domingo, 30 de março de 2014

Haikai do Acaso

Acaso com você
À primeirav ista
Como cometa que risca


solto

tudo é mais solto
de samba-canção

tudo é mais morto
quando solto

quando soltas
teu corpo
no samba
do Horto

tudo é mais solto
de alma lavada

tudo é mais solto
quando lava
ou quando lama

tudo é mais solto
na cama

tudo é mais solto
quando ando
calmo

e desço pra levar
o carma
pra se aliviar.



"tudo não passa de ser um tudo passando"

inconsciente de nossas classes
fazemos e alimentamos pedaços
com nosso vocabulário comum.

alguma violência se vê
pelo sentinela que não dorme:
o dia continua dia,
a noite continua noite.

mas antes que seja tarde,
perceba que são só as nuvens
que mudam o teu humor.

tudo permanece
à imanência de ser
o que passa.


sexta-feira, 28 de março de 2014

pacto

o pouso de um mosquito
em minha mão
- que não ousa

.

existe uma fragilidade na megalomania
tal qual o cataclismo se disfarça na retina

.

e quando a pele sente
a imóvel presença,
sutilmente decola
o sangue de um coração
- que não pousa





quinta-feira, 27 de março de 2014

Oração aos comuns

Incorre-me o desatino dos heróis
Quando penso dos que morrem em vão
Beatificados pela crendice alheia
Mas que não ousaram ser mais um
Pois os ordinários são maiores
Do que os santos de uma fé cega de faca amolada
O meu pão, é com manteiga.


sábado, 22 de março de 2014

camburão aberto

a palavra guarda o rastro
e o meio da rua arrasta
a multidão de uma mulher
que passa

enquanto assam mulheres na praia
o meio-fio de uma paisagem cortada
cinge a esfinge de um cartão postal

no asfalto à medida do sol,
a estatística infinita da fricção.



sexta-feira, 21 de março de 2014

red light

na engrenagem
irreversível das consequências,
de repente paramos
nos deparando
com o velho sonho estroboscópico
- o letreiro neon oscila:
"AGORA" -
e em cada sucessão
de segundos,
o piscar dos olhos:

cabe sempre a sombra
na intermitência errada,
e o eterno 'agora'
no fundo da consciência
dos que se dão conta;

todos os mortos
movem-se em mim,
aqui,
à toda a hora,
em que prevemos
o futuro com nossos
braços e pernas
,com nossas 
máquinas e setas -

e, assim,
necromanticamente
o presente destila
o destino póstumo
que nos empodera
a fazer tudo o que podemos
entre o breve instante
do despertador que não toca
e o sonho que nos lembra de acordar.



domingo, 9 de março de 2014

the roller stoner

never too late
to roll the stones

never my fate
to fool the bones

rock
and
roll

it's all the matter
all that matters


sexta-feira, 7 de março de 2014

Para ela

Toco-lhe. As léguas de teu fio de cabelo.
Vejo-lhe. De perto.
Da estante de teu lábio.
Leio-lhe.
Alheio de estar-me.
Sinto-lhe.
A vibração da tua voz.
Digo-lhe. Refletido em seus olhos.
Que não há chão em meu quarto.
E travesseiro que te comporte em sonho.
Espero-lhe.
No presente e no afeto de teu sorriso.
Durmo-lhe.
Feito a sombra que aquece-lhe a lua.



quinta-feira, 6 de março de 2014

ser

o homem
seguro
é o desatento
à profusão

o homem
atento
é o inseguro
à profusão

o homem
profusão
é


de leve

o córner
da córnea
o Bornéu
boreal
da alma

e
ato

flor
esta

que salva
a sálvia
saliva
antidota

do sim
docin

que dropo
ma non troppo.






quarta-feira, 5 de março de 2014

Lensóis

Mulher,
Tua carne molhada
Imprime
A curva suave
Que rije
O sorriso das pernas
Dessa outra mulher
Melhor
Vestida de suor
E de beijo
No corpo-acidente
Da língua
Entre o céu incidente
E o ensejo
Entre o seu indecente
Desejo.









Balanço

Covarde, exito.
E tu sabes, com o poder de quem vê sem ser vista,
Que saber sem dizer é o que eu sempre tentei.
Tentei ser a tua qualidade melhor.
A que talvez eu tenha amado à primeira vista quando ainda tinha coragem.
Quando era e não precisava de palavras.
Mas as coisas parecem que morrem quando começamos a escrevê-las
Como que num desejo escondido de que precisamos lembrá-las
Antes que esqueçamos de tudo.
E hoje, parece que envelheci trinta anos.
Ou talvez as coisas ao meu redor tenham envelhecido.
Apesar de tudo, o mundo da janela está melhor.
A primavera raia através da velha porta de madeira.
E nada como deixar um pouco de poeira pra conservar
Porque não há nada bonito que não tenha história.



segunda-feira, 3 de março de 2014

naval

no entreato
o confete mutilado no asfalto
a formação rochosa que assiste
o céu e a engenharia indiferentes
desabando sobre os foliões
...
a paz, a obscura fantasia do caos.

a greve dos garis
nos faz sentir vivos