sábado, 24 de dezembro de 2011

O manjedouro

Nas manjedouras desta terra
Nascem cristos disformes
E futuros salvadores

Nas manjedouras desta terra
A virgindade mariana
É um estupro casual

Nas manjedouras desta terra
Os reis magos em seus tronos
Os senhores da guerra

Nas manjedouras desta terra
O gado não tem o que comer
No caminho sem volta, o matadouro.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Auto-retrato em natureza-morta

Entre o ir e vir
A corda bamba
Ante ao que sou
Antes nada
Que em vão.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Amor em prosopopéia

Incomoda-me essa convulsão de ditos
De sorrisos felizes enquadrados
De alegrias matinais

Descompartilho minhas vísceras
E no madrigal da tarde
Cabe o canto dos que não tem voz

Não quero ter razão,
Muito menos ser feliz

Quero afogar o verão
Numa geleira glacial

Quero teus defeitos
Dançando nus num salão em chamas.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Sinai (ou Os leopardos de Kafka)

Um bocejo improvisado
Cala os que dirão "dissimular"

Selam as faces plácidas
Imurmuravelmente ácidas

E se rezam preces para os deuses mortos
Cabe, então, a mim a espera do juízo derradeiro

Onde os pontífices sacerdotes dos meus templos
Guardarão inescrutáveis banalidades
Com certezas e lamentos dos que tem fé

E no fel do último gesto
Dirão que ressucitei
Quando de fato, apodreci.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

(Nominado)

Se existe uma cor pra tua voz
É a dos teus olhos

E se existe um sussuro pro olhar
Desaviso 'calma'

Porque sinto a alma nos dedos
Do teu sopro

Transubstancio este cheiro
Que chamam de flor

Defloro o teu nome em verbetes
Sinestésicos

Ahh....
O teu suspiro é a palavra prima

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

inviolável

Existe um pomo de glória
Sob as banquisas do Ártico

E absolutamente nada ousa interromper sua imanência.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Cemi

Este plateau inabitável de mar
Me faz lembrar de quando
Os ossos dos meus dedos
Se arrastavam por você
E aterrisavam nos teus lábios

O pôr dos seios
A saudade é ter-te em parte
Semiter-te
Intacta
Por trás
dos beijos
de outros olhos que não são seus.

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Rotina

Às terças há uma tendência a morte prematura

Mas a prematuridade é apenas um reflexo do espanto,
Afinal a morte, como todo evento necessário,
Não poderia ser antes ou depois.

E nessa contingência urinária
Eu alivio as possibilidades
Na eventualidade de todo santo dia.

domingo, 27 de novembro de 2011

Os filhos de Loki

No aprumo do céu
Resta a espera

As cidades se alastram
Como estandarte da resistência
ao Acaso

Enquanto não concebermos o céu
A paciência é a última diligência.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Ensai[a]r

A primavera arde
E no mausoléu da córnea
A lembrança vitelina
Ensaia fetal seu nascimento

E eis que de aborto
A saudade inaugura
O presente absorto de te
Rever num acidente casual

A causalidade fatal
De que tudo pode acontecer
inclusive absolutamente
nada.

De repente, o sucesso
Se torna uma salva de fracassos
E o que será
Se foi.

[As cortinas se fecham ao teatro vazio]

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Quase e eu (conjectura)

Devo me virar em direção as pessoas
Vestir-me suas calças
Enjaular-me em seus corpos

Ter-los em mim
Seus sonhos
De modo que todos eventos impossíveis
Se tornem movimentos concretos

Todos discursos não proferidos
Todos gestos não praticados
Todos os medos não revelados
Fossem concebidos

E todas as possibilidades
Germinassem espontâneas
Feito idéias não pensadas
Por pessoas não nascidas
Frutos de amores nunca declarados.

