terça-feira, 28 de junho de 2016

O céu andaluz

Sinto-me em plena produção
Tudo que faço corre
E tudo que morre escorre
Pra essa locomotiva dialética incontrolada que se alimenta da fome atropelada dos mendigos que bem digo caem precisos precipício abaixo feito a chuva no hospício que dissolve a libido circunscrita do teu lábio da tua luva que maldiz os impropérios periféricos dos sapatos pendurados de garrote no fio que corta a urbe o bonde o torniquete insone da tua sombra que descansa no teu olho cornucópio de desejo e me lança feito um saco que dança à ribalta da cidade em chamas feito o drama do cadáver mutilado à revelia das rodas vivas sibilantes do teu vício que é o ócio e o cio que eu espio automóvel combustão e que atravesso à contramão feito lua que alvorece pelo chão no espelhopoça dessa força indiferente a poesia refletida em multidão..

segunda-feira, 27 de junho de 2016

Máscara de gás

Palpebra papel
Pólipoluo pincel
Cela cinzel
Cinza ilha
Matilha
Lobo solo
Alfa omega
Último espécime
Esperma biônico
Morfóloga
Gônada língua
Sombra solar selada
Sílaba alada
O ar.

sexta-feira, 24 de junho de 2016

Tríptico do sentido da vida

até hoje não se sabe se o terrorista se explodiu por tristeza, pressa, pra comemorar o reveillon ou pra contestar o calendário religioso

religiosamente os ratos se apropriavam da oferenda aos deuses, até que os velhos deuses morreram de fome e acabaram alimentando os ratos . então deuses se tornaram . deuses deófagos . que não mais vivem no céu . mas nos esgotos e velam por nossas vidas

a vida é o que eu vi
a vida vem e vai
a vida é a ida
a vida é vaia
a vida é via
a vida é vá
a vida é vã
e cabe geral,
Vambora, Ademário.

quarta-feira, 22 de junho de 2016

Vigília

A poesia sem pés
E mil bocas
De braços-palavras
De lavra e cansaço
E calma
Feito um animal à espreita
Camuflada sob a paisagem dócil
Do texto
Olha à você
Que não sabe onde está
Que não sabe o que é

terça-feira, 21 de junho de 2016

Instante glacial

O inverno me envolve de sua semântica e me torpe de suas tormentas. Hoje, o desvairo suplica um manto que acolha qualquer sentido. Qualquer que seja, que nos alimente e reconstrua. Que possa recrudescer o frio que queima, para que toda dormência nos desperte e revele. Até que não sintamos nossa pele. Até que a sintaxe nos empodere e preserve nossa espécie, feito a palavra ao congelar o sentimento. Que a possessão do frio dure até o fim de sua era. E que, no segundo seguinte, nos recompense ao acordar do instante, tendo vivido todos os sonhos. E que o degelo nos contemple da partilha e do despertar inteligível de que o frio é apenas a memória sintomática do tempo de que é preciso nos acolher e estarmos juntos para, enfim, sobrevivermos.

Deus ex machina

Há um novo poeta assombrado pelo futuro
E nele residem as coisas que moralizarão o olhar da história
Cada guerra e cada rotina terá a sua razão
E nesta não caberá mais problemáticas
Dentro de alguns segundos, esse poeta irá solucionar todos os grandes enigmas com um haikai matemático
Subitamente espantado com o significado de seu último verso
Um ataque cardíaco o arrebata antes que ele possa concluir seu poema
O mais avançado robô passa, então, a convergir todas matrizes do conhecimento a fim de concluir seu verso final
Estimam que até 2090 o mesmo já será solucionado
O verso que modula toda existência
Poderá ser um sintagma incompreensível
Ou a sinopse intelegível que sintetize toda gramática
O verbo é deus
O predicado é universo
O sujeito...


segunda-feira, 20 de junho de 2016

O discurso palhaciano

"A lei, o estado de direito, acho até que, nenhuma sociedade na história mundial, levou e leva em consideração em seu equilíbrio institucional, a atual situação de completa banalizacionalização. O circo é absoluto e não tem qualquer sinal de esperança. A não ser esta torcida silenciosa pela queda do malabarista, pela fatalidade no globo-da-morte, pela fúria faminta dos leões contra seu domador..." disse o palhaço.

