quinta-feira, 6 de dezembro de 2018

Angular

Me encontro equidistante
Entre mim e os outros
Suficienntemente distante
Para me ver como outro
Para talvez não me reconhecer
E me apresentar a mim
Como um estranho
Prestes a se tornar um velho amigo
Como soldados em uma mesma trincheira
Numa guerra que não escolhemos estar.

Me encontro
Entre os achados e os perdidos
Uma gaivota na gaveta.

terça-feira, 4 de dezembro de 2018

Fração

O sol cintila brutal
A destilação dos pedaços
A memória agonizante na forma de luz.

Dos paquidermes aos vermes
Das algas as secóias gigantes
Do futuro, o agora e o antes
Tudo parte e parasita do entulho total.

sexta-feira, 30 de novembro de 2018

Rito

Interpelo a esse deus que nada sente
Ao deus ausente, omnisciente
Aos deus impotente,
Que acorde do transe
E transfigure o espaço.

Rezo a esse deus
Surdo

Desesperadamente

Uma reza em seu nome
Musicada
E danço
A reza
E danço..
E danço..




Lavra

Pedra
Palavra
Lascada

Escada
Palavra
Elevada

Pele
Palavra
Pelada

quarta-feira, 28 de novembro de 2018

{Calculável


Entre a geometria
O desencontro

Duvido
Por todas as somas
Que sou

Um
Como as
Mil versões
Que é um

[(Uma) É
A lógica escatológica
Matemática]

Mas mil
As infinitas temáticas
Do finito}


quinta-feira, 22 de novembro de 2018

Insensa tez

Relevo irrelevante
Desnível nebuloso
Inebriante
Aceso, o inacessível
Caminho

Insenso sereno
Desvaira o nada
E de repente a noite acorda
Com o barulho da chuva

No meio da escuridão
Do torpe e do trovão
Alguém escreve a poesia
Com uma bicicleta

quinta-feira, 4 de outubro de 2018

Dique

O ponto de convergência
É um vacilo da digressão
Exijo sentido na essencia
Hesito na revolução
O mar em toda potência
Ao ralo em toda a vazão

terça-feira, 2 de outubro de 2018

Relapso

Num lapso, relembro aquilo me constitui de mais intenso: as contradições. melhor dizendo: as contraintenções (posto que dizer é uma consequência fraca do desejo).

Vivi irrefreável na tentativa de ser vários ao mesmo tempo. Meu superherói preferido era o Dr. Manhattan. Nem tanto porque ele andava nu sem qualquer pudor ou despudor, ou porque era azul, mas porque ele era capaz de romper a barreira do espaço-tempo a hora que quisesse.

Meu sonho seria brincar com os fatos e ver as consequências improváveis do universo. Ser um cientista que levasse os experimentos para a prática da vida, mas sempre com a chance de poder voltar atrás sem os estragos que a correnteza das fatalidades nos obriga a aceitar.

Eu descobri que posso fazer isso com as palavras. Todos estes textos nada mais são que pequenas portas que se desdobram em caminhos perpendiculares à realidade, que me sentencia por sua vez, a ser apenas um (,no infinito momento do agora). Mas as palavras são também migalhas que me levam a porta de entrada, ou que te convidam a me encontrar neste labirinto sem saída..



sábado, 29 de setembro de 2018

Atlântico

Ciclotímico ritmo
A esteira gradeada de arames farpados
Conto coelhos felpudos
Se reproduzindo em toda dimensão de lugares
Parece que ainda estamos em maio
Um maio interminável
Um maio na forma de mar
E aguardo na areia a sua vinda desatenta
Inundando toda a humanidade
E seus planos de poder.

quinta-feira, 6 de setembro de 2018

Horóscopo quase cheio

A realeza do real tem seus dias contados.
Uma infantaria de fatos lentamente esmagada
Pelo rolo compressor de uma única ideia..
Tudo que é sólido não é o bastante para não deixar de virar pó.
Ventiladores apontados para o espaço
A brisa é boa à 0 Kelvin.



quarta-feira, 8 de agosto de 2018

Robob mauley

Robôs me visitam
Como.o o desejo
Is this love is this love
That I'm feeling.

