sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Vesúvio

A pequena palavra desta vida curta
É infinita em sua precisão
O pequeno olhar desta vida breve
É infinito em sua precisão.

A pedra dura é uma forma de brisa leve
Como o olhar é uma forma de palavra
Quando do tempo que se seca a lava
For o de um vento que petrifica a pele

Ver do fundo o fundo
Fundir do ver te vendo
Todo amor que for profundo
É a infinitude de estar sendo
Preciso como o coração.



domingo, 22 de dezembro de 2013

Estrofe condenada

Sétima parte
Camuflada falta
Um alento atento
Urbana calma
A presa é a isca
Dos predadores 
Em extinção
E tudo se rabisca
Nos muros da prisão.



domingo, 15 de dezembro de 2013

thing's poem

it's rising and rising
this senseless direction
that cripples inside me

it's writing and writing
this fearless momentum
that forbids beneath me

i'm just a bloke
with intentions and dreams
no pomps or circumstances
to longer be seen

nothing but a joker
with mysterious sins
defying this realm
and their kings in between.





tulipa

serve à despretensão do não ser
minutos que passam em respirações contadas-
a matemática medita no corpo
à metafísica medida do copo>
teu córtex vibrante torpor
consciente das divagações ontológicas
- cada coisa se torna os olhos que as vêem
e da esquina do bar,
teu rosto é uma floresta hermética
em que me perderia
projetado
à sombra, posso ser o instante
e os passos distantes da hipótese
de que teu nome me é familiar.





quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

corvo

palavras cruzadas
língua presa
qual era mesmo o nome?
a chaleira apita
a campainha toca
bom dia
bom dia
pode deixar aí mesmo?
um minuto
você por acaso sabe o nome da ave que anunciou o fim do dilúvio?
pilhas de jornais
a chaleira apita
mas, senhora..
a porta bate
a bomba zune
a cozinha é destruída num estrondo
a guerra é geral e irrestrita.



segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

caçador

sabemos escrever tanto
sem dizer nada
entalhamos árvores
com falso amor
e sonhamos sobre tudo.

e o que queríamos poder
na música oblíqua,
o desejo circunscrito
na cabeça de outro alguém,
encerra-se em um alvo
a que todas variáveis apontam.

insistimos em dizer, contudo,
que a caça é que nos foge
quando é nós mesmos que fugimos
do tempo, de um nó ou qualquer coisa
suficiente a essa espingarda que mira..

à esmo..
..ao mesmo.





sábado, 7 de dezembro de 2013

agora

Antes tarde do que nunca.


Antes cedo do que tarde.


Antes nunca do que sempre.


Depois do nunca, o antes.


Após o antes, agora:


metamórfica poesia
voadora heresia
em qual tempo te encontro
em qual era te queimaram em praça pública
em qual ventre pudico
em qual selva rara
o mundo imundo te destila
na beleza da imundez
a muda é poesia
o processo, total.






metametáfora

perdura a noite
dura
em que trinquei teu peito
num oceano de metáforas
asfalto
falta
nuvem
nua
roupa suja
alma limpa
hoje eu te vejo de cima
de um submarino silencioso
de um ventilador que te espia





quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

fotográfico

Eu te vi no tempo
paciente na parede
Na sincronia cinética

Eu te vi na lua
pendurada no céu
Num retalho estético

Eu te vi no clima
escorrendo na janela
Num deságue hermético

Eu te vi no espelho
sorrindo em mim
Num beijo imagético.




quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

o iletrável

pelas barbas da barbárie
no avesso do verso
vertem prosas
que regam rosas
cujos espinhos sujos
raspam as aspas
que não citam nada
mas que limpam toda
esta sujeira que vive a beira
de ser dita pela boca
de um cabeça-oca que lhe diz
sem medo:
antes cedo do que tarde
ante ao sol que arde
toda solidão que bate
na ideia sem acento
ao relento do sereno
de um miserável sem nome
que escreve a fome
daqueles que sentem
pelos fundos de seus respectivos poços
em seus introspectivos ecos
o grito sedento e seco
de uma voz que não cabe na garganta
e que traduz do pensamento aos ossos
o iletrável sentimento imerso
à tona do papel em branco,
a verdade absoluta do incerto.



sábado, 30 de novembro de 2013

o último encontro

ubíquo tempo
sentimento
tornei-me somente esforço
e não lembro
os nomes dos meus filhos
não me lembro
de onde vim
para onde vou
ainda que esteja
ainda que seja
a saudade do que sou
dizem que me tem no coração
esses estranhos
que me cercam
e me confundem
da lembrança de onde estou
um coração aberto
de mundo
uma casa vazia
de solidão
talvez eu tenha a sorte
de beijar a morte
com a simplicidade
de quem beija o primeiro amor.






domingo, 24 de novembro de 2013

10 segundos

você tinha os 10 segundos que se passaram pra mudar a vida
a tristeza é monogâmica
vocês têm os 10 segundos que se passarão pra mudar a vida
a felicidade é poligâmica
vou ser e os 10 segundos
nada mais



sexta-feira, 15 de novembro de 2013

endoscopia

erupto subverso começo
pedaço que engasga
covarde corpo

cada farelo da cor que ouviram

tudo é escuro por dentro
tudo é escuro por dentro

sentimento-pele
nevralgia
agnose
amor-puro

você insignificante você
no signo da imensidão
de um pôr de astro
de luz própria
que é escuro por dentro

o sangue é vermelho
por fora
escuro por dentro
escuro por dentro

o dentro
que nunca deixará de ser
o onde não se vê

epiderme-febre
sintonia
carne-crua
poesia

.

escura por
onde não se

a lua
por dentro
você
por dentro



segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Cabimento

De repente, eu olhei a mãe dormindo na cama de seu filho.
O filho que dormira dentro dela, não estava mais ali.
E ela insistia em dormir dentro dele.


Comportado

O vão que comporta a vaia
O chão que comporta a saia
O grão que comporta a laia
Tudo dentro do incomportável
Sentimento do improvável
De sermos sempre e não somente
O grão no vão do chão
Mas o grão, o vão e o chão
Novamente e novamente
Estação por estação
Laia por laia
Vaia por vaia
Saia por saia
Semente por semente.



domingo, 3 de novembro de 2013

dcinsto



decosntrido muinmento
oarte sntimento
elemnetal à brevdde
d l'uz incidnetal
scalarmônica d tmepo
gravidd  eho anmal


domingo, 27 de outubro de 2013

Pantera

Sintomatica
Automatica
Matematicamente

Cada vaso
Latente,
Sindrômico.

O movimento,
O fluxo-conflito
O rumo ao vazio.

