quinta-feira, 25 de outubro de 2012

O coma



O colo
A cama

Deste coma
Ninguém me ouve
Apenas este psicografista que ninguém irá acreditar
Ele não convence, um moleque de vinte e poucos anos,
Com cara de louco..
Quem iria acreditar?

Estou em coma
E antes que me queiram libertar
(Se por ventura acreditarem nesse pseudo-vigarista, é claro)
Saibam que não quero!
Nunca fui tão feliz antes.

Mas me deu uma vontade de ser ouvido
Afinal, sou artista.
(Ou pelo menos achava ser)
E como função de tal, devo me articular.

Fui jornaleiro, jornalista
Engraxate e maconheiro
Malabarista, pintor de puteiro
Mas antes de ocupar a maca,
Hamburgueiro do McDonald's

Estou na vanguarda.
Que eu saiba este é o primeiro poema psicografado.
Começo como o primeiro dadaísta do quase-além,
E sem terreiro.
Preto Velho High Tech
Pomba Gira 2.0

O Espiritismo New Age
E antes que os clássicos ocupem as prateleiras góspeis
Eu vou escarrrar porque sou vanguarda, porra!
Um cuspe ectoplásmico

Não fui diplomata
Nem funcionário público,
Nem assistente de biblioteca.

Nunca li um livro!
E se isso tudo tá escrito certo
É porque o 'psicografólogo' - sei lá o que ele é -
Deve ser um datilógrafo ou no mínimo um cú de ferro playboy

Mas tenho poesia no corpo!
Minha vó é contadora de história
E faço rap desde novo.

Mas não sei se eu morri.

Não sei.

A tristeza é saber que existe o bom, apesar do original
É saber que existe alguma coisa de fora do muro,
De fora da maca, existe o mundo.
De fora do coma,.. a vida de vocês.

E eu ouço, esses aparelhos apitando.
Me acordem, enquanto eu grito!
Escreve rápido, vai

Antes que eu desacorde
Desta mentira de psicografar
A alma de um fodido
Que certamente existe sim
E está em coma agora
Num hospital tão fodido quanto
E nele talvez alguém
Só de sacanagem ou sem saber

Inocule uma vacina
De café com leite
Uma média pra acordar
E começar o dia.

- Bom dia.





Dentro


Dentro do poema
Há um poeta morto
Um eu-lírico preso
E uma poesia livre

Dentro do poema
Há uma flor incolor
Um aroma inodoro
E a prova de amor

Dentro do poema
Há o erro ortográfico
Um verso sem rima
E a melhor intenção

Dentro da poema
Há a palavra,
A estrofe
E o universo.



Se é que há (pagode)

Se é que há
Sol no Japão

Se é que há
Água pra beber

Se é que há
Sede pra matar

Se é que há
Uma mulher qualquer

Se é que há
Você pode crer

Se é que há
No que Deus quiser

Se é que há
Deus na tua fé

Se é que há
Um perdão qualquer

Se é que tá
Pra amanhecer

Se é que há
Nesse duvidar

Se é que há
Chance de você

Se é que há
Ser minha mulher

Se é que há
Até que o Japão

Se é que há
Deixe escurecer

Se é que há
O copo esvaziar

Se é que há
Corpo pra morrer

Se é que há
Pelada de manhã

Se é que há
O que há de haver

Se é que há
Espera que você

Se é que há
Não ache a roda vã

Se é que há
Chance de eu te ter

Se é que há
Pelada de manhã.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

As outras


Flertei-te os olhos.. por outra mulher

Senti-te o perfume.. por outra mulher

Afaguei-te o cabelo.. por outra mulher

Beijei-te a nuca.. por outra mulher

Lambi-te os seios.. por outra mulher

Disfrutei-te o orgasmo.. por outra mulher



Deitarei-me com o mundo, até tê-la por inteiro.




Menu


Há uma maçã
Comida

Há um pedindo
Comida

Há uma unha
Comida

Há uma mulher
Comida




terça-feira, 23 de outubro de 2012

6


Deves saber que o tempo é carregado de balas
E passa em roleta russa
Na sorte improvável do ponteiro
A ponta cintilante da baioneta.

Deves saber que a tradição esconde por baixo da pompa
Suas valas rasas
A carne fétida dos fetos anômalos
É o adubo e perfume dos jardins reais.

Deves saber que não é possível saber tudo
Os sábios servem-se da seiva da ignorância
E ejaculam profecias
De conversas roubadas no bar.

Deves ter um amuleto de fé
Para lamber e cuspir o fel do mundo
E afogar a rotina num fascínio banal de céu
Ainda que cinza.

Deves acreditar no imponderável
Dormir e sonhar
E acordar do pesadelo de que o imponderável mora entre o nariz e a nuca
Mas sem esquecer de tirar as remelas dos sonhos bons.

Deves não dever nada
A nada, a ninguém
A tudo, a alguém
E ao Não.



sábado, 13 de outubro de 2012

edredom


O pulso
Pela tua vulva
O pulso
Repulsa
O púlpito (onde recitam
Tu)as pupílas
Eu nunca vi neve, senão por você
Quanto mais derretê-la só pra mim.



segunda-feira, 1 de outubro de 2012

(!)?


Com quantos deslumbres se faz um fascínio?
Com qual intensidade se pode poder alguma coisa?
Existe morte em Marte?
...

(As respostas são perguntas sem entonação.
E já me basta de respostas, o mundo.)

 ...
Quanto de mundo se pode auscultar?
Qual o timbre da tua ressonância?
Qual a afinação do teu silêncio?
...