O que me faz ver a beleza do mundo
São justamente seus nódulos de nada.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Os olhos de gude

Quando
Teus olhos de gude
Caberem em minha mão

Já não seremos
Imunes
Um ao outro

Julgarão-nos
Criminosos
Impunes

Doentes auto-imunes
da gnose virtual
De sermos um

E o que nos une
Será a fenda
que nos corta

No lapso insône
do tédio
Do parapeito
do prédio

serei eu
olhando-me
a paisagem
à par a plenitude
dos teus olhos de gude.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Transposição

Obliquo e inócuo
Um castelo de anagramas
E o calabouço da boca

Eu vejo a metáfora por uma fresta,

E salvo a humanidade.

domingo, 23 de outubro de 2011

O arco (Id e o Rama)

A gala que sustenta nos lábios
É o gesto que suspende o meu ser

Cai-me uma vontade de voltar
A despir o teu corpo d'alma

Liquidificar o movimento do tempo
Dissolvendo o amargo em amor
E induzir-te ao erro no desvio do flerte

Eu miro minha flecha ao sol
E o céu responde em cirros
O dorso monumental do mar

É elemental que sinta
Essa saudade saudita
Viva no interím do presente com o passado
No útero eterno do ponteiro
(Sita)
Que me constrói de memória e afeto.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

O fim da história

Só não terceirizaram a angústia.

domingo, 9 de outubro de 2011

Mulher,

A linha de baixo é o perfume que traça o seu semblante.

E o teu sorriso é espontâneo e o coração murmura uma aflição contida.

Sua maior virtude é ser a baluarte do mundo - a beleza que vive fora de mim.


Queria poder envolver tua impotência.
Amenizando o frio do espaço.
Beijar teus olhos com os dedos.
Esconder-me em tua nuca.


Mas possuir-te é um desejo póstumo.
Quero dissolver minha carne no universo para ser também parte de você.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Implosão

(Explodir a derme
E o músculos
Vaporizar o ossos)

Eu não sou eu mesmo
Eu sou o meio daquilo que realmente sou

O que sou realmente é intangível

E essa última fração indivisível de mim
É a centelha que desmorona meu corpo

Deixando um legado torpe
Neste universo feito de escombros

Implodo-me

Difundindo-me no Fluxo
Engolido pela memória
De um deus que não pensa
Mas corre para todos lados
Sobre todas as sombras.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Alcatéia

Vamos abrir espaço. Abram-se as alas! Para trás! Para trás!!

Entre
O azul - o cinza que se finge de céu -
Eu, que me esfinjo que sou
que finge que seu.

Limpado o terreno, tenho o lugar para fundar meu palácio
Com a pedra angular do fracasso
E o aço das montanhas-russas

D'os olhos ruivos,
Minha Lua nova, que sempre morena
E o uivo do lobo - lobotomia

Que tudo rui... que tudo ruiva.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

O sábio e os néscios

A virtude de ler o próprio tempo. O carácter do sábio. Que vive sóbrio nos sobrados oblíquos do morro. Feito um monge que sustenta sua ascese além do barulho dos carros. Além da urbe dos analfabetos da época. Dos que levam a vida no assobio. Dos sublimes vagabundos, que vivem o tempo, na flor da pele.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

De óbulos nos olhos

Canso.

E este mar que não mata minha sede,
mas descansa meu espírito.

Penso.

E estes olhos que me matam de prazer,
e que dispensam minha sorte.

Durmo.

O azar me contempla,
E eu o contemplo de volta.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

O óbito

Uma tragédia.
Morrera tropeçando na escada helicoidal do próprio DNA.
Deixando de herança ao primogênito um acidente surpresa aos quarenta,
E a filha mais nova, a afinidade por drogas e uma coletânea de esquizofrenias.

sábado, 10 de setembro de 2011

Holo-

No princípio era o precipício
Preciso
Em sua totalidade

Abriu-se, então, um precedente

E numa cadeia infinita de acidentes

A essência do que era
Permaneceu indômita.

Porque se todo tempo é presente,
A memória é a força motriz do que são
_____________as coisas

O precipício se fragmentou
Nos infinitos pedaços fantásticos
Que somos.

Eu sou a voz do precipício
E tu, os ouvidos.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Paralaxe (ou Os Foguetes de Artíficio)

No lusco-fusco,
olhares desavisados ao céu
minguam como a lua.

A angústia do novo século que nasce
Brota da finitude da Terra
E o salto intransponível do éter que a envolve.

Na mesma altura da aurora que miro,
a utopia perturba trêmula como a miragem
horizontesca de um deserto.
Movo-me.

Mas para onde ir,
quando ao nadir
o horizonte é apenas o Passado incalculável
dos anos-luz de nossos ancestrais?

terça-feira, 30 de agosto de 2011

post nubila Phoebus

E lamberemos então a dúvida.

