sábado, 29 de janeiro de 2011

Saarar

Desertei-me,
Fazendo de cada parte um grão.

Desconsolei-me,
Queimando ao sol a razão.

Com o solar, broto a sede.
E sedento mostro os dentes
Rastejando e tragando
A areia da ampulheta

Eu bebo o tempo
Insaciável

Todo oásis é uma miragem.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Lustício

Cansado do vislumbre das esquinas
Eu queria ter olhos na nuca
Pra te ver indo embora

E sempre que fecho os olhos
Querendo fugir
Eles se viram pra mim
Como se o espelho perfeito
Fosse a completa escuridão das órbitas

Na contemplação do meu crânio
Por dentro, no reflexo
Eu vejo nossos corpos
Nus como naquelas noites

E na de ontem
Só me faltou autocontrole
Pra não mexer no celular
Como fiz com o vacilo dos teus olhos

Tua dissimulação
Só serviu pra dar razão à cerveja
E descendo ébrio a rua
: Somente o desconcerto -
Quatro olhos no interstício da lua.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Descabimento

As palavras não me cabem, e é por isso que escrevo.

A vida não me cabe, e é por isso que vivo.

Eu amo tudo que não me comporta.

E mesmo tão
miserável,
ridículo,
desprezível,
medíocre,

Eu me comporto. ____________________(pra não dizer que me caibo no Nada)

Mas sou plena desobediência quando digo que te amo.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Corrida ( parte II : o trocador )

Ele segurava a catraca, já no final das contas. Dizia ele que era o preço da mais-valia, e que seu senso de justiça falava mais alto. E quando só cabiam os desconsolados no ônibus, os solitários de alma e de noite, ele ascendia de seu trono e nivelava-se com os súditos tornando-se passageiro de si mesmo. Vislumbrava a fumaça do mundo com o cigarro. Em troca, o mundo e a solitude das madrugadas semamais via ele passando. Mas todo dia valia a pena pela corrida final. A madrugada era o berço de seus sonhos, que nem mesmo a noite mais ofegante de um verão carioca, ou a mais emperrada das janelas, conseguia apagar. E então, ele apagava em lástima o cigarro no ponto final. Ironicamente tinha que pegar um ônibus pra ir pra casa.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Fidelidade

- Minha mulher está disposta a dividir-me contigo. Minha amada já nos guarda um lugar especial pra ficarmos. Então, o que me diz?! Proponho um ménage à trois.... eu, você e a Noite.

domingo, 16 de janeiro de 2011

A boca elipse

Encontrei-me nos teus lábios labirínticos
Suave como um gole no calabouço da tua boca
E nas linhas do entorno, um equilibrista
Medindo o meio-fio na tangência do teu dorso

Na fricção do meu corpo a promessa de sangue
Com o cheiro da noite e o aviso da chuva
Hei de limpar minhas sombras com as gotas
Dividindo a Lua, no transe de te tocar o sexo.

Tua boca cartesiana desvela meu cerne em vertigem. Ver-te nua na cama é saber de onde vieram os números. O mundo pode morrer sob água ou fogo. Cada movimento em você centelha um despertar no sono dos deuses. Você é a última revelação. Eu te toco como que criando uma catástrofe no mundo. Cataclisma é te lamber os lábios e deslizar em teus seios brancos. O meteoro final, e o afogar dos mares. A erupção derradeira. O mundo morre em teu suspiro.

sábado, 15 de janeiro de 2011

O novo ano e o Rei do Castelo de Cartas

O ano passou como um artifício
As poesias se tornaram luzes
Tão esplêndidas quanto efêmeras
E no simular do branco
A noite se cansou do tempo
O recomeço se fingiu de morte
E no meio da pantomima celeste
A felicidade é um escárnio de solidão

...

O ano passou rasante
Feito uma ave de rapina
E a saudade foi caçada impiedosa
Pelo conluio dos olhos
E no manifesto da boca
Outra mulher nasce serena
No oceano torpe do que se sente

Mas permaneço déspota de meu castelo de cartas
Como sempre fui
Meu reino continua maior que o mundo
Como sempre foi
E tudo queima e arde nele
Como sempre há de ser.

