sexta-feira, 30 de agosto de 2019

Fronteira

Apodrece a noite enluarada
Tranço o transe que transito
Na ribalta da cidade sitiada
Reflito o refluxo em que hesito
A sorte é uma lâmina afiada
A morte é o pedaço que limito

quinta-feira, 15 de agosto de 2019

Soneto da transmutação

Sigo sentado ao convés
Na conveniência do vento
Sinto entre os dedos dos pés
A calma do mar violento

Salga o doce na boca
A espuma engana a visão
A força do mar é oca
À rocha da desilusão

Mas sábia é a força do tempo
A consistência do ar
Diz que "tudo é movimento"

Da pedra à areia do mar
Ao móvel monumento
Do breu em brilho solar

domingo, 11 de agosto de 2019

Poema ao pai

Me deparo
Comigo
Num semblante seu
No queixo
E no jeito de olhar o mundo

Me deparo
Comigo
Olhando a mim mesmo
Através de você

Me lembro
De como dilacerei
Um sonho
Quando te pedi
Ainda pequeno
A nunca mais me chamar
De Petico.

O meu maior genocídio.

Me deparo
Com meu futuro
Agora
Nessa lembrança
Imanente
Que aguarda e olha
Dois peticos
Como quem olha a você.