A perturbação
Ausente
A contração

A pupila dilatante
A cintilante
Escuridão

Pálpebra
Álgebra
Cilada

O sono
Sonho
Finito

O medo
De perto
Solstício

Disperso
Deserto
Precipício

Desperto
Impulso
Do dia

A mulher
O cio
Que espia

A terra
Range
À espera

O tempo
É a morte
Em movimento

À pantera.



shitshiftin'

thead fake
thy ad face
shapeshifting
shitspacing
yn y'll fade
yor own fate


quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Em fresta

Qual vai ser?

Qual você?
Na minha cabeça

Com direitos autorais
Com autoritários de direita

Biografando
A tatuagem nos olhos

Qual vai ser?

Simplificar
Contigo
O Congo de ti

Qual você,
Cara leitora
Impagável
Gaga ei õr ã
Im a á eu
Fanha leidor
Impagãvel

Flor.



terça-feira, 22 de outubro de 2013

Samsara

Ser, de repente, a serpente e o fruto do teu ventre, na gestação do absurdo que emula este indecente pensamento de ser: de repente, a serpente e o fruto do teu ventre, na gestação do absurdo que emula este indecente pensamento de ser: de repente, a serpente, o fruto do teu ventre e o sentimento ausente das batidas repetentes do fremente coração.. que bate.. que bate.. que bate.. que bate....


segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Tríptico do estado natural das palavras

Palavras pétreas:
Muro
Murro
Surra

Palavras líquidas:
Mulher
Igual
Olhar

Palavras voadoras
Aplauso
Valsa
Poesia



quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Terremote

Da palavra sísmica do meu nome
Ondulam-se em todas as direções
Propagam-se em todos os níveis
As certezas invisíveis que te abalam
As belezas indizíveis que te embalam.




quarta-feira, 16 de outubro de 2013

"O universo dá voltas"

Considerando as variáveis desconsideradas na sua falta de consideração, o universo sideral pondera a dar voltas até que as coisas se deem como são. Do contrário, contrario toda e qualquer contradição, deixando o dito por não dito, nesta infinita repetição: a volta não perdoa - não adianta ter razão.


sexta-feira, 11 de outubro de 2013

O brinde destruidor de planos


Essa aba que protege-te do sol
É um teto tal que não respira
Esse pé que impede-te do chão
É um reto tal que não transcende
Essa palma que cala-te o som
É um lado tal que não se vira

Entorne a face
Em um copo que me caiba
Seremos o brinde do teu porre
O espaço levitado que não morre.




Ladeira Abaixo

Desce a Sílaba Cilada
E ladra Calada Subida
A Mandala Vacilante
De uma Ida
O Estribilho Cintilante
Do teu Cílio
O Cisco Excipiente
De um Moinho
Carente Brisa Quente
No Focinho
O Perfume de Repente
A Alma de Raspão
A Surpresa Afiada
Do Rastro do Trovão
O Instante Pendurado
No Poema de uma Vida
A Calma de Resvalo
O Segundo Desvairado
De um Menino sem Saída.


Sobre o branco a ser preenchido:


O ponto condensa tudo a ser dito.

O dito condensa tudo a ser ponto.

Vive-se um tanto.

Torna-se um ponto.




quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Transplante

"O sereno está batendo. Vai ficar gripado, menino". Não param de falar do vazio que não vêem, quando não é este o problema. O menino tem órgãos transplantados noutros que não conhece. Não lhe falta nada. Sua saúde é perfeita. Mas o ilocalizável também faz parte do menino. Nada lhe falta, mesmo esquecendo muito provavelmente em algum canto os brinquedos que não lembra. Ele imagina os animais selvagens de estimação que ele teima pensar que estão sendo perseguidos. "Os animais estão bem" diriam os outros se entendessem metade do que se passa. É muito mais. São coisas e gestos, o sereno e a noite, o sol e a saudade. As contingências e o próprio tempo estão no corpo do menino, e articular tudo isso, seria uma forma de ignorância. Ele não saberia e sequer poderia explicar, se não fosse através de uma história. Através de um plano ou de um pano de crochê - que ele pudesse apoiar as têmporas e sentir seus bordados na espera de um almoço que perfuma o ar. Mas ele fazia tudo isso, e todos continuavam sem compreendê-lo. Até que um belo dia, o menino deixou de ser menino, e de repente o mundo passou a entendê-lo. Chamaram-no de célebre, o homem que já não entendia o próprio menino..


quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Objetos Invisíveis Não Identificados

O frio dorme debaixo das unhas. Dizem que passam jacarés e carros por essa estrada. A cidade é ciclotímica. E à noite, o circo fecha pra balanço. Palhaços fazem marketing, trapezistas, logística, e os domadores, recursos humanos. Você bem sabe, que o espetáculo se agigantou. O círculo de fogo abriga à todos e os precedentes monumentais deste século XXII, ainda que o dia permaneça fazendo 24 horas. Temos que ser racionais. Usar a emoção com inteligência. Angariar fundos. Se afundar neste pragmatismo. O tempo é dinheiro, e passar o segundo contando os vinténs é o que tem de ser feito. O jacaré atravessa a rua. E os carros se jogam nos pântanos. Me chafurdo no absurdo de pensar... Como pode? Os carros não voam, e os cavalos estão extintos. Que tempos vivemos? Onde vivem os tempos? O espelho nos diz muito.. o espelho cintila todos os sentidos, e o jacaré continua na contra-mão, com sangue frio pra esquentar sob um sol que só chega amanhã.

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Correnteza

Esta chuva lateral suspende
A tendência inconsequente
À você
Posto que no plano torto
Em que subscreve essa vontade
O ruido leve do chuvisco no asfalto
Os contrapontos
De ainda sermos coplanares
À distância do que eram
Olhos-linhas-do-horizonte.


O tempo amansa a violência. O corpo exausta de cansaço. E toda essa ferrugem metálica que range, passa a ter uma cadência fluida, feito um velho balanço à merce do vento. Nossos desejos já não condizem com o corpo que nos traja. Mas este espasmo da palavra é o que faz tudo convergir, como se o encontro entre as gotas do orvalho de uma noite fria, transbordasse um rio irreversível. É bom rever a tua boca, mesmo que seca da intimidade do nosso sexo. Eu a assisto, como que não querendo ouvir a conversa fiada de semi-conhecidos que dela sai. Eu a contemplo, e você percebe. O rio para. Somos estranhos que atravessam sua superfície congelada, enquanto seu âmago corre imperceptível por debaixo dos nossos pés.




quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Relógico e o ponto a ser batido

"Colaboradores,..."
o maldito enunciado
Desse auto-falante.

O dia D
Em sua Europa tomada de projetos
O aríete em prontidão
Se infiltra em cada lugar
Que o teu corpo não ousa.

