terça-feira, 30 de julho de 2013

Ebriedade

Qual-quê?
Intimidade?

Se dividimos o quarto
O corpo
E a cidade?

Lembro o Horto
E sorvo sorvo
Vadiagem

Torto
E louco louco
À tua imagem

Solto
Verto o vento
De passagem

No quarto
O mole corpo
É a cidade

Na noite
Tropo a torpe
Castidade

Ou o acerto
Turvo
Da vaidade

Que em teu parto
Pôs-te o ovo
A gravidade

Fartei-me
Morto
É a idade..


segunda-feira, 29 de julho de 2013

Avestruz

A segunda-feira atroz
Ao que ficou pra trás
O que faremos os três
Se vivermos por um triz?


quinta-feira, 25 de julho de 2013

Exprime,

Espreme
Até sair o suco
Até formar os sulcos
Em que corra esse teu rio
Porque chorar é uma forma de sorriso
E o porquê é uma desculpa pro teu cismo.





domingo, 21 de julho de 2013

Lição de despedida

Em simulacros, a verdade emerge concatenada.

Pensam o que querem pensar
Vêem o que querem ver
São o que querem ser.

E a dúvida é um espectro do desejo
Que sonhamos com medo.

Iremos todos embora
Deixando nos interstícios
Nossos intestinos.

No éter,
O pesadelo será aquém de estarmos juntos
Se não ousarmos duvidar
De nós mesmos,
Se não ousarmos ser
O que duvidamos..


sábado, 20 de julho de 2013

O ballet no Everest

Dançou ballet no Everest
Mas a escuridão vem como soco
E não havendo coisa a se atentar
A respiração é contada:
Um (inspira)
Dois (expira)
Três (inspira)
Precisa expulsar o frio
Mas só o tem
E o precisa.


sexta-feira, 19 de julho de 2013

Passando

Em um parque abstrato, uma mulher concreta chora. O parque e a mulher existem menos do que o que passa pela sua cabeça. Há algo que passa. E continua. E continua. E continua. E continua. O parque e a mulher permanentemente passam. E continuam.


segunda-feira, 15 de julho de 2013

Lacrimogênese

Eu quero teu peito amostra
Tua pele nua

Desarmada da borracha
Do escudo de plástico

Eu quero teus olhos atentos
lacrimogêmeos

Corpo-a-corpo
E oxigênio

A carne crua
E o pé descalço

E braços
Inalcançadamente abertos

Eu quero te arder
através e por dentro

Tragar o teu suor
E me afundar em teu cheiro

Sem partidos
E sem governos

Eu quero ser
a própria multidão em você.





quarta-feira, 10 de julho de 2013

Tríptico grave

um plano branco
gravado

um disco negro
gravado

um braço exposto
gravado




O livro

O vinil

A tatuagem




Olhos

Ouvidos

E pele

Sintonicamente apurados

Na gravidez de gravarem

A gravidade sentida.


A noite

Ela se sentia anestesiada. Quando saia, ria com os amigos. Mas cada felicidade era trivialmente banal. Gostou quando sentiu o inverno chegando pela água da torneira. O espelho a refletia evasiva. Ela não estava gorda, mas duvidava do próprio reflexo. Uma formiga parecia mais interessante. Não sentia fome, e o mesmo cd não parava de tocar ao fundo. Foi para a sacada e chorou, era o gás lacrimogêneo da Delfim Moreira.

terça-feira, 9 de julho de 2013

Nômade

No teu reino,
Um entreposto de incertezas
Mirante do horizonte

Da clareira no campo
O céu anoitado esclarece nímio

Descobertos vales
A seiva corre livre
Essência

Há em frondosas sombras
O discreto brilho
Contornado do olhar

Tua selvagem floresta 
abriga indomada beleza
O triste mistério natural

No escuro, o relevo acidentado
e colinas suaves de relva

A ameaça das cores invade
nuvens adormecidas
e revela montes longínquos

O dia enrubescido
E o brilho discreto da sombra 
dispersam a leve brisa

A terra envolve
E cada fruto emana
O aroma de sua história

Os passos
rumam livres e todo tempo
É a própria descoberta

domingo, 7 de julho de 2013

Vertigem


Vi amar
-te


D'uma
janelanua

Vermelhor
o ôco

Azular
o corpo

Solarizar
o osso

Enluarar
a carne


Via ser
-te


Cadenciar
A boca

Silenciar
A face


Vi ater
-te


Libertin
arte toda

Horalizar
O tempo

Sussurrar
Suando

Soarizar
o vento


Verter-me
Em ti

Por ter-te

Em mim

sexta-feira, 5 de julho de 2013

A velha pele

O vento da mudança sopra morno:
A violência é um precedente aberto de desejo.
Somos todos o grito e o lamento,
E o que toma o ar a todos nos sufoca.
O espaço-tempo a todos move e envelhece
Em cada circunstância, a ânsia por afeto
E o desentendimento das mãos de um mesmo corpo.
O flagelo que sustenta o inexorável
São estes ovos de serpente que chocam
E que somos uns aos outros sem saber.

quarta-feira, 3 de julho de 2013

mar remoto


A pegada se esvai
na segunda marola

E tudo existe entre a paciência e a morte.