Feito vira-latas que matam a sede de um dia quente
na poça de um dilúvio que passou.


domingo, 21 de agosto de 2011

Crônico

Uma história deve ser sobretudo breve
Como o imediato frio na barriga
Antes de tornar-se um refluxo no estômago

Breve como um flerte
Um soslaio inquebrável
A pedra filosofal do Encontro

Uma história deve ser sobretudo breve
Uma crônica,
Acrônica.

Sobretudo
Menor que um poema que já foi longe demais

As histórias longas, caríssimo leitor..
sempre terminam em morte.

domingo, 14 de agosto de 2011

Alice

Ela escovava os dentes como que limpando sua natureza.
Olhava o espelho e cuspia.
O reflexo é sempre uma distorção
Mas no fim do intestino, somos todos iguais.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Prosa incompleta

Na prosa presa
As palavras seguidas de ponto

Como se os pontos selassem as idéias
A prova de balas

O que são os fatos
Sem a foto que se tira?

O que são os fetos
Sem o ventre que se pare?

Nos ledos enganos,
Eu leio o que vivo.

Afinal, de labaredas e cinzas
Se fazem as grandes bibliotecas.

As coisas são per se
Sem o fio do senso, ou a linha do tempo;

E per se
Persisto.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

caninos definitivos

seremos sempre o último resquício de coléra por debaixo dos escombros da obediência.




e imolaremos a humanidade, no fio da navalha.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Revés


Ao causo de um esbarro por aí

Feito de matéria-prima do mundo,


Venho por meio deste esclarecer:


Como o calar se torna grito;


Como desperto minha ascendência

Feito último efeito da causa primeira;


Como quando me disseram que as ilhas não flutuavam,

E toda liberdade naufragou em solidão.


(...)


num encontro fortuito

saiba que não sou senão as palavras virtuais esquecidas

nas paranóias ordinárias do mundo.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

domingo, 3 de julho de 2011

King Kong

Havemos de falar das coisas como são:
Um corpo sempre silva antes do encontro com o chão.
o atrito com o ar é o magnum opus do Desespero..


enquanto todo domingo é Cinza

A Arte é pouco,

o último vínculo com a vida, - chamam por aí - destruição.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Meterologia

Quero apalpar teu erotismo úmido
Circunscrever tuas curvas com o cenho
Desfacelar de amor até o regenerar das pétalas
Até que tudo acalente no inverno
E refresque ao sol
Todas mulheres numa só
Incompleta como o tempo
Temporal como o céu
Teu gosto de chuva.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Ícaro - pt.2 - método

- Não se prova a realidade por hipóteses e teorias.

A vida se prova com a língua.

(Em contraprova:
a prova de amor é o seu atestado de morte.)

domingo, 22 de maio de 2011

Un bouquet par un boquete

Farfalho as flores no teu dorso,
felina.

Ao fogo as favas da tradição:

Fecho éclair:

Meu falo em tua fala.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Ícaro - pt1. - revolução

Foda-se a guerra
O homem morre dentro de si

Foda-se a poesia
A palavra vive dentro da língua

Foda-se o amor
O amor é a revolução de dentro dos olhos

terça-feira, 26 de abril de 2011

der Traum

Feito filme mudo
O toque incólume
Dos dentes sobre os lábios
Friccionantes
Um café expressionista
Pra gente rastejar de saudade.

domingo, 17 de abril de 2011

Transição

Na desconstrução civil dos teus ossos

O pesadelo leve de uma brisa de verão

Que anuncia a putrefação das flores

E a gravidade abismal do outono ...


- A estação da morte,

transa e transparência.

sábado, 16 de abril de 2011

iluso



Antes o fado que a fada.
Antes o fardo que a farda.

sábado, 9 de abril de 2011

lobotoscópio:

Na raíz do cérebro
Entre os vincos da córtex

A alma pulsa

A alma pulsa.

domingo, 3 de abril de 2011

Paisagem

No meio de todas constelações
Do sublime vazio das relações

No meio das auroras boreais
Da anatomia dos belos animais

No meio dos extremos da vida
Nas esquinas das ruas sem saída

No meio do zero e dos bilhões
Entre a solitude e os foliões

No meio de tudo isso
Obrigado por ter me percebido

Obrigado por ter fugido
Como todas as coisas as quais
Permaneço difuso

Como em você
Como você e todo o resto
Em todas as coisas.

