terça-feira, 29 de outubro de 2019

Epifania da fome

Meu presente indicativo
No plural da primeira pessoa
Que atravessa a rua
Pedindo esmolas
Para as almas já perdidas
De tanto jogar o jogo.


quarta-feira, 16 de outubro de 2019

Relato 1

Há 1 mês e meio atrás, eu projetava a dimensão que a paternidade ia ter na minha vida. Já havia sentido o movimento dos meus filhos na ponta dos dedos, visto e descoberto as suas silhuetas em branco e preto e até ouvido seus corações acelerados. Mas a ficha não havia caído.

Quando eles nasceram, a sensação era a da catarse mais pura.. um sentimento total de quem se depara com o indescritível. Nesse último mês, a minha vida se transformou em absoluto. Esse sentimento indefinido da hora que eles gritaram para o mundo já se tornou por alguns momentos o maior dos medos, a quase exaustão, mas sobretudo, a sensação latente e crescente do maior amor do mundo.

Dois seres na função total de se adaptarem a um mundo que não escolheram nascer. Eles, na expressão máxima da vida e da sobrevivência, na sua relação com todos a sua volta e principalmente com a força descomunal da maternidade, vem me ensinando mais do que qualquer livro ou experiência.

Passado o dia dos professores, eu agradeço por essa sabedoria constante que me chega de presente todos os dias através deles e do que eles causam nos outros. Apesar de toda falência cognitiva que nos acostumamos e que nos distancia uns dos outros, a vida é um elo que nos reconecta com o essencial. Nela cabe um mar de ensinamentos maior que tudo.

Sou cada vez mais as partes daquilo que já não posso mais controlar, mas que me são por inteiro. Repletos de afetos, meus filhos que aos poucos se tornam cada vez mais parte do mundo do que minha, me tornam cada vez mais responsável por todo o resto. Agradeço por esse sentimento de partilha mas também de pertencimento.

Obrigado.

quinta-feira, 3 de outubro de 2019

Imanência

O cansaço já se torna a parte fundamental da minha estrutura.
E meus sonhos são tangíveis como a chuva.
Não há futuro.
E também não derivo da eternidade do presente.
Mas sinto a saudade correndo em minhas veias.
Talvez eu seja, essa memória incompleta que vaga, como um corpo que procura o equilíbrio osmótico.
Ou ainda um coletivo singular no sentido da dissolução libertadora ou da reprodução revolucionária dos afetos..
Meus filhos choram de fome.
Nada é mais potente que isso.