terça-feira, 29 de novembro de 2011

Rotina

Às terças há uma tendência a morte prematura

Mas a prematuridade é apenas um reflexo do espanto,
Afinal a morte, como todo evento necessário,
Não poderia ser antes ou depois.

E nessa contingência urinária
Eu alivio as possibilidades
Na eventualidade de todo santo dia.

domingo, 27 de novembro de 2011

Os filhos de Loki

No aprumo do céu
Resta a espera

As cidades se alastram
Como estandarte da resistência
ao Acaso

Enquanto não concebermos o céu
A paciência é a última diligência.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Ensai[a]r

A primavera arde
E no mausoléu da córnea
A lembrança vitelina
Ensaia fetal seu nascimento

E eis que de aborto
A saudade inaugura
O presente absorto de te
Rever num acidente casual

A causalidade fatal
De que tudo pode acontecer
inclusive absolutamente
nada.

De repente, o sucesso
Se torna uma salva de fracassos
E o que será
Se foi.

[As cortinas se fecham ao teatro vazio]

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Quase e eu (conjectura)

Devo me virar em direção as pessoas
Vestir-me suas calças
Enjaular-me em seus corpos

Ter-los em mim
Seus sonhos
De modo que todos eventos impossíveis
Se tornem movimentos concretos

Todos discursos não proferidos
Todos gestos não praticados
Todos os medos não revelados
Fossem concebidos

E todas as possibilidades
Germinassem espontâneas
Feito idéias não pensadas
Por pessoas não nascidas
Frutos de amores nunca declarados.

O que me faz ver a beleza do mundo
São justamente seus nódulos de nada.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Os olhos de gude

Quando
Teus olhos de gude
Caberem em minha mão

Já não seremos
Imunes
Um ao outro

Julgarão-nos
Criminosos
Impunes

Doentes auto-imunes
da gnose virtual
De sermos um

E o que nos une
Será a fenda
que nos corta

No lapso insône
do tédio
Do parapeito
do prédio

serei eu
olhando-me
a paisagem
à par a plenitude
dos teus olhos de gude.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Transposição

Obliquo e inócuo
Um castelo de anagramas
E o calabouço da boca

Eu vejo a metáfora por uma fresta,

E salvo a humanidade.