sábado, 2 de abril de 2011

,>



b asquiático.

terça-feira, 29 de março de 2011

involtável

não me durmo
Um relento moribundo
pra viver-me
somente sendo
Um iconoclasta da saudade

vivo-me inconsciente tua imagem

.a.coincidência.incipiente.

apócrifa
relegante ao pó
sem vestígio ou grafia

um fóssil insólito
subjético

Nas sonâmbulâncias dessas noites

minha sirene, teus olhos invisíveis

como foram na insípida inconsequência de conjurar o fim no primeiro e -não menos derradeiro- beijo. ladeira

abaixo

ainda me lembro sarjeticamente, que me deixei ali
sem nunca poder voltar a me encontrar.

domingo, 13 de março de 2011

Pubescência (para Paula)

Permutaria cada palavra publicada
Pela prova a providência de teu púbis.

sábado, 12 de março de 2011

O soco (em câmera lenta.)

O presente vem rente
Ao pass(ad)o
Que não há nada tão ruim que não piore
E o pior de tudo é uma impressão impressionante
Ao peito
Feito um primeiro-socorro
Feito último

Já morre todo em teu amor obsoleto
Tua pele e teu dinheiro valem nada
Teu coração é músculo.

(A alma é uma extensão incognoscível do corpo. E na transação fáustica, tenho toda noção que cada certeza é uma impressão. Há de se vender a própria alma ao corpo, como que sabendo a função das coisas. A língua está pra ser engolida, como os olhos pra serem fechados.. e assim por diante. A tanatofobia é um diagnóstico dos que não sabem que a vida não é feita de opostos. As dicotomias são os extremos, as mentiras que sustentam a Verdade. Viver é se atirar ao abismo de si. A vida é uma queda presa.)

Teu silêncio, vermelho.

quinta-feira, 10 de março de 2011

Idiotossincrasia

Se nada se cria e tudo se copia,
Sou eternamente sósia dos loucos.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Excerto em lágrima

A beleza suprema
Feita fato consumado
Consumiu-se líquida
Na lentura do retrato

A plenitude flutuante
estratosférica,
Um fragmento
Em estado natural

Na quina d'alma
A borda dos olhos

A moldura que fomos
Escorrida pelo breu.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Virtuócio

Vesti-me de cliché
Um coração vermelho caricaterístico
Arítmico porém feito um bebê pianista

Um beijo também
Concrético
Zer ou nao zer?

Aperto de mão,
)mão nas costas e uma cheirada de cabelo)
um tchau-tchau
Aosdeuses que calharem de nos trazer de volta

Na revolta que há de descer a mão
Vagorosa, e o cheiro Á de zer o do corpo nu

Novo como as córneas,
E na cabeça.. a labirintite de você

Por isso meus cabelos crescem
Preu um dia perdê-los todos

minha apatia reumática
e o soro hepático da cachaça

sou um outlaw da única lei:

g
r
a
v
i
d
a
d
e
.
.
.
.
________________E
__________________________toDos
_____________O_____________-__C
_________Ô___________________A
eu_____V_______________________E
_______________________-______M
______________________________.
______________________________.
______________________________.
sem precisar de asas.. o azar me basta.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Quanto?

Todo amor é quântico.

sábado, 12 de fevereiro de 2011

O rei do mundo

HÁ! Na panacéia da noite
Os vassalos da pergunta
Não podem saber de nada
Como não sabem de fato
E a lua, cristal do meu salão
Gargalha seu sorriso cínico
A mulher só se lança aos olhos dispostos à ela
E se o meio-fio é o meu trono
O mundo é o meu reino
Condeno toda plebe à forca da liberdade
Queimem o silêncio em praça pública!


Decreto estado de sítio
Até que toda desordem seja retomada!