Esse garfo afiado
Espeta a carne apodrecida da máquina.
A faca separa. E o relógio orgânico apita a hora do almoço.

O cansaço vira onda enquanto trinca.

E tudo fica bom na miragem do descanso. Tu pega o elevador pro subsolo. É possível ouvir a estridência do atrito atravessando os andares.

O restaurante aberto. O ponteiro corta. O ponteiro marca.

"Boa, tarde. Vocês servem gaivota? Eu quero uma gaivota grelhada mal passada, por favor. Obrigado"



segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Isca

Essa liberdade
Tem um gancho dentro dela
Que só se sabe
Quem a come por inteira.
Que só cabe
Aos que se jogam da janela.





quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Sarin

Aviões rasgam o céu
E as torres se desmancham com o tempo
Abu Ghraib do Atacama
Ilocalizável movimento
Ao qual lembramos
Monumentalmente
Nas memórias seletivas do corpo social
Esta história que nos aflige de orgulho e remorso
E que se despe todo dia aos tambores da guerra
Que rufam e marcam
A hora do almoço e da desgraça
de vencer tendo perdido
Uma ideia ou um inimigo
No sono calmo de um inverno de sol
O calor das chamas de Aleppo
E o despertador que te lembra a não sonhar
Que os gritos silenciosos são uma questão de tempo
Até se propagarem ao travesseiro
Até reverberarem à tua porta
Até numa corrente de vento
Não haver quem possa te ouvir
Porque a poeira ainda paira na sala que não ousam entrar.


terça-feira, 10 de setembro de 2013

undrafted stream

there's some minspirations
that reveals faces out of nowhere
and by wich every very being
gets beated by their beat
and a bit of this makes the step
go further for another mislead
that we recall remind and rewind
may every may be the month of your choice
and regardlessly everyone got a belly button
and so a mom and a moon and a bottom to recall remind and rewind
let it blow as you're a past fragmented piece
of something bigger already blown
let it blow like a loop
let it bloom.




domingo, 8 de setembro de 2013

Subverso Epígrafe

Em meu quarto, me arrefece um oceano de tubarões inexoráveis
E à deriva, permaneço flutuante às profundezas
No nadir abissal deste eixo,
O medo primal.

Hoje, a exaustão te salva do cansaço de viver.


quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Ruído

Onde cabe este ruído
Eu fico
E tenho sido assim
Itinerante e rente
Ao silvo uníssono
Deste ruído
Ao qual pertenço apurando
Esta estridência
Lenta e constante
Este ruído
Que é denso e vibrante
Este ruído
Este suspiro distante
Este ruído
Este silêncio fremente
Este ruído
Que é o sonho gigante
Do teu ouvido.


terça-feira, 3 de setembro de 2013

Nenhum comentário:

o mais bizarro é que eu sempre volto aqui pra ver se tu escreveu algo novo.. eu acho o poema foda  e quando olho a data eu vejo que o poema é realmente foda pq de alguma forma, eu acho que todo poema que eu já li, é um novo poema.. obrigado por me fazer experimentar o alzheimer antes dos 30..

drummonstro


maldito poeta
que não tem cara
maldita careta
debaixo da cara
maldita careca
que tempo não cala
maldito profeta
que nada fala
maldita gaveta
de tuas taras
maldita a boceta
que te embala


quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Interlocutor

O copo está na metade. O corpo também. Mas essa luta contra a própria condição é o que faz do cansaço, virtude. As poucas mulheres deste boteco irradiam alguma aura incompreendida. Cada qual a sua frequência. E já faz um tempo que não passo por aqui. As pernas morenas de uma delas me remetem ao sol da semana passada. Realmente, faz no mínimo alguns meses. O meu humor é condicionado àquelas curvas. Estou cinza como as nuvens que não haviam, e torto feito os tornozelos. Iminentemente triste como a chuva prestes a cair da contramão. No entanto, ela continua imutável por baixo da saia. E mesmo indo às esquinas que nunca fui, abrindo-se à homens que desconheço, ponho-me a fitá-las contemplativamente. A plenitude dessas pernas é um atol de inspiração. Fazem exatos 2 meses e meio que não passo por aqui. Por alguma razão, essas pernas me cantaram parabéns àquela altura. O copo está no fim, o corpo está no fim, e só quero essas pernas pra ter que voltar de algum lugar.



terça-feira, 27 de agosto de 2013

Coragem

O moinho de mim
O movimento
À lufadas de vento
É o meu monstro
O meu tormento
Mas a coragem
Que cintila
De passagem
Na couraça
Do meu peito
O coração refeito
É a sanidade
Pra lutar
Contra o moinho
Em meu alento:
Meditar é a teimosia
De um corcel
À fantasia de jumento,
Porque viver
É crer na mentira
Fundamental:
Sê de inteiro verdade
Pelo caminho
Do irreal.


quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Neve

O desejo consumidor
Circula o vento
Esvai-me em sentimento
Um floco inevitável
De você.

Pelo breve segundo,
Um lugar que nunca fui
Em teu você qualquer.






sexta-feira, 16 de agosto de 2013

incidental

ocidental
acidental
dental
e tal.

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Bonzai

Não leio
E não devo
O enleio
E o desprezo
Degenerado dos olhos
à arte de todas as gerações
Do último alcance de minha genealogia
Às linhas retas de sílabas contadas
Do organismo que é um câncer controlado,
Um nódulo de arestas podadas
Que cresce à miniatura
De um poema que é um livro
Que eu me livro de escrever
Posto que no arame do que posso
Todo limite é sem-fim
Mesmo o pesar dos que não vêem além dos olhos.






Utilidade

Aquela velha gaveta
Guarda a gaivota de tudo que seria se tivesse a coragem
Ou o talento

E o pseudônimo anônimo que imputaram-no, serve
À chamar-lhe e somente chamar-lhe

Mal sabem que és mais gaivota
Do que todos os móveis que vêem e são úteis em suas formas

Mas útil mesmo é o sutíl.
O útero inútil de uma mulher em menopausa
O apêndice e o ciso.
Todos abrigam a sutileza irreversível do que é.


sábado, 10 de agosto de 2013

Metáfora elementar

A consciência
é lua
A vida
é sol
O corpo
é terra

E pairia à poeira do ar
A metáfora elementar


sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Entrevista

Numa entrevista
Sem palavras
Nos entendemos
Sem dizer

Inconstante consoante
O doce nome do olhar.
 

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

"Era bom, mas não era dois."


Era uma vez,
Um homem que era dois,
o suprassumo da 'bondade'
Um ser cabalar
Que cismaram que era três.