quarta-feira, 25 de julho de 2018

Segunda carta a LFF

Transo os fios do seu cabelo que caiu
E tento bordar um casaco dos afetos de você
As mangas cheias da força da mulher que me apresentou o amor como a natureza mais óbvia
A gola da sua voz e seu sotaque, que eu levarei sempre em meus ouvidos
O colo repleto de um carinho inesgotável que se difunde e tranborda
Tua vaidade ainda brilha resistindo a brutalidade do tempo
Corro a minha infância nas veias das suas mãos limpas de unhas perfeitas e dedos com as marcas do seu jeito particular de cortar cebolas
As mesmas mãos que me enxugaram o choro e me trocaram as fraldas
Nos dedos, um lápis colore a cor do branco
Para se acalmar ou fazer o tempo correr em sintonia
Seu amor emana de nossos poros e não pode haver herança mais rica e ao mesmo tempo mais harmônica com a vida
Meu obrigado não faz sentido sendo que sou parte integrante de você
Minha existência é uma gratidão por si só
Um beijo na forma do seu jeito especial de dizer "amôre".



quarta-feira, 11 de julho de 2018

Média

Tristeza
Lunar
Inocente

Alegria
Solar
Indecente

Café
Com
Leite

Cai bem 
No frio
Do espaço sideral.

terça-feira, 10 de julho de 2018

Entrecômodos

O cheiro de detergente nas mãos molhadas
Entre nós, um lago
De espuma

terça-feira, 17 de abril de 2018

O fundo

O fundo é todo escuro,
No escuro é tudo fundo
E tudo é fruto, no fundo.

Escuro fecundo de tudo -
Nado com ele e me curo
Do imenso raso do mundo.

Do lodo, contudo, refundo
Imerso no mar profundo
Todo o sublime imundo.

E faço pontes dos muros
E murmuro os marulhos
Do dilúvio do mundo.

O puro escuro é azul.


sábado, 14 de abril de 2018

Louve alva
Aurora
Luze

Sede
Seio
Se lambuze

Brote
Induze
Introduze

Goze
O gozo
Reproduze

Transe
O transe
Reconduze




quinta-feira, 12 de abril de 2018

Metadata

No diálogo com o fosso descobrimos o silêncio entre os espaços. E caminhamos com mil pernas em direção ao trabalho. Somos vigiados pela lógica - ela que boa e velha nunca entenderá o fosso e sua multidão de silêncio. E prosseguimos na procissão dos nossos sonhos. Novos sonhos que brotam como moscas na carne fresca do nascer da noite.

domingo, 8 de abril de 2018

Carta garrafa

Órbita mórbida
Da qual gravito
Satélite insólito
Linha lânguida
Mar de detritos
Atrito constrito
Farofa de pedra
Controle remoto
Selva infinito


terça-feira, 27 de março de 2018

Poema deformado

Surjo
Sujo
Ao relento

Desatento
Ao desatino

Eu tento
Exercito
o constante

Faço do quase
Um dever indevido
Vacilante

Sou devoto
Do conflito
E confundo

O raso
Com profundo

Comprovo
O cedo
Com o atraso

E refaço
O todo
Dos pedaços

E atropelo
O tropeço
Numa dança

E quando
Me canso

Repouso
Na forma
Da queda

Eu pauso
E reformo
A revolução

E deformo
O defeito
Em perfeito

Preservo
Sem reservas
Ou direção

No formol
Da palavra
Eu sirvo

E verso
E sorvo

A vida
Repleta
De falta
Completa

O tudo
Parcial

Ao modo
Do todo
Eu semeio

Seguro
De si
Sou um furo

Na roda
No asfalto
Ou no morro

Renasço

Na forma
De um ponto
Eu destroço

Um final
Decomposto
Em potência

Um início
Deposto
Ao fatal
















quinta-feira, 15 de março de 2018

Blue(s) dot

Coragem
Predicador de mil balas
As veias do dedo que atira
Latejam palavras em sacos pretos
O sangue
Na forma da voz
Diluída em chuva sem fim
Num pedaço quase esquecido da terra
Aquele tecido  consciente do universo
Onde tecem o inexorável
Com a agulha da violência

