico

Ao invés de desesperador

terça-feira, 7 de setembro de 2021

N95

 Respiro

Um espirro

Um esporro

Sofrido


E relaxo

Com o vento

No cabelo

Raspado


Inspiro

A expiração

Nessa máscara

Hermética


E penso

O futuro

As crianças

Sem nome


Digito

Um poema

Sem tema

Um lembrete


Como foto

E o Otto

No ouvido

Escuto


Olvido

De mim

Como sendo

Um vírus


Um ser

Disperso

No universo

Onipresente


Sem deixar 

de ser

Também

Um acidente

domingo, 5 de setembro de 2021

Inventário

Não tenho muito,
Mas concedo aos vivos todas minhas
Brutas certezas.

Mas levo ao tumulo, aos vermes
A maior riqueza:
A lancinante dúvida

Espero com ela
Germinar uma nova árvore
Que dê frutos,
Que dê sementes
E que por fim dê em novas árvores, florestas.

Esta floresta de dúvidas
Irá salvar meus netos
Do deserto movediço do real.

sexta-feira, 20 de agosto de 2021

Os autoconselhos pt. 1,11

 O orgulho é uma projeção do ego. 

Uma sombra, uma névoa do que de fato somos. 

Somos apenas o reflexo de tantos afetos que recebemos e reproduzimos.

Somos muito mais os outros do que nós mesmos. 

E quanto mais nos esquecemos disso, mais pesados ficamos.

A vida é movimento. Precisamos de leveza pra dançar. 

terça-feira, 29 de junho de 2021

Amarga

 Quando do estomago

Vaga a onda de palavras

Proferidas e que abrem

As feridas escondidas,

Já não resta nada 

A que pese consertar.


Tenta-se um drama

Uma falsa promessa

Ou uma prova de amor.


Não resta nada, nada.

Apenas memórias

Delinquentes e

Ululantes como a lua,

E tão distantes como tal.

quarta-feira, 26 de maio de 2021

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Apenas o rio

Que caudaloso escorre

Porque não poderia ser de outra forma.

Despedaço

Conecto


O côncavo

Ao convexo


A pausa

Ao peso


Reflito

Sobre


O conflito

Do reflexo


A dualidade

Da singularidade


Aceno

Como despeço


-me ao pedaço

Que fui inteiro.




terça-feira, 25 de maio de 2021

Insone vigilância

 Ouço um verso, e me compadeço aos limites dos sentimentos invisíveis.

Sou feito de pele e palavra. E me dou conta disso depois dessa temporada isolando meus olhos da poesia.

Pelo frio ou pelos lábios treinados dos meus filhos, tenho a singela testemunha do sublime.

Dá-me a vontade de compartilhar e também de dividir ao meio a angústia que é ver passar o tempo e também servir ao seu laboro. 

Em cada hábito e cansaço, um milímetro a mais dos finos fios dourados da nuca do Francisco ou dos cílios indecifráveis do Arthur.

Cerco-me agora como um soldado que se espreita na trincheira. Cerco-me de palavras, munido dos sentidos mais atentos. Aguardo vigilante... não sei bem o quê.