No teu lugar


O palito atravessado
Cisca a carne do fundo dos teus dentes
E de repente,
Dá-se a glória do alívio
O buraco está aberto
E nada o encobre, senão o costume em tê-lo vazio.


terça-feira, 6 de agosto de 2013

Na beira do caminho

Na beira do caminho
Tinha um senhor distinto
Igual a todos os outros

Tinha um senhor distinto
Igual a todos os outros
Na beira do caminho

De retinas tão fatigadas
Um senhor distinto
Igual a todos os outros
Passou por mim
Na beira do caminho
E jamais me esqueceu.


Onde?

A tua importância social
Na insignificância mundial..

Onde foi parar a tua infância?
Na infâmia da etiqueta de um banquete?
No afã insuportável de um boquete?
Na rotina controlada que repete?



Reza ao qualquer

Não me interessa teu nome. Não me interessa teu rosto. Não me interessa sequer se lês estas palavras, ou ainda, se sabes ler. Este texto é pra você. Com todo o carinho que houver, feito um ato de fé. Esta intenção sacramentada, te acalmará o pranto, te saciará a fome e, sobretudo, te servirá de inspiração para seguir adiante. Cada entrelinha te acolherá num abraço, e o ponto final lhe será, tão somente, o amor infinito.


domingo, 4 de agosto de 2013

Parágrafo nômade

O infracionável corpo. A imensidão aterradora. Existem pólos inexoráveis que sequer tenho conhecimento. E ainda que a consciência configure razão a claustrofobia, não poderia ser outro senão. A solitária permanente que me acerca, dentro destes membros calejados. Preso convicto. Os maremotos potenciais tramam me abater, e estas belas plantas sugam cruelmente a morte do que foi deixado pra trás. E a beleza intempestuosa de todas essas coisas são apenas o plano de vidro; este painel de possibilidades. Eu caminho em direção ao horizonte rarefeito. A lufada de liberdade é toda violência do devir.


quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Parábola

Parece haver um alvo
Mas há quem duvide
Parece haver um alvo
Mas há quem duvide
Parece haver um alvo
Mas há quem duvide
Parece haver um alvo
Mas há quem duvide
Eu atiro.
Parece haver um alvo
Mas há quem duvide.



Franco atirador

Parece haver um alvo
Mas há quem duvide
Parece haver um alvo
Mas há quem duvide
Parece haver um alvo
Mas há quem duvide
Parece haver um alvo
Mas há quem duvide
Eu atiro.
Parece haver um alvo
Há menos 1 que duvide.


Consciência e seiva


Ceifados lírios do jardim
A injusta amputação


A floresta que há em mim
Abriga luz e escuridão



Copabacânica

O apóstrofe dos apóstolos:
"Pai nosso que estás no céu,..."
De rompante e sem roupa interrompem
Profanando o inefável fanatismo
"Pau nosso que estás no seu..."

Cruzam os cus e a cruz
Nas cabanas em Copacabana
Para a ponderar o Papa sem pompa
E o fio dental da mulata que bamba.


terça-feira, 30 de julho de 2013

Ebriedade

Qual-quê?
Intimidade?

Se dividimos o quarto
O corpo
E a cidade?

Lembro o Horto
E sorvo sorvo
Vadiagem

Torto
E louco louco
À tua imagem

Solto
Verto o vento
De passagem

No quarto
O mole corpo
É a cidade

Na noite
Tropo a torpe
Castidade

Ou o acerto
Turvo
Da vaidade

Que em teu parto
Pôs-te o ovo
A gravidade

Fartei-me
Morto
É a idade..


segunda-feira, 29 de julho de 2013

Avestruz

A segunda-feira atroz
Ao que ficou pra trás
O que faremos os três
Se vivermos por um triz?


quinta-feira, 25 de julho de 2013

Exprime,

Espreme
Até sair o suco
Até formar os sulcos
Em que corra esse teu rio
Porque chorar é uma forma de sorriso
E o porquê é uma desculpa pro teu cismo.





domingo, 21 de julho de 2013

Lição de despedida

Em simulacros, a verdade emerge concatenada.

Pensam o que querem pensar
Vêem o que querem ver
São o que querem ser.

E a dúvida é um espectro do desejo
Que sonhamos com medo.

Iremos todos embora
Deixando nos interstícios
Nossos intestinos.

No éter,
O pesadelo será aquém de estarmos juntos
Se não ousarmos duvidar
De nós mesmos,
Se não ousarmos ser
O que duvidamos..


sábado, 20 de julho de 2013

O ballet no Everest

Dançou ballet no Everest
Mas a escuridão vem como soco
E não havendo coisa a se atentar
A respiração é contada:
Um (inspira)
Dois (expira)
Três (inspira)
Precisa expulsar o frio
Mas só o tem
E o precisa.


sexta-feira, 19 de julho de 2013

Passando

Em um parque abstrato, uma mulher concreta chora. O parque e a mulher existem menos do que o que passa pela sua cabeça. Há algo que passa. E continua. E continua. E continua. E continua. O parque e a mulher permanentemente passam. E continuam.


segunda-feira, 15 de julho de 2013

Lacrimogênese

Eu quero teu peito amostra
Tua pele nua

Desarmada da borracha
Do escudo de plástico

Eu quero teus olhos atentos
lacrimogêmeos

Corpo-a-corpo
E oxigênio

A carne crua
E o pé descalço

E braços
Inalcançadamente abertos

Eu quero te arder
através e por dentro

Tragar o teu suor
E me afundar em teu cheiro

Sem partidos
E sem governos

Eu quero ser
a própria multidão em você.





quarta-feira, 10 de julho de 2013

Tríptico grave

um plano branco
gravado

um disco negro
gravado

um braço exposto
gravado




O livro

O vinil

A tatuagem




Olhos

Ouvidos

E pele

Sintonicamente apurados

Na gravidez de gravarem

A gravidade sentida.


