sexta-feira, 26 de abril de 2013

presunção banal

Essa voz inconsciente que me lê
As figuras em palavras que compõem
O quadro de coisas que eu sei
Porque saber é só saber explicar
Ou articular com o silêncio
O que o barulho do mundo
Me faz escutar.

Sem querer, a voz me narra
A poesia que a reflete.

A inconsciência consciente de si
É a própria revelação de ser
Um ser de ruído e ouvido.


Barco a Vela , Caravela

Olhem os homens-do-horizonte
Pois vos bendigo o maldizer
No silêncio do curioso olhar
O ritmo eloquente das vagas
Eu fito sua gigante canoa
Que singra no caos do mar
O que será de nossa raça
Quando estes nos ensinarem
Por fim, o que é a tal 'saudade'.


auscultado (estecoscópio)

Emergir da emergência.
Eis o provérbio que me faz.
Eis os teus eus em mim.
O disfarce que te apraz.

Umbilical

Se a inspiração de um livro
durasse o instante
faria uma bíblia que descrevesse o teu umbigo

O precipício do teu corpo
O suicídio do meu corpo
A tua marca
E tua origem
O próprio quadro do meu desejo
O Mar de tua face
O meu refúgio
O verdadeiro fruto
O princípio do teu corpo
O princípio do meu corpo.

Obliquo


Do meu corpo fechado,
A tua silhueta
A tua boceta

Como se pudesse
Mirar com meu cigarro
A tua certeza

Um beijo.


Lambido


Sublima em sua leveza secreta, a destruição.
A engenharia da noite, a beleza se configura.
Num ponto brilhante, a centelha da humanidade.
O balão nos ilumina e inflama de esperança.
E quando pousa em chama, varre barracos e montanhas.
Estrela indescente de beleza e agrura.
O fogo do inferno que nos aproxima do céu.
Consumir-se na própria pira, o inalcansável horizonte.
Desistir no pouso do acaso, o disforme peso do chão.
A festa e o rito da criação, somos todos distantes
De instantes, a forma e o fogo - o balão.


quinta-feira, 18 de abril de 2013

Ponto

Dentro da floresta tropical
O formigueiro anda em linha reta.

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Salvação

Salvem-me de minha inocência.
Salvem-me de minha aldeia sem lei.
Salvem-me do derradeiro juízo final.
Salvem-me da infinita terra que me guarda.
Salvem-me do assalto de meus olhos.
Salvem-me do meu canibalismo.
Salvem-me da caça.
Salvem-me de minha própria salvação.
Salvem-me da saliva que sorve de raiva.
Salvem-me da cólera dos teus deuses.
Salvem-me, homens do horizonte,
Desta língua podre que já me lambeu a alma.


sábado, 6 de abril de 2013

Serpente

Eu sonhei com um engarrafamento de proporções colossais. Um engarrafamento em que os tanques de gasolina se esgotavam antes do próximo posto. Sequer haviam postos de gasolina por perto, pois nada pode estar perto da inércia absoluta de um engarrafamento daquelas proporções. Os ambulantes oportunistas eram todos  milionários. Não restava mais nada a não ser o indulgente medo de sair do carro. Ao longo da serpente prateada de automóveis imóveis, um só organismo paralítico, que retroalimentava sua própria condição. Um engarrafamento sem porquê, com todas as razões que levaram-no a existir, o fluxo total em um único sentido em uma única direção. Acordei aliviado na profusão de uma calçada fria, os carros buzinam e minhas muletas são onipotentes.
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