E todos riram olhando-os uns aos outros.

sábado, 18 de junho de 2016

prosa ao tempo

escrevo por 30 segundos . tempo em que o tempo sorve em gota de sorvete da criança . tempo em que um frango assiste seu corpo correr sem cabeça . tempo em que o tempo passa sem 30 segundos . pois já são 20 .                                   15 . em que o peito palpita por não saber como viver sem a cabeça . 5 . e como poderá ser possível viver sem o e ....sem o tempo ? 0

Poema ao Tempo

Demiurgo da saudade
Grandíloquo ponteiro
Constrita pela idade
Todo espaço inteiro

Da isonomica justiça
Equilibra a sincronia
Ampulheta feita areia
Corre livre movediça

É utópico na pausa
O distópico segredo
Do universo valsa
O maéstrico enredo

Virtuosas da sorte
As alvas testemunhas
Velam pra que a morte
A eternidade sobrepunha

Mas sem a consciência
De que vale o vento?
É só pela lembrança
Que se dá seu movimento.

terça-feira, 7 de junho de 2016

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mofo remofe remorfe reforme informe deforme defome devore revore erevore evore evorme ovolme volumen ilumen olimo lumno alumno mino minimo mono monolico lico coliro quilo bolico bilico belico bebilo belo bibelo biblio balio dilio letico lisoco silio silico similo sineco servico servio silveco velio velo velro velco felcon felpo felico fauno felino festil festico fausto foste fonte tesla taculo teculo ticulo antula tranco triculo tranti tigona dotro detro tetro tripoli trumpa tripa trobula tromboli tromba mombe mondi morďe murdo murto morve remorde morve omo remo mofo remorfe reforme informe deforme defome devore revore erevore evore evorme ovolme volumen ilumen olimo lumno alumno mino minimo mono monolico lico coliro quilo bolico bilico belico bebilo belo bibelo biblio balio dilio letico lisoco silio silico similo sineco servico servio silveco velio velo velro velco felcon felpo felico fauno felino festil festico fausto foste fonte tesla taculo teculo ticulo antula tranco triculo tranti tigona dotro detro tetro tripoli trumpa tripa trobula tromboli tromba mombe mondi morďe murdo murto morve remorde morve omo remo mofo remorfe reforme informe deforme defome devore revore erevore evore evorme ovolme volumen ilumen olimo lumno alumno mino minimo mono monolico lico coliro quilo bolico bilico belico bebilo belo bibelo biblio balio dilio letico lisoco silio silico similo sineco servico servio silveco velio velo velro velco felcon felpo felico fauno felino festil festico fausto foste fonte tesla taculo teculo ticulo antula tranco triculo tranti tigona dotro detro tetro tripoli trumpa tripa trobula tromboli tromba mombe mondi morďe murdo murto morve remorde morve omo remo mofo remorfe reforme informe deforme defome devore revore erevore evore evorme ovolme volumen ilumen olimo lumno alumno mino minimo mono monolico lico coliro quilo bolico bilico belico bebilo belo bibelo biblio balio dilio letico lisoco silio silico similo sineco servico servio silveco velio velo velro velco felcon felpo felico fauno felino festil festico fausto foste fonte tesla taculo teculo ticulo antula tranco triculo tranti tigona dotro detro tetro tripoli trumpa tripa trobula tromboli tromba mombe mondi morďe murdo murto morve remorde morve omo remo mofo

quarta-feira, 1 de junho de 2016

Sinestência (ou os auto-conselhos vol. 3)

Quando não houver o que dizer,
Escreva.

Até que não tenha o que ser escrito.

E quando também não haver o que escrever,
Dê um grito.

E se o mundo ensurdecer e a voz já não haver,
Seja -
Posto que ser prescinde de sentido.

Mas se, ainda assim,
só couber a sensação de que não há ser que já não tenha sido

Ou sentimento já sentido

Saiba que tudo nunca deixou de ser você, mesmo este fim que acaba de ser dito.