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Justo

O bem e o mal ausculta um a um.
Nos perturbados, o juiz, só.
Nos melancólicos, a sentença da culpa.
Nos idiotas, a absolvição.
Nos satisfeitos, apenas a obediência do júri.
Mas somente nos loucos, todos correm alforriados.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Cármico

Permaneço invólucro
Amniótico e estático
Idolatrando a dúvida
Na cor da tua voz

Te amo, ainda e até quando
Houver teu vulto no escuro
Do meu fechar de olhos

Um breu carmim
Feito teus lábios derradeiros

Ou o cáspio de tuas asas,
Borboleta.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Efêmeras fêmeas

E no alto de suas baixezas mora toda filosofia. A melodia do bordel, o limbo do luxo com o lixo. As divisas humanas de olhos pintados. A lágrima cruel e todo torpor do desatino. O ópio e os quadriz. Cada junta, uma vida de mil vidas. E todas elas me beijam com a vileza da saudade. Beijam-me túmidas. Da sarjeta o vislumbre do sol que nasce. Não tenho um tostão, só o zênite da noite e o amor das prostitutas - minhas blasfêmeas sagradas.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Lexia

a palavra é voluntária como o vômito
e dentro da minha bulimia linguística
forço deliberadamente cada idéia da garganta

Já me olho no espelho sem me reconhecer
E posso escrever uma bíblia de angústias
que continuarei irreflexível à mim

detrás de cada verbete um enquadro virtual
o eco refrata a língua e cantando com os olhos
só o silêncio é semântico à alma

Mas feita a dor que é o anúncio da morte
eu preciso escrever por um grito de cólera
lançando cada vocábulo gástrico ao que se dispõe

e como um atestado de vida a poesia me eclode
Nasço de minhas vísceras deglutindo meu corpo
condenado a liberdade, órfão da própria pele

e De repente a semântica me volta pela náusea
a cuspo como uma saliva intragável
O mundo gira e meu estômago torce

tudo se baseia nesses humores que correm por mim
como os ouvidos ouvem o anúncio dos pássaros
de que o sol está pra chegar aos olhos insônes

As mãos tremem pela caligrafia
Como a voz balbucia o medo da palavra
o asco me subtrai inerte, o nojo da linguagem

Desespero sem que sobre qualquer vestígio
qualquer resquício de idéia póstuma
numa indigência programada,

Canibalescamente subsisto como se nunca houvesse
sendo o último da minha espécie devoro a língua
Sinto-me sintático nos meus grunhidos

sumo ao mundo como se nunca houvesse
numa crônica anacrônica minha com o tempo
meus gritos primais ecoam em minha cela

Todas as portas se fecham, não há destino
ou passado, velado, túmido em meu próprio corpo
Engulo todas as chaves que levam a saída

refugiado do mundo, apátrida e incomunicável
onomatopéico como uma criança
Um rascunho léxico de minhas guerras intestinas

Meu testamento na língua natimorta que eu criei
é avulso, deixo para o que ainda não morreu de mim
a herança do que se entende pelo gesto

Ahudfhfue02m´fw#mwe&osdnáefnéf~F¨Srfp:6gde
OGMgminfsiewWErwfwTY%$yhN¨67$Ysdve4rg$*5ve
vfeergo´vme´rigérg4[rpomaepomrgmG%W ggwerg

...

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Revolta

Vá para o inferno
Ou vá para o céu

Não importa, vá!

E saiba que toda ida
É a renúncia da volta

A tenacidade do corpo
É a sua própria existência

Proponho um brinde aos mortos
E no estilhaçar dos copos
A ruptura da morte
A volta, revolta, revolução.

A catarata no olho que tudo vê
Um porre da pimenta dos olhos de Deus.

sábado, 29 de janeiro de 2011

Saarar

Desertei-me,
Fazendo de cada parte um grão.

Desconsolei-me,
Queimando ao sol a razão.

Com o solar, broto a sede.
E sedento mostro os dentes
Rastejando e tragando
A areia da ampulheta

Eu bebo o tempo
Insaciável

Todo oásis é uma miragem.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Lustício

Cansado do vislumbre das esquinas
Eu queria ter olhos na nuca
Pra te ver indo embora

E sempre que fecho os olhos
Querendo fugir
Eles se viram pra mim
Como se o espelho perfeito
Fosse a completa escuridão das órbitas

Na contemplação do meu crânio
Por dentro, no reflexo
Eu vejo nossos corpos
Nus como naquelas noites

E na de ontem
Só me faltou autocontrole
Pra não mexer no celular
Como fiz com o vacilo dos teus olhos

Tua dissimulação
Só serviu pra dar razão à cerveja
E descendo ébrio a rua
: Somente o desconcerto -
Quatro olhos no interstício da lua.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Descabimento

As palavras não me cabem, e é por isso que escrevo.