A noite

Ela se sentia anestesiada. Quando saia, ria com os amigos. Mas cada felicidade era trivialmente banal. Gostou quando sentiu o inverno chegando pela água da torneira. O espelho a refletia evasiva. Ela não estava gorda, mas duvidava do próprio reflexo. Uma formiga parecia mais interessante. Não sentia fome, e o mesmo cd não parava de tocar ao fundo. Foi para a sacada e chorou, era o gás lacrimogêneo da Delfim Moreira.

terça-feira, 9 de julho de 2013

Nômade

No teu reino,
Um entreposto de incertezas
Mirante do horizonte

Da clareira no campo
O céu anoitado esclarece nímio

Descobertos vales
A seiva corre livre
Essência

Há em frondosas sombras
O discreto brilho
Contornado do olhar

Tua selvagem floresta 
abriga indomada beleza
O triste mistério natural

No escuro, o relevo acidentado
e colinas suaves de relva

A ameaça das cores invade
nuvens adormecidas
e revela montes longínquos

O dia enrubescido
E o brilho discreto da sombra 
dispersam a leve brisa

A terra envolve
E cada fruto emana
O aroma de sua história

Os passos
rumam livres e todo tempo
É a própria descoberta

domingo, 7 de julho de 2013

Vertigem


Vi amar
-te


D'uma
janelanua

Vermelhor
o ôco

Azular
o corpo

Solarizar
o osso

Enluarar
a carne


Via ser
-te


Cadenciar
A boca

Silenciar
A face


Vi ater
-te


Libertin
arte toda

Horalizar
O tempo

Sussurrar
Suando

Soarizar
o vento


Verter-me
Em ti

Por ter-te

Em mim

sexta-feira, 5 de julho de 2013

A velha pele

O vento da mudança sopra morno:
A violência é um precedente aberto de desejo.
Somos todos o grito e o lamento,
E o que toma o ar a todos nos sufoca.
O espaço-tempo a todos move e envelhece
Em cada circunstância, a ânsia por afeto
E o desentendimento das mãos de um mesmo corpo.
O flagelo que sustenta o inexorável
São estes ovos de serpente que chocam
E que somos uns aos outros sem saber.

quarta-feira, 3 de julho de 2013

mar remoto


A pegada se esvai
na segunda marola

E tudo existe entre a paciência e a morte.




sábado, 29 de junho de 2013

Contagem regressiva

Cansei de recauchutar velhos versos
De extrapolar o ordinário na mesmice
Porque bem no meio do tempo
Bem no umbigo do passado antigo
Eu posso enfiar o dedo e sentir
a cicatriz
do teu amor mal resolvido
da tua origem sem sentido.

Porque no meio do tempo
há o mecanismo por trás do relógio
Uma roda que gira a outra
E a outra, e a outra,
a energia que movimenta
a primeira é uma pilha velha
carcomida de ferrugem
que o tempo não mediu.

O ponteiro é cruel
Ele aponta como eu
O seu umbigo
O tempo que nos resta
Até sermos todos umbigo
Um vazio circunscrito
Que já foi a ponte alimentada por alguém.


quinta-feira, 27 de junho de 2013

Letreiro

Um letreiro estroboscopicamente pisca no fundo do cérebro
Não posso ler o que está atrás dos olhos.


THE STATE MENT

THE BREEDER
THE BREAD
THE BREED
THE BED

THE READER
THE READ
THE REED
THE RED

THE FEATHER
THE FRET
THE FEET
THE FED

THE LADDER
THE LAD
THE LEAST
THE LAST

quarta-feira, 26 de junho de 2013

Manifesto

Afino o pensamento
E o encobrem de cimento
O que me incorre do esgoto
É o tempo que se esgota
E a sola que se perde
Do sapato que separo

E lustro
E oscilo
E alucino
E manifesto

Cada centímetro
A rua está aberta
Do efeito imoral
Que nos condena

E fervo
E grito
E choco
Evoco
E corro

O que corrói este laço
A sombra o poste o asfalto
A multidão e o pedaço

Os buracos da lua no alto
Me lembram que toda paz
É uma mentira que se faz
Do subverso livre do caos

E volto
E chuto
E choro
E gravo
E fito
Revolto

Os cavalos
Domados de medo
E os tapumes
Nas vitrines de vidro

A verdade incorpora
Em estilhaços e fogo
E somos todos a espora
E o transbordar do esgoto.


terça-feira, 25 de junho de 2013

Maré

O membro vermelho
Do lado esquerdo do peito
Numa frequência esquizofrênica
A onda toma e dispersa
A areia calejada de dor
Infiltra movediça
Até que o sangue seque
Coagule no canto
Até que os olhos oscilem
Despertos na calmaria
Há nos patrimônios conserto
E no concerto dos sem vez
A maré retumba de sangue
A chacina dos sem nome,
Só se identifica o sargento
E que as balas embebidas do rio Lete
Desaguam letais como o silêncio.


terça-feira, 18 de junho de 2013

Arpoador

Guardo em uma de minhas muitas gaiolas, o teu desejo indômito. Em seu desespero singular, ele circunda a sala medindo espaço. Semanticamente, lhe atribuo outros nomes em novos lugares. A temporada passa feita a brisa escura de uma manhã de sol. O despertar difícil e aprazível do domingo, e só o subversivo significa senão você. O edredon feito o teu corpo, o calor feito o teu beijo. A gravidade me escancara de preguiça. E o bocejo é a resposta involuntária em tentar te engolir.


sábado, 15 de junho de 2013

Maresia

O tiro que silva passa rente
E há um zumbido constante
À calmaria

O penetrável mar
Perverte a pedra
E o testemunho
Que o contempla
Em romaria.



quinta-feira, 13 de junho de 2013

Quando o poema acabar..

Provável que a válvula tranque
O músculo pulsante e seus canais
Simplesmente falhem de repente
Que a intenção e seus sinais
Simplesmente travem de rompante
E da janela, a paisagem emoldurada
Do horizonte abrigue o instante
Em que tudo parou por não haver motivo.


terça-feira, 11 de junho de 2013

down jones

Roteiro de um filme:

Em Wall Street, um dos acionistas encontra uma mão no chão da Bolsa de Valores. Não entendendo o que acabara de ver, ele e alguns outros que perceberam o membro continuam seu trabalho normalmente.


Pacífico

A sabedoria indecifrável dos olhos

A cachalote emerge

A dúvida é sempre dúbia

Em sua longa cauda

A dúvida é sempre débil

Retornar às certezas abissais

Esperar e segurar o ar

Contra a involuntária contração

Os olhos e o abdome

A espera fortuita do homem

E o medo da luz solar.



segunda-feira, 10 de junho de 2013

In loco

Milagres
Migalhas
A mão que alimenta
O mártir
O cheiro do pão
A arte
E o chão
O cisco
Em um nome
Um gesto
O monte que toco
O aceno
Um beijo obsceno
O sertão que nos cerca
Milagres
Migalhas
A arte e o chão
À luz do dia,
A escuridão em foco.

terça-feira, 4 de junho de 2013

Zoológico

Não entender, não torna a sentença sem sentido. E fazer sentido, não exime a sentença de não significar absolutamente nada. Há, portanto, a dimensão de uma jaula de possibilidades, que é criada pelo simples fato de existir a consciência.Você consegue ver a estrutura deste ambiente sem saída, ainda que seja impossível mensurá-lo no espaço. O zoológico de Praga está inundado neste momento, e uma cidadezinha do Oklahoma foi dizimada por um tornado. No quarto de persianas fechadas, pensamos em palavras em português, e alguém no Congo contempla formigas que se enfileiram em linha reta. O sol raia à meia-noite em Oslo.


quinta-feira, 30 de maio de 2013

Controle remoto

Consentir inutilmente o novo dia que raia
A nova raiva que brota da mesma segunda comum.
O amarrar do cadarço do velho sapato lustrado
O terno em forma de camisa de força
A barba feita em nome da ordem
O silêncio da serpente biônica
Uma tevê sem sinal e o rádio fora da estação
A superfície incerta do mar.
Existe alguma coisa não assimilada
Alguma coisa autônoma a esta procissão
E o mundo cairá sobre nossas cabeças
Antes que possamos olhar para cima.


sexta-feira, 24 de maio de 2013

Corremos


Corremos atrás do que se move, como cachorros.

