segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

Bolho

Nesta bolha
cabe um olho
Que olha bolhas
 de outros olhos
Que embolam-se
em outras bolhas
Que burbulham
 Sem parar
Eu bolo bolhas
De olhares outros
Bolhas novas de
 olhos bobos
Espumas belas
de velhas bolhas
Liquefeitas e perfeitas
Que infinitas
Cabem em tão singela
 hermética bolha
 que protege
Tenue
 a vasta
amplidão de olhos
E suas tão
imprescindíveis
 Superfícies
bolhas de que viemos
Circunscritos
E vagueiam incertas
Sustentando no vazio
A leveza de ser
prestes a estourar.


sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

Alegal

Entre a reminiscência fascistóide
E a esperança polainodebilóide
O sempre presente perplexo
Que condena toda condenação
E garante o pesar de tudo:
Somos, enfim, apesar da Lei!


quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

Lua

Pela noite
Pernóstica
Vagueia
Acústica
Lua
Despótica
Luz

Pela noite
Ilhada
Pelada
De sombra
Se assanha
De nada
Apenas reflexo
De um lado
Invisível

Lua
Farsante
Estrela
Indescente
Crânio
Brilhante
Relevo
De sombras
Sobra
Branca
Da escuridão

sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

Guardanapo

Escrevo este registro para o fim. Peço que o mostrem a mim no momento em que não mais lembrar de nada. A demência começa a tomar conta e talvez quando colocar os olhos nisto já serei como uma criança que olha o próprio rosto como quem olha o vazio. Peço que se assim estiver, que leia esta carta com uma harmonia que me faça se sentir em casa. E se por acaso não tiver mais a lembrança do prazer do retorno ou que não lembre mais o que seja um lar, que me acaricie com as palavras. Se a semântica não me fizer sentido ou se o som já não me apresentar a melodia, que me toque com toda a impressão que essa carta possa lhe ter. Não se esqueça disso. Se não me sobrar nem mesmo o tato e até mesmo o afago me causar estranheza, me incendeie junto com este texto até que os deuses sintam o cheiro do que já fui um dia.

sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

Traça

Praga
Traça que invade
cada dimensão do agora
Faz doer o abraço
Apodrecer os pedaços
Enferrujar os navios
Corpo-pele do espaço
Somos teus filhos
Você, completa de ausência
Gestante do tempo
Sem idade
Das rugas, segundos e eras,
Oh sempre querida Saudade.


quinta-feira, 4 de janeiro de 2018

Silvo

Sobre a sóbria sobra
Se assoberba a sombra
Se assoma ao sangue
A supurosa sorte
O surdo sopro
A entresala do silêncio
Acena sem saída

O sibilante sim
O incenso seco
O sereno
E o som secreto do sepulcro
Sucumbem todos
A secreta sina
De que somos
Mais
Sensíveis a si
Do que (e somente se) ao ser




segunda-feira, 1 de janeiro de 2018

Movimento

É incrível como o vento
Torna tudo tão aparente