sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Vesúvio

A pequena palavra desta vida curta
É infinita em sua precisão
O pequeno olhar desta vida breve
É infinito em sua precisão.

A pedra dura é uma forma de brisa leve
Como o olhar é uma forma de palavra
Quando do tempo que se seca a lava
For o de um vento que petrifica a pele

Ver do fundo o fundo
Fundir do ver te vendo
Todo amor que for profundo
É a infinitude de estar sendo
Preciso como o coração.



domingo, 22 de dezembro de 2013

Estrofe condenada

Sétima parte
Camuflada falta
Um alento atento
Urbana calma
A presa é a isca
Dos predadores 
Em extinção
E tudo se rabisca
Nos muros da prisão.



domingo, 15 de dezembro de 2013

thing's poem

it's rising and rising
this senseless direction
that cripples inside me

it's writing and writing
this fearless momentum
that forbids beneath me

i'm just a bloke
with intentions and dreams
no pomps or circumstances
to longer be seen

nothing but a joker
with mysterious sins
defying this realm
and their kings in between.





tulipa

serve à despretensão do não ser
minutos que passam em respirações contadas-
a matemática medita no corpo
à metafísica medida do copo>
teu córtex vibrante torpor
consciente das divagações ontológicas
- cada coisa se torna os olhos que as vêem
e da esquina do bar,
teu rosto é uma floresta hermética
em que me perderia
projetado
à sombra, posso ser o instante
e os passos distantes da hipótese
de que teu nome me é familiar.





quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

corvo

palavras cruzadas
língua presa
qual era mesmo o nome?
a chaleira apita
a campainha toca
bom dia
bom dia
pode deixar aí mesmo?
um minuto
você por acaso sabe o nome da ave que anunciou o fim do dilúvio?
pilhas de jornais
a chaleira apita
mas, senhora..
a porta bate
a bomba zune
a cozinha é destruída num estrondo
a guerra é geral e irrestrita.



segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

caçador

sabemos escrever tanto
sem dizer nada
entalhamos árvores
com falso amor
e sonhamos sobre tudo.

e o que queríamos poder
na música oblíqua,
o desejo circunscrito
na cabeça de outro alguém,
encerra-se em um alvo
a que todas variáveis apontam.

insistimos em dizer, contudo,
que a caça é que nos foge
quando é nós mesmos que fugimos
do tempo, de um nó ou qualquer coisa
suficiente a essa espingarda que mira..

à esmo..
..ao mesmo.





sábado, 7 de dezembro de 2013

agora

Antes tarde do que nunca.


Antes cedo do que tarde.


Antes nunca do que sempre.


Depois do nunca, o antes.


Após o antes, agora:


metamórfica poesia
voadora heresia
em qual tempo te encontro
em qual era te queimaram em praça pública
em qual ventre pudico
em qual selva rara
o mundo imundo te destila
na beleza da imundez
a muda é poesia
o processo, total.






metametáfora

perdura a noite
dura
em que trinquei teu peito
num oceano de metáforas
asfalto
falta
nuvem
nua
roupa suja
alma limpa
hoje eu te vejo de cima
de um submarino silencioso
de um ventilador que te espia





quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

fotográfico

Eu te vi no tempo
paciente na parede
Na sincronia cinética

Eu te vi na lua
pendurada no céu
Num retalho estético

Eu te vi no clima
escorrendo na janela
Num deságue hermético

Eu te vi no espelho
sorrindo em mim
Num beijo imagético.




quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

o iletrável

pelas barbas da barbárie
no avesso do verso
vertem prosas
que regam rosas
cujos espinhos sujos
raspam as aspas
que não citam nada
mas que limpam toda
esta sujeira que vive a beira
de ser dita pela boca
de um cabeça-oca que lhe diz
sem medo:
antes cedo do que tarde
ante ao sol que arde
toda solidão que bate
na ideia sem acento
ao relento do sereno
de um miserável sem nome
que escreve a fome
daqueles que sentem
pelos fundos de seus respectivos poços
em seus introspectivos ecos
o grito sedento e seco
de uma voz que não cabe na garganta
e que traduz do pensamento aos ossos
o iletrável sentimento imerso
à tona do papel em branco,
a verdade absoluta do incerto.