A vida não me cabe, e é por isso que vivo.

Eu amo tudo que não me comporta.

E mesmo tão
miserável,
ridículo,
desprezível,
medíocre,

Eu me comporto. ____________________(pra não dizer que me caibo no Nada)

Mas sou plena desobediência quando digo que te amo.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Corrida ( parte II : o trocador )

Ele segurava a catraca, já no final das contas. Dizia ele que era o preço da mais-valia, e que seu senso de justiça falava mais alto. E quando só cabiam os desconsolados no ônibus, os solitários de alma e de noite, ele ascendia de seu trono e nivelava-se com os súditos tornando-se passageiro de si mesmo. Vislumbrava a fumaça do mundo com o cigarro. Em troca, o mundo e a solitude das madrugadas semamais via ele passando. Mas todo dia valia a pena pela corrida final. A madrugada era o berço de seus sonhos, que nem mesmo a noite mais ofegante de um verão carioca, ou a mais emperrada das janelas, conseguia apagar. E então, ele apagava em lástima o cigarro no ponto final. Ironicamente tinha que pegar um ônibus pra ir pra casa.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Fidelidade

- Minha mulher está disposta a dividir-me contigo. Minha amada já nos guarda um lugar especial pra ficarmos. Então, o que me diz?! Proponho um ménage à trois.... eu, você e a Noite.

domingo, 16 de janeiro de 2011

A boca elipse

Encontrei-me nos teus lábios labirínticos
Suave como um gole no calabouço da tua boca
E nas linhas do entorno, um equilibrista
Medindo o meio-fio na tangência do teu dorso

Na fricção do meu corpo a promessa de sangue
Com o cheiro da noite e o aviso da chuva
Hei de limpar minhas sombras com as gotas
Dividindo a Lua, no transe de te tocar o sexo.

Tua boca cartesiana desvela meu cerne em vertigem. Ver-te nua na cama é saber de onde vieram os números. O mundo pode morrer sob água ou fogo. Cada movimento em você centelha um despertar no sono dos deuses. Você é a última revelação. Eu te toco como que criando uma catástrofe no mundo. Cataclisma é te lamber os lábios e deslizar em teus seios brancos. O meteoro final, e o afogar dos mares. A erupção derradeira. O mundo morre em teu suspiro.

sábado, 15 de janeiro de 2011

O novo ano e o Rei do Castelo de Cartas

O ano passou como um artifício
As poesias se tornaram luzes
Tão esplêndidas quanto efêmeras
E no simular do branco
A noite se cansou do tempo
O recomeço se fingiu de morte
E no meio da pantomima celeste
A felicidade é um escárnio de solidão

...

O ano passou rasante
Feito uma ave de rapina
E a saudade foi caçada impiedosa
Pelo conluio dos olhos
E no manifesto da boca
Outra mulher nasce serena
No oceano torpe do que se sente

Mas permaneço déspota de meu castelo de cartas
Como sempre fui
Meu reino continua maior que o mundo
Como sempre foi
E tudo queima e arde nele
Como sempre há de ser.

Meus súditos em reverência
As vagas singelas que abrandam o fogo
Tenazes como os dedos
E livres, sobretudo livres.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Enforque-se

À deriva, à deriva
O que me sobra é saber de minha vocação
A de provocar o mundo
Estando a deriva de mim mesmo
No refluxo sem fim
De vomitar verbos imponderáveis
Sobre ouvidos satisfeitos

{No interregno do silêncio
A gargalhada do louco
O grito psicótico da insanidade}

Quando não lhes restam o que tampar às orelhas
Silenciam-se os insanos
Mesmo os que tentam se romper
De suas próprias gargantas

Os silenciadores
À deriva, à deriva
Feito algozes das próprias vozes.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