A televisão, a mulher, a notícia, o carro, o homem.

Corremos sem que haja motivos como loucos.

Damos voltas na Lagoa, para despirmos-nos da gordura.

Corremos pelas nossas vidas

Quando cachorros correm atrás de nós

Só porque corremos.


A notícia

O terror do mundo

imola e decapita uma aldeia do lado de baixo do mediterrâneo

2 terroristas

imolam e decapitam um aldeão do lado de cima do mediterrâneo

A notícia



segunda-feira, 20 de maio de 2013

Ave Maria

No desfiladeiro cinza passa o carro do ano. Em um minuto, a densidade demográfica não comporta a umidade relativa do ar. Ocorre que correm todos a sua coerência. E o louco, que assiste o formigueiro com atenção, esquece de almoçar sua alma penada na marmita. Em contagem regressiva, a noite anota de repente, o que contorna com sufoco o velar dos olhos cansados.Terça-feira, 18h07min, o genocídio em praça pública em forma de fila de ônibus.



quinta-feira, 9 de maio de 2013

co-rente

O mofo no guarda-roupa
E o batom no guardanapo
O guarda-costas sem roupa
E o copo plástico usado


terça-feira, 7 de maio de 2013

espelhohlepse

somos
anagrama reflexivo
som

som reflexivo
eco

eco
anagrama
oce

oce
reflexivo
mim

mim
o anagrama
sem fim


sábado, 4 de maio de 2013

C'alma

A par de tudo que pode ser feito, resigno-me a sábia preguiça. Fazer nada sustenta o equílibrio entre o pouco e o tudo. Concentro a certeza de não ter opções, e as contradições que me afetariam fortuitas já não me acertam, pois do nada que escolhi, não é o alguma coisa que certamente me arrependeria. Sem heroísmo, por favor. Os covardes é que ganharam a guerra - por serem as línguas dos olhos que morreram.

quinta-feira, 2 de maio de 2013

Posfácio


Após anos imerso em livros, perseguindo todas as pistas e unindo os fatos, as provas levaram a resposta do grande enigma: as coisas acontecem sem razão.

Na condição suprema de concluir, nada como perceber o óbvio com perfeccionismo. À deriva, o grande mar da irrelevância, e seus majestosos maremotos.


Re-existir

Em cada belo texto, rascunhos.
Em cada bela casa, a montanha de entulho da reforma.
Em cada minimalismo, a profusão de um lixão a céu aberto.
Em cada bela mulher, seu lado de dentro, e a privacidade do cheiro de sua flatulência.
Em cada convicção, a vergonha do que não foi dito.
Em cada cada, o resto.

sexta-feira, 26 de abril de 2013

presunção banal

Essa voz inconsciente que me lê
As figuras em palavras que compõem
O quadro de coisas que eu sei
Porque saber é só saber explicar
Ou articular com o silêncio
O que o barulho do mundo
Me faz escutar.

Sem querer, a voz me narra
A poesia que a reflete.

A inconsciência consciente de si
É a própria revelação de ser
Um ser de ruído e ouvido.


Barco a Vela , Caravela

Olhem os homens-do-horizonte
Pois vos bendigo o maldizer
No silêncio do curioso olhar
O ritmo eloquente das vagas
Eu fito sua gigante canoa
Que singra no caos do mar
O que será de nossa raça
Quando estes nos ensinarem
Por fim, o que é a tal 'saudade'.


auscultado (estecoscópio)

Emergir da emergência.
Eis o provérbio que me faz.
Eis os teus eus em mim.
O disfarce que te apraz.

Umbilical

Se a inspiração de um livro
durasse o instante
faria uma bíblia que descrevesse o teu umbigo

O precipício do teu corpo
O suicídio do meu corpo
A tua marca
E tua origem
O próprio quadro do meu desejo
O Mar de tua face
O meu refúgio
O verdadeiro fruto
O princípio do teu corpo
O princípio do meu corpo.

Obliquo


Do meu corpo fechado,
A tua silhueta
A tua boceta

Como se pudesse
Mirar com meu cigarro
A tua certeza

Um beijo.


Lambido


Sublima em sua leveza secreta, a destruição.
A engenharia da noite, a beleza se configura.
Num ponto brilhante, a centelha da humanidade.
O balão nos ilumina e inflama de esperança.
E quando pousa em chama, varre barracos e montanhas.
Estrela indescente de beleza e agrura.
O fogo do inferno que nos aproxima do céu.
Consumir-se na própria pira, o inalcansável horizonte.
Desistir no pouso do acaso, o disforme peso do chão.
A festa e o rito da criação, somos todos distantes
De instantes, a forma e o fogo - o balão.


quinta-feira, 18 de abril de 2013

Ponto

Dentro da floresta tropical
O formigueiro anda em linha reta.

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Salvação

Salvem-me de minha inocência.
Salvem-me de minha aldeia sem lei.
Salvem-me do derradeiro juízo final.
Salvem-me da infinita terra que me guarda.
Salvem-me do assalto de meus olhos.
Salvem-me do meu canibalismo.
Salvem-me da caça.
Salvem-me de minha própria salvação.
Salvem-me da saliva que sorve de raiva.
Salvem-me da cólera dos teus deuses.
Salvem-me, homens do horizonte,
Desta língua podre que já me lambeu a alma.


sábado, 6 de abril de 2013

Serpente

Eu sonhei com um engarrafamento de proporções colossais. Um engarrafamento em que os tanques de gasolina se esgotavam antes do próximo posto. Sequer haviam postos de gasolina por perto, pois nada pode estar perto da inércia absoluta de um engarrafamento daquelas proporções. Os ambulantes oportunistas eram todos  milionários. Não restava mais nada a não ser o indulgente medo de sair do carro. Ao longo da serpente prateada de automóveis imóveis, um só organismo paralítico, que retroalimentava sua própria condição. Um engarrafamento sem porquê, com todas as razões que levaram-no a existir, o fluxo total em um único sentido em uma única direção. Acordei aliviado na profusão de uma calçada fria, os carros buzinam e minhas muletas são onipotentes.
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sexta-feira, 29 de março de 2013

Almoço grátis

Um castelo de cartões de crédito,
Que sustentava o mundo, desabou com o vento.


