quarta-feira, 31 de julho de 2019

Tatazinha

O relance no olho
Um ipê rosa no meio da noite iluminada
A lembrnaça na forma da saudade de você.

domingo, 28 de julho de 2019

Atestado

Você caminha o passo dos mortais.
Dobra a esquina e se depara com o impossível.
Percebe que ele é mais frequente do que se imagina.
Como um micróbio ou ácaro, vive em colônias em seu travesseiro.
Você acaba por se perceber como sendo alimento do impossível.
Um substrato em que ele contamina e mutila aos poucos.
De repente, o impossível já infectou qualquer perspectiva.
Agora, você está imóvel ou se movimenta em função de sua inércia em relação a ele.
Tudo começou naquela esquina.
E passou então a estar tomado pelo impossível.
É ele quem escreve o texto como um atestado de óbito da ilusão.
Ela que via a pluripotência em cada caminho.
Neste momento, asfixiada pelo impossível.


quarta-feira, 24 de julho de 2019

Mulher

(e)ternamente par
o destino na gestação
do acaso

quinta-feira, 18 de julho de 2019

Design bruto

Estilhaço -

De repente.

A poda lancinante -

Rotina
Guilhotina

Diamante

Sombra
Feminina

Cristalina
Névoa
Na retina






sábado, 13 de julho de 2019

Poêmio

Marjeia o meio-fio
Como quem dança
A beira do precipício

Desatina um verso
Como uma calota polar
Desbrava o oceano

Entrega-se a noite
Como um exilado
Se nutre da saudade





quinta-feira, 11 de julho de 2019

Sem teto

Eu penso nos rendidos que filam as bordas do desdém. Aqueles que sequer viram estatística. Que se escondem sob o ritmo frenético da sobrevivência urbana. E driblam os carros como se quisessem viver. Aqueles os quais desvia a procissão metálica e que servem a referência do medo, da reza dos normais, de suas paranóias. Os donos dos olhos opacos, imersos no horizonte sem ter um palmo de esperança diante de si.

Eu penso neles, e nada faço enquanto o tempo corrói a culpa. Amanhã, sigo no desvio de não pensá-los. Sigo a missa silenciosa e programática pra que o acaso me salve da colizão inevitável ou do destino de me tornar um deles.

Deve amanhecer em breve sob a marquise, e sobre as pedras afiadas das estalagmites fabricadas pelo novo plano de governo. O rolo compressor não cessa, no engenho, no ciclo do centro do tempo paralítico. O sol já esboça prolongar o sofrimento daqueles que morrem na tuberculose da noite mais fria.

Eu tusso.

quarta-feira, 3 de julho de 2019

Previsão do tempo

Enquanto dorme, a frente fria se desloca.

Um certo vento que se dobra ao relevo dos trópicos.

Cada palavra medida nas minúcias de uma vida inteira. O entreolhar firme e cândido da compreensão. O perdão na sua forma mais pura. E também o sexo, despido de erotismo mas repleto de amor. 

Tudo rende-se a expectativa da frente fria, que chega sorrateira sem tremular as árvores.