domingo, 11 de março de 2018

Estrofe atrofica

A cadencia acalmada dos palpites no peito
Vibra postulante o acaso do porvir
O harmonico ritmo dos encontros
Jaz livre como sempre jazz:
Caia no real antes que ele caia em você



quarta-feira, 7 de março de 2018

Água mole

O desastre tem seu manual. E o passo-a-passo de como te destruir da forma mais precisa possível. Comece pelo desejo, passe pelas entranhas e termine pelo fio da navalha. Uma cirurgia do avesso. E quando tudo começar de novo, se prepare. A dor é só o detalhe que te lembra da recorrência. A sempre igual sobremesa, te obrigarão a provar mais uma vez. Em camera lenta, o espanto é uma forma de esquecimento. Eu deixo o pão na geladeira pra apodrescer aos poucos.


sexta-feira, 2 de março de 2018

Turbulento

Céu da cor de camelo
Relâmpagos
Propósitos e destinos
Sonhos em gaiolas de Faraday
Inócuos a sobrevivência da paisagem.

segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

Bolho

Nesta bolha
cabe um olho
Que olha bolhas
 de outros olhos
Que embolam-se
em outras bolhas
Que burbulham
 Sem parar
Eu bolo bolhas
De olhares outros
Bolhas novas de
 olhos bobos
Espumas belas
de velhas bolhas
Liquefeitas e perfeitas
Que infinitas
Cabem em tão singela
 hermética bolha
 que protege
Tenue
 a vasta
amplidão de olhos
E suas tão
imprescindíveis
 Superfícies
bolhas de que viemos
Circunscritos
E vagueiam incertas
Sustentando no vazio
A leveza de ser
prestes a estourar.


sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

Alegal

Entre a reminiscência fascistóide
E a esperança polainodebilóide
O sempre presente perplexo
Que condena toda condenação
E garante o pesar de tudo:
Somos, enfim, apesar da Lei!


quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

Lua

Pela noite
Pernóstica
Vagueia
Acústica
Lua
Despótica
Luz

Pela noite
Ilhada
Pelada
De sombra
Se assanha
De nada
Apenas reflexo
De um lado
Invisível

Lua
Farsante
Estrela
Indescente
Crânio
Brilhante
Relevo
De sombras
Sobra
Branca
Da escuridão

sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

Guardanapo

Escrevo este registro para o fim. Peço que o mostrem a mim no momento em que não mais lembrar de nada. A demência começa a tomar conta e talvez quando colocar os olhos nisto já serei como uma criança que olha o próprio rosto como quem olha o vazio. Peço que se assim estiver, que leia esta carta com uma harmonia que me faça se sentir em casa. E se por acaso não tiver mais a lembrança do prazer do retorno ou que não lembre mais o que seja um lar, que me acaricie com as palavras. Se a semântica não me fizer sentido ou se o som já não me apresentar a melodia, que me toque com toda a impressão que essa carta possa lhe ter. Não se esqueça disso. Se não me sobrar nem mesmo o tato e até mesmo o afago me causar estranheza, me incendeie junto com este texto até que os deuses sintam o cheiro do que já fui um dia.

sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

Traça

Praga
Traça que invade
cada dimensão do agora
Faz doer o abraço
Apodrecer os pedaços
Enferrujar os navios
Corpo-pele do espaço
Somos teus filhos
Você, completa de ausência
Gestante do tempo
Sem idade
Das rugas, segundos e eras,
Oh sempre querida Saudade.


quinta-feira, 4 de janeiro de 2018

Silvo

Sobre a sóbria sobra
Se assoberba a sombra
Se assoma ao sangue
A supurosa sorte
O surdo sopro
A entresala do silêncio
Acena sem saída

O sibilante sim
O incenso seco
O sereno
E o som secreto do sepulcro
Sucumbem todos
A secreta sina
De que somos
Mais
Sensíveis a si
Do que (e somente se) ao ser




segunda-feira, 1 de janeiro de 2018

Movimento

É incrível como o vento
Torna tudo tão aparente