O menestrel e as meretrizes

Sentinelas um desconcerto fecundo ao tocar-lhes os ossos. Em cada movimento de suas articulações as meretrizes pendiam à um lado. Obliqua no meio das prostitutas, minha poesia as atravessava. Se escrevo agora é porque me foi dado o amor de todas elas. E não há de se escrever sem o amor. Sem o amor e sem a chuva. Tenho a teoria de que toda alquímica do universo é a transubstanciação de qualquer coisa que veio de um substrato de chuva com amor. Calor é verdade, afinal nada se cria sem o fogo. Tal que é outro lugar de onde o amor surge, do atrito. De uma fagulha de olhos, mãos ou sexos, enfim. O ponto é que me apaixonei por elas num desses movimentos. É bem verdade que não durou muito, o que não é condição alguma para a intensidade. Amei-as como se ama uma personagem belamente descrita num livro, amei-as como se ama o lusco-fusco. E não há amor mais verdadeiro que o desse platonismo de amar por um semblante. Esse amor é mais verdadeiro do que os que começam pelas mentiras e convenções sociais, por gestos pensados e repensados. Todavia há de se ouvir os cientistas que dizem que o sol não é amarelo ou laranja, mas branco. E são as impurezas, merdas atmosféricas e gases ordinários ao universo que filtram esse branco, tornando-o nuances e matizes inconcebíveis. Ora não amo as mulheres perfeitas - como já foi percebido (aliás o branco não tem graça alguma)- e é justamente suas imperfeições perfeitamente ensaiadas que me fazem cair sobre seus pés. Eis o que é a beleza senão os olhos de quem vê, e a pele de quem toca, senão o lamber de cada gota de mentira como um vira-lata lambe seu lixo. O suprasumo dos ébrios que a cantam em cada esquina e o apaixonado na hora derradeira. Eis a beleza, a força que move o mundo e os meus quadriz nas meretrizes.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

As ribaltas zunem paralelas a mim
E as estradas notívagas não tem o mantra
De quando te deixava em casa

De quanto tempo?
E me esforço com os nervos contraídos
Só esqueço dos números

Lembro teus joelhos em minhas costelas
E toda a paz rui
No engano de pensar nas costelas do outro

Queria que tu nascesse sempre das minhas
Num pecado ensaiado
Como o anúncio das nossas chuvas sonoplástica

Agora o gato do céu se faz em lua nova
E o que foi, é um derrame no escuro
Mas ainda confio no teu erro

Ainda sei que sei mais de você que você mesmo
E toda essa mentira é um véu
Irascível por trás do escuro, o castanho

Por trás de cada poste
A nova lua que se desfaz de cheia
E vira o sorriso crescente do que há de vir.

sábado, 8 de janeiro de 2011

À bailarina da escuridão

Eu aceno com as mãos espalmadas à frente como que me despedindo do que ainda não encontrei. Vou tateando o ar imerso no escuro. Na cautela de esperar pelo pior, ensaio um descompasso com meu próprio corpo. Meu corpo que não é, senão escuro. Tudo é resumido em som, e na firmeza do chão com os pés trêmulos. O som também não é, é a espera do som, que faz o silêncio se confundir com um zumbido uníssono. E como o vazio pertence a todos os conjuntos, eu sou a interseção do silêncio. Na espera de um corpo, existo sem luz. E sou só regozijo quando te reconheço com os dedos. Espero, não o nascer do sol, mas o raiar de um dia que nada mais é do que a morte da terra. Todo dia a terra morre pra ver o sol, e nada pode ser mais lindo que contemplar sua ressurreição na noite, desabotoando teu vestido como que tua íris, que de tão negra casa com a noite numa promessa sem fim. Para alguns, que ainda não se deram conta do escuro, eu sou louco. Para mim a loucura é só lucidez. Aos que não aprendem a dançar no escuro, na hora derradeira são puro temor. Ironicamente temor e a morte são anagramas de um mesmo léxico. Para mim que rio da vida, meu destino é o passado de minha morte. E no meio tempo te tiro pra dançar. Seremos eternamente estranhos, eternamente apaixonados a primeira vista. O que os olhos não vêem ao coração é só impulso. E segurando teu pulso, o silêncio se torna tua sístole. Sinto-lhe, e isso me basta como a melhor mentira mal contada.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Gat'alaxia

N'abo
Caelipse
Diztrair
Delíneas
N’um
Entreper
Nas

Sedo
Oltar
Apele
Dou-se
N’uslábios
Entrelados
Dium
Séu

Discorpo
Eão

Porentre
Galaxilas
Partos
Idas
Afro
Dit’me
Jorelhas
Alga
Zarra

Am
Berra
Gat'a:
Uns
Poligodes
Nu’s
Monocoitos
Gosa
Chol
Ke

N”quadri:
Mate-me
Ática
Ant
(r)