quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Sobre a estética da queda

Numa gravidade de distância
Do alpendre ao chão, o vislumbre do horizonte.
Tudo é desencanto.
O horizonte é a prova que tudo cai.
Toda esperança tange a Verdade
E a verdade é que tudo cai.
Tudo cai, e nada é mais belo que o cair de tudo.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Agora

Um feixe de entalhes destoa o erro
E o sangue, enrubrecido do mundo, coagula.
Comungo com a sombra do fechar de olhos
E ao abrí-los, o pecado e o firmamento de te ver
É um milagre cru.

Acre, dissolvo minha língua na tua,
e os calores enlaçados em um
fazem da chama, o frio,
do toque, o éter.

Sou pura espécie em teus quadris felinos
Firo-me do fogo
O fluxo inquisitor do vale das tuas costas
transborda de suor, o elixir do Lete - do êxtase
Que trago e ébrio morro
Porque esquecer é a morte
E não me lembro se sou eu ou você.
Se fui, o amanhã é tarde.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

À forma

Além

Viver é, sobretudo, transgredir a existência.
Desertar de viver é esperar.
A santidade é dos inconsoláveis.
E o segredo permanece imutável na transmutação
Da matéria em forma
Da morte em vida
De mim em você
Da palavra em universo.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Poema abissal

A vida é que é cega.
O amor é

mais um busto
na escuridão.
E no gesto
táctil
das coisas, eu
simulo.
Simulo
escrever a poesia,
desencarnar um amor
que nunca foi, sempre
sombra.
Sempre
abismo.
Semprecipício.