quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Sisenêg

Criei deus a Minha imagem e semelhança
Quando o sono era tão pesado que não se podia dormir.
Primeiro, fiz o escuro da claridade opressiva do universo;
Depois, o vácuo entre os planetas e outros corpos cósmicos.
Sequei os rios e despedacei montanhas.
Por fim, fiz do homem, o barro, e da mulher, a própria maçã que vomitei.


terça-feira, 21 de agosto de 2012

Quântica



De repente.

Sempre ‘de repente’.

( Como se não fosse o olhar sobre o fato. 
Como se não fosse o fato que decantou no tempo que o olhar não viu. )

Bom, de qualquer forma,
de repente (!) parece que, por detrás dessa cortina, duas frações concomitaram de acontecer.

Mas não há palco.

Não há sequer o tempo por detrás da cortina.

E com o perdão do verbo, não há coincidência quando se é o narrador.
Tão somente surpresas deliberadas..

Mas lá, há apenas a cortina defronte ao público.

Uma cortina vermelha que vela tudo que desejássemos ver.

E eu nessa curiosidade islâmica, vivo na espreita do engano de querer o eterno(,) de repente -
Quando a simultaneidade simulada do quadro é o próprio tempo.
E quando eu já narro tudo sendo eu mesmo os dois lados da cortina.



segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Prato executivo

Hoje as pessoas não matam pelo medo de verem o sangue.
Pelo nojo de terem que limpar a morte da rua.
Pela preguiça do ter que fazer.

Hoje, não mais que ontem..


0 Esse papo tá me dobrando o estômago.0
- Garçom, um filé bem passado!


domingo, 19 de agosto de 2012

O mar e o vento


Venda-me o mar
No teu dia de chuva

Cante-me o vento
Sem que haja o ar

E eu, feito filósofo da tua fisiologia
Descansarei como um rei
Na transa dos teus lábios

Afogarei os dias e noites em tua silhueta
Num dos languidos sulcos de tua boceta

Até que o tempo conte ao certo
As estações porvir da revolução

E quando o cerco cessar a paciência
Ver o núcleo apodrecer em reverência

Meu reino entregue a tua natureza
A tempestade alheia, a destruição.



Incestologia


Desta beira ocidental
europo-ibérica
Abrandar a violência das vagas atlânticas
O coito natural
Portugal, esse teu lácio
marginal
Infecto
de prosa e profecia
Do oráculo olho de Camões
E da ferrugem acre dos canhões,
Venha pois se desfazer
no chiclete dialético
Da cana,
deitada édipa a cama
Com seu filho pintado brasil
Do vermelho do pau ao singre da nau
Adormecido peito juvenil
Maculado
Pela boca da gente
Pela babel das minorias que te lambem
O continente
Tuas matas mortas
Os contingentes
que te marcam
desse precipício aberto
de mar
que te divide
Nasceste gloriosamente imundo
Fruto da ibéria e da orgia paga pelo o mundo
O filho pródigo,
espelho do pai
Volte feito Ulisses
ao colo do mundo.



domingo, 12 de agosto de 2012

Saturno II


Contei-me para acordar. Dois olhos, mãos, pés. Nariz e boca. ‘Estou vivo’. Água na cara pra respirar. Pasta e dente. Cuspe. Sol.
- Tive um sonho tão ruim hoje.
Cuspe.
- Sonhei com Saturno. Sonhei que estava em Saturno com uns amigos. Parecia a Terra, mas era Saturno. A gente dava voltas por aí falando com as pessoas. Parecia uma dessas cidades pequenas europeias. Um espírito decadente, mas charmoso. Meio bucólico.
Mijo.
- A gente dava voltas. Mas eu parecia estar de ressaca. Não lembrava bem do que tinha acontecido na noite anterior. Mas sabia que tinha acontecido algo. Uma festa. Um grande evento, sei lá. E sentia um ar pesado nesse esquecimento.
Descarga.
- Depois do passeio, o clima foi ficando mais fechado. Voltei para o meu quarto, e haviam pedaços de corpos mutilados, e muito sangue. Nas paredes e no chão. Era horrível. E eu parecia recordar do que tinha feito na noite anterior.
Torneira. Água.
Toalha.
Dei ‘bom dia’ e pensei no sonho dela.
- Toma um banho comigo?



segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Soturno

                   Encontrei Saturno numa esquina em Buenos Aires. Movia-se rápido, fugaz. Saturno foi como nos sonhos monocromáticos, embora menor, dada a distância e a capacidade do telescópio. Inesquecível Saturno. Eu penso em Saturno e penso se Saturno me encontrou algum dia..