O escalafobético e a borboleta

Hoje. No fundo do agora incidental. Em toda sua esquizofrenia e realidade. Este segundo. É um segundo total.


Se não fosse pela desatenção em assistir o entreabrir da tua boca.



domingo, 24 de março de 2013

Desilusão



O zeta se aproxima
De cima em linha reta

No cataclismo disfarce
Da faca, da face

No hiato dos lábios
Em tempestade solar

Para selar o consolo
E desiludir o trôpego pulso
Em alta pressão

Porque a água que limpa
É também a que afoga
Os afagos guardados no coração

E no seco gole da saliva
Raiar um sol indiferente
Que te liberte do disfarce
Do falso sorriso entre os dentes
Da faca, da face
Da farsa e da foice

Contar a realidade
Por baldes de água fria
No pôr solar da cidade
O que é é não ser o que seria

E por definição
O horizonte alheio
Fazer brotar em teu seio
A epifania da morte da ilusão.





quarta-feira, 20 de março de 2013

Aluno

Na borda daquela velha caneca, eu imaginei o teu batom mais baixo. E abri o livro feito tuas pernas. Era de poesia, como os teus olhos. Era em japonês... e era breve. Dizia assim a tradução:

Zombe da penumbra
A desilusão consola
O que o amor esclareceu


Lembrei-me de quando te esquecia. E, de repente, me esqueci de como não entendia nada de você..


terça-feira, 19 de março de 2013

Aluno (escancarado)

Poder poluir o papel branco
E delinear a melodia que suprime o inaudível barulho do caos
Ressoar na frequência que chamam de silêncio.

E o silêncio, o papel branco.

Desamparar-se do barulho
E do que falta entre as certezas escancaradas de um sorriso.

Fingir pode ser ser.
Abro um livro como as tuas pernas.
Bacanalizo o barulho que transborda de tua respiração.

E dizem que o branco opaco do muro representa a liberdade.

O ledo engano do artista.




quarta-feira, 13 de março de 2013

Gônada

Ler com os dedos
O braile do teu corpo.
Lamber o delta do teu sexo
Liquefazendo o teu plexo.
Fazer brotar do ovo
E germinar tudo de novo.


domingo, 10 de março de 2013

Predador

Chegada a hora, estava preparado. Era sua prova de fogo. Retornaria com o crânio a tribo, após aquela temporada vivendo em plena solidão. Passou luas à espreita, e fazia parte do rito assistir o nascimento e crescimento da caça até que no momento certo, quando o animal estivesse em pleno equilíbrio de forças consagraria a comunhão de sua morte numa luta justa. Fazia alguns sóis que perdera a fera de vista. E sabia, de alguma forma, que naquela tarde chuvosa se daria o derradeiro encontro. Seu olhar era fixo e, no cair do sol, pressentiu o fitar oblíquo da pantera, que já se camuflava junto à noite. Imóveis, se entreolharam sob a fina chuva. A observação durou até que houvesse apenas dois círculos dourados que flutuavam na escuridão. No transe de um instante, um relâmpago desenhou a silhueta do animal. E antes que o trovão pudesse bravar, ele sentiu pulsar a floresta pelas veias e a sua própria mandíbula penetrar em seu pescoço. A presa estava morta.



Antropomorfina

Uma palavra hermética
A comicidade onde vivo...
De repente, num deslize,
O minotauro me pisca de soslaio.


sábado, 9 de março de 2013

Necessidade e preguiça

A necessidade me levaria a escrever
bíblias de tristeza
estantes sobre o amor
livrarias da condição humana

A preguiça me arrebata
E o universo se condensa num verso.


quarta-feira, 6 de março de 2013

Velado

É teu aniversário. E supostamente deveria dizer alguma coisa. Obrigo-me a dizer qualquer coisa, inclusive dizer que não me esqueci dele. Mas sobretudo que tudo que disser será banal, frente a tudo o que poderia ter dito. Dessa forma, como se pudesse velar o silêncio. E como se o silêncio não fosse um gesto absoluto. Eu o entrego. Não o vulgar, mas o apraz silêncio entre o olhar e o horizonte. O silêncio com os pés afundados na areia, e o mar batendo ao tornozelo. Para o teu bem, um silêncio ensolarado de desejo, de palavras por dizer.


sábado, 2 de março de 2013

Sacrifício

por debaixo da saia da ciência
por entre a cerca
a plantação de carros
E a mecânica da natureza
os sons que me asseguram que as coisas existem que me acercam
enquanto que Morre deus
no hecatombe dos eus
que me acercam e me são

sexta-feira, 1 de março de 2013

Santa Sebastiana do Rio de Janeiro

Beira abril
No coração aberto
Sob a sombra
Do mormaço
Tua raça de perfil
E teu balanço incerto
Tua beleza que sobra
O quadril do Brasil.


Epífano

Eu despontei num mar de estrada
As léguas de um infinito e meio
E no domínio completo da simplicidade
Dei por mim nessa cidade
Qual um qualquer que sabe nada
Fiz do pranto um ponto
final.

(em que afinei meu verso pra continuar seguindo)


sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

crônica de três linhas

Aberto. Um portal aberto. Dois senhores de expressões fortes discutem no meio-fio. Um deles coça a barba, o outro apara a sobrancelha. Estão debaixo de uma amendoeira. E ouvem os estalos dos frutos que caem. Um rapaz atravessa de bicicleta. Senil. O futuro é senil.


quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

título

Da cadeia de significados
que sequestraram no pescoço
o signo me deram nome
André'
E o ego
Um gole que virou meu'
Mas era de tudo
Como também o é
Achar que colocaram
Quando ao signo também tomaram
Qual bandeira
Viram retas fronteiras funções
Mas
André' é todo que não sou
E também o contrário
Como escrever com a língua
O grito na ponta do lápis
A sede é a água sendo o eu'

visão noturna

Numa espiral, o teu sexo anal.

E numa manha de manhã, assistir a montanha
refletir a nuvem e a muda nudez que vem
cruzando o corredor
numa mentira de tirar o chapéu
o céu, o seu e o breu
das persianas
oceanas da urca


eu penso nos drones
e sonho com mulheres de burca

eu penso em você
por baixo do véu
e por entre homens-bomba
florescer o amor a primeira vista
de um robô do céu
ou talvez na sombra de um edredon
martirizar a multidão de mim
no som
do seu
breu.











