terça-feira, 27 de abril de 2010

Um limbo e ½

Precisei precisar cada vírgula
Do imensurável
Para isso, degolei meus algozes
Pus-me ao leito e deleitei meus delitos
Por fim
Sonhei com o escatológico
Tornei-me então réu em meu próprio reino
E quando despertei cansado
Entediei-me
Mais uma vez com a desnatureza de acordar
O sol voltou
Como todo dia depois da noite
E como todo dia
Me levantei diante dele
Pois é
A sombra é o fardo dos que enfrentam o sol
De olhos pesados
No quarto cinza-laranja
As memórias do astronauta de pijamas...

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Cerrado

As pálpebras se encontram, umas nas outras. E os olhos, os olhos se lançam no escuro do próprio corpo. E não há mistério, firmamento ou universo maior que o exame de olhar de olhos fechados.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Des(a)tino

Na pontualidade do atraso te encontrei
E me fiz outro com o acorde que me deste.
No meio da cacofonia do mundo,
A melodia impossível das duas cordas
De um violão desafinado.

deux cœur, de cor.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Soneto da esperança para morena de pintas

Meus cílios gotejam com engodo
Pupilo do piscar das suas pupilas
Nossas lágrimas imitadas diluídas,
Embebidas pelo acre do absurdo

No relance eu lanço como aborto
Cada qual, inesperanças digeridas
Tua falta me abre as feridas
Outro fantasma levanto absorto

Teu choro enchente que me afoga
No tango de nossas imprecisões
Teu beijo o poente que me afaga

No semblante de mil dimensões
Toda minha angústia naufraga,
Castanhos das mil impressões.