quarta-feira, 30 de abril de 2014

Bocejo

Neste domicílio
Sem sono sem brilho
Um filho
Em forma de rima
Em forma de sina
Mimética mínima
Da falta de sono
Da falta de clima.


terça-feira, 22 de abril de 2014

posfácio

pois amar é o último delírio medido em palavras
quando do "te amo" houver saída
estaremos todos perdidos.


sê os olhos de quem vê,
a não ser que
há não-ser
nos olhos de quem vê.
ou mesmo que
haja um quê,
sê os olhos de quem vê.
sem saber
sem porquê
sê os olhos de quem vê.


segunda-feira, 21 de abril de 2014

herói

estou no sub
da urbe
à 10.000 km/h
viajando de
trem-bala perdida
pelas veias
desta cidade fodida.


domingo, 20 de abril de 2014

esque cimento (ou quando todos os sinais estão vermelhos)

você lê ou vê algo absolutamente banal
(subitamente) se dá conta de que talvez possa não esquecer daquilo nunca mais:

o vento passa novamente, e você
[futilmente] não consegue lembrar de mais nada

a não ser diante deste segundo fundamental de reflexão, em que toda a cidade medita.
{simultaneamente} os sinais estão fechados - do cruzamento à avenida.

mas o uivo livre e improvável que rasga a arquitetura deste prédio
destoa do ohm brilhante, que pela chuva fina na ribalta, contempla este concerto imóvel de carros.

o segundo passa, e recordo meu nome.
- um belo nome pra uma rua sem saída.



quinta-feira, 17 de abril de 2014

uni

nosso inimigo está ali
logo atrás daquele muro

e essa guerra que nos envolve
também é a que nos une

nossos amigos estão ali
logo atrás daqueles braços

e esses abraços que nos envolvem
também são os que nos unem

nossos filhos estão ali
logo atrás daquela porta

e essa casa que nos envolve
também é o que nos une

eu estou ali
logo atrás de mim

e esse eu que me envolve
também é o que me une

tudo está ali
logo atrás do que se vê

e aquilo que envolve o tudo
é a própria união revelada de todas as coisas.



quarta-feira, 9 de abril de 2014

cardial



tua alma exposta no varal

e da varanda, o coração pula

na palma que não cabe



e como haveria de caber,
o que não se mede?
e como poderia haver,
o que não se vê?



 vendo o que não se pode,

 medira o mundo com o que havia

a mão espalmada vazia

e todas as direções abertas de sentido.




segunda-feira, 7 de abril de 2014

the feast

themed maze
infinite gaze
a bitter blaze
which phases
the moons

to the deep
to the crust

to the deep
to the crust

infinite gaze
themed maze
the eye of the beholder
beholds a beast
serving its feast

to the deep
to the crust

to the lonely moon
within.



corda bamba

o retrato sintético da espécie
no olhar desta mulher que me vê

a vertigem da palavra não dita
e a coragem dos equilibristas

do último estreito penhasco:
a voz.

e do meio do silêncio total:
você

feita um malabar
suspenso no ar

feita a própria gravidade
caindo em si mesma

.





.