Meus súditos em reverência
As vagas singelas que abrandam o fogo
Tenazes como os dedos
E livres, sobretudo livres.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Enforque-se

À deriva, à deriva
O que me sobra é saber de minha vocação
A de provocar o mundo
Estando a deriva de mim mesmo
No refluxo sem fim
De vomitar verbos imponderáveis
Sobre ouvidos satisfeitos

{No interregno do silêncio
A gargalhada do louco
O grito psicótico da insanidade}

Quando não lhes restam o que tampar às orelhas
Silenciam-se os insanos
Mesmo os que tentam se romper
De suas próprias gargantas

Os silenciadores
À deriva, à deriva
Feito algozes das próprias vozes.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

O menestrel e as meretrizes

Sentinelas um desconcerto fecundo ao tocar-lhes os ossos. Em cada movimento de suas articulações as meretrizes pendiam à um lado. Obliqua no meio das prostitutas, minha poesia as atravessava. Se escrevo agora é porque me foi dado o amor de todas elas. E não há de se escrever sem o amor. Sem o amor e sem a chuva. Tenho a teoria de que toda alquímica do universo é a transubstanciação de qualquer coisa que veio de um substrato de chuva com amor. Calor é verdade, afinal nada se cria sem o fogo. Tal que é outro lugar de onde o amor surge, do atrito. De uma fagulha de olhos, mãos ou sexos, enfim. O ponto é que me apaixonei por elas num desses movimentos. É bem verdade que não durou muito, o que não é condição alguma para a intensidade. Amei-as como se ama uma personagem belamente descrita num livro, amei-as como se ama o lusco-fusco. E não há amor mais verdadeiro que o desse platonismo de amar por um semblante. Esse amor é mais verdadeiro do que os que começam pelas mentiras e convenções sociais, por gestos pensados e repensados. Todavia há de se ouvir os cientistas que dizem que o sol não é amarelo ou laranja, mas branco. E são as impurezas, merdas atmosféricas e gases ordinários ao universo que filtram esse branco, tornando-o nuances e matizes inconcebíveis. Ora não amo as mulheres perfeitas - como já foi percebido (aliás o branco não tem graça alguma)- e é justamente suas imperfeições perfeitamente ensaiadas que me fazem cair sobre seus pés. Eis o que é a beleza senão os olhos de quem vê, e a pele de quem toca, senão o lamber de cada gota de mentira como um vira-lata lambe seu lixo. O suprasumo dos ébrios que a cantam em cada esquina e o apaixonado na hora derradeira. Eis a beleza, a força que move o mundo e os meus quadriz nas meretrizes.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

As ribaltas zunem paralelas a mim
E as estradas notívagas não tem o mantra
De quando te deixava em casa

De quanto tempo?
E me esforço com os nervos contraídos
Só esqueço dos números

Lembro teus joelhos em minhas costelas
E toda a paz rui
No engano de pensar nas costelas do outro

Queria que tu nascesse sempre das minhas
Num pecado ensaiado
Como o anúncio das nossas chuvas sonoplástica

Agora o gato do céu se faz em lua nova
E o que foi, é um derrame no escuro
Mas ainda confio no teu erro

Ainda sei que sei mais de você que você mesmo
E toda essa mentira é um véu
Irascível por trás do escuro, o castanho

Por trás de cada poste
A nova lua que se desfaz de cheia
E vira o sorriso crescente do que há de vir.

sábado, 8 de janeiro de 2011

À bailarina da escuridão

Eu aceno com as mãos espalmadas à frente como que me despedindo do que ainda não encontrei. Vou tateando o ar imerso no escuro. Na cautela de esperar pelo pior, ensaio um descompasso com meu próprio corpo. Meu corpo que não é, senão escuro. Tudo é resumido em som, e na firmeza do chão com os pés trêmulos. O som também não é, é a espera do som, que faz o silêncio se confundir com um zumbido uníssono. E como o vazio pertence a todos os conjuntos, eu sou a interseção do silêncio. Na espera de um corpo, existo sem luz. E sou só regozijo quando te reconheço com os dedos. Espero, não o nascer do sol, mas o raiar de um dia que nada mais é do que a morte da terra. Todo dia a terra morre pra ver o sol, e nada pode ser mais lindo que contemplar sua ressurreição na noite, desabotoando teu vestido como que tua íris, que de tão negra casa com a noite numa promessa sem fim. Para alguns, que ainda não se deram conta do escuro, eu sou louco. Para mim a loucura é só lucidez. Aos que não aprendem a dançar no escuro, na hora derradeira são puro temor. Ironicamente temor e a morte são anagramas de um mesmo léxico. Para mim que rio da vida, meu destino é o passado de minha morte. E no meio tempo te tiro pra dançar. Seremos eternamente estranhos, eternamente apaixonados a primeira vista. O que os olhos não vêem ao coração é só impulso. E segurando teu pulso, o silêncio se torna tua sístole. Sinto-lhe, e isso me basta como a melhor mentira mal contada.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Gat'alaxia

N'abo
Caelipse
Diztrair
Delíneas
N’um
Entreper
Nas

Sedo
Oltar
Apele
Dou-se
N’uslábios
Entrelados
Dium
Séu

Discorpo
Eão

Porentre
Galaxilas
Partos
Idas
Afro
Dit’me
Jorelhas
Alga
Zarra

Am
Berra
Gat'a:
Uns
Poligodes
Nu’s
Monocoitos
Gosa
Chol
Ke

N”quadri:
Mate-me
Ática
Ant
(r)