Em perfil

Eu conjuro um olhar que me revele
E no entre-espaço do soslaio
Uma leve brisa me relê
Num verso deste ensaio
No processo de um embalo
Velar um mantra que valha
Feito navalha esmiuçar
Um bisturi pra te abrir
E me encaixar, e me nutrir
Em teu umbigo me prender
Me retroalimentar do teu almoço
E me rever, e me reter
No cisco que te chorar
No pó que te espirrar
No cansaço e no aço de um bocejo
No sal da lágrima
No sol na grama, no pisar
No segredo que espiar
No cigarro que tragar
Eu quero ser
O câncer
E a redenção.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Soneto mutilado

Sinuosas nuvens se insinuam no relâmpago
Os trovões são prantos no atraso do colapso
O ruído vaga triste: da superfície ao âmago
O contemplo nu no movimento do espaço


Os dentes trincam e se arrastam pelo asfalto
A tatuagem se projeta no absurdo deste rastro
Uma salva de vidas na mão espalmada da noite
O presente rubro de ouvir o velho zunido da foice


Na noite de estrelas cadentes
O silvo agudo e indecente
da verdade que não rima.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

esce pe


no teclado sem acento
a senscura senscual
no quadro abstrato
o trasco de tres pascaros num fio eletrico
a corrente passa
no insight de um blunt
sao paulo [e grande
de r's e r's e r's
teus r's e r's e r's
deus r's e r's
premedios
as capsulas vazias dos antideprescivos
capsulas de gelatina
deosco de boi
de pele de boi
gelatina de boi
de oi
capsula antivazia dos depresccivos
exante
ecsanti
sao paulo ~e grande
e[ anti


sábado, 2 de fevereiro de 2013

decantação

você já não sabe até onde ela vai.
se ela não faz parte do seu mundo.
se ela é só inteiro o seu próprio mundo.
se é o mundo ela e o inteiro.
e de repente você não sabe de mais nada.
até que o nada onde ela vai.
é o inteiro do mundo seu.
e o seu é dela um mundo.
que você não sabe.
que é inteiro.
que parte.
e é.


sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

O meio


A holocausa comum

oxigenize-se

De um.



(Até bater a onda do nirvana escovando os dentes)



o

aquiescer
scer aqui
o ê
entre eu
e você


quinta-feira, 31 de janeiro de 2013


M


That night a thorn
Turned right
The storm and light

(A cold wave through)

Devil's horn
A blight knife
-The tool
The task-
To turn a screw

A mindless kiss
I do.
The edge of the abyss
I drew

The moon trace
A dressless wife
Let her let
Beyond the blessless sky

a
s
k

Fantasia



Seu rosto solar
O espelho luar
O surdo

A noite a farpa
Em seu propósito
A tempestade e luz

O mar frio
Agulha

E o viscoso pus
O ócio acalma
Os ossos d'alma

Vir

É o ritual
da minha gravidade
Enquanto houver
tempo ruim
nessa cidade

Vale

A carne
O Rio
O carnaval me espera
Vestido de noite
Fantasiado de luto.




quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Zyklon B


Os perversos versos me chegam do inverso,
quando os travesseiros revolvem sonhos do avesso.
Eu durmo coberto por monóxido
Um sono inodoro de ligações não atendidas
De não achar onde é a saída
Neste inferno de boas intenções
O próprio braço que se apoia vacila
E pega impulso na resignação
O desalento na velocidade dos gritos
E a asfixia dos ritos do fogo
O pesadelo diz que estamos vivos
No reflexo fúnebre da sombra
O anúncio de que estaremos mortos.






terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Santa Maria


Santa Maria da Boca do Monte está na boca do mundo. Na boca de repórteres que não param de falar. Na boca de especialistas em segurança que nos lembram que tudo pode ser evitado. Na boca de políticos que nada podiam fazer. Na boca dos que falam que todos morrem todos os dias. Na boca das conversas do elevador. Na boca do consolo vazio de compaixão.





Santa Maria da Boca do Monte está em silêncio. Os corpos estão em silêncio. Os médicos e enfermeiros trabalham em silêncio. Os pais e amigos choram em silêncio. Os sobreviventes lembram em silêncio. Na calada da noite, dormimos com o silêncio preso na garganta. Deus esteve em silêncio. Santa Maria se calou.


Estamos sós. Se não houver humanidade, não haverá nada.



quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Guilhotina

Neste mundo dos iguais, eu transcrevo tuas pernas como a epígrafe da revolução. O pornografismo dos teus joelhos e a abertura articulada das panturrilhas e coxas. Eu poderia sentir com os dedos, o cheiro do perfume-suor. O tornozelo e a fragilidade suspensa da concavidade dos teus pés. Na ribanceira de tuas curvas, eu posso ver um rio, sereno como o predador a espreita da presa. O rio que limpa e afoga. O rio do batismo e do mistério. E no horizonte dos teus seios, a boca túrbida se comprime entre os dentes. A multidão te observa no fundo da escuridão de um piscar de olhos. E no arrebate do teu gozo atômico, eu me sinto o mundo. Eu me torno o pulso do universo. Um soluço de morte. O tempo dérmico. O teu púbis no púlpito da tradição. Gozemos todos, o rei morreu.


sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Jaz o jazz, o jaz jaaz ajjz
ooo, jjaz zjaz azzj o jajz.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

guia para anões sérios





antes que o sossego passe a frente
é preciso tê-las ao bolso
é no calar da noite que salta a música
é no apagar da luz que acende a ideia

abrace o chão para pegar impulso


espere o dia nascer
no rolar da lágrima
e após o sono bater
permita virar a página


o tempo é sempre o presente
e a memória serve pra não se esquecer disso
guarde a inspiração nos pulmões
pire profundamente


descasque
não use filtro solar
pedro bial é um merda

numa noite de frio
entre uma nuvem e outra
sinta o calor da lua
deixe-se então ouvir
zunir a brisa pelo rio


desconfie dos felizes
ultraje os heróis
os tímidos são íntimos dos sentidos da vida


contemple o mar e a neve

lucidez é esclarecer-se de ilusão
a desilusão é um contra-senso

esteja disposto a desaprender
nada é mais poderoso do que
estados de espírito com essa faculdade.




terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Manchete

A conta do banco te conta que, de repente, o céu ficou branco.
O dinheiro vale menos que a guerra civil de mendigos da praça de uma cidadezinha, que não tem nada, senão uma praça e mendigos em guerra civil.
O conto do jornal te conta como se a tua história valesse ser contada.
A glória vale menos que todas as ondas de rádio e a radiação que penetram na tua pele e provocam o câncer prestes a ser percebido pelo radiologista.
A superfície de coral de um paraíso fiscal não engorda tua conta do banco e nem melhora tua história no jornal.
O habitat deve ser preservado e não se sabe o porquê.
Está na capa do jornal
Na conta do banco
No câncer da retina
No exame de rotina