quinta-feira, 31 de janeiro de 2013


M


That night a thorn
Turned right
The storm and light

(A cold wave through)

Devil's horn
A blight knife
-The tool
The task-
To turn a screw

A mindless kiss
I do.
The edge of the abyss
I drew

The moon trace
A dressless wife
Let her let
Beyond the blessless sky

a
s
k

Fantasia



Seu rosto solar
O espelho luar
O surdo

A noite a farpa
Em seu propósito
A tempestade e luz

O mar frio
Agulha

E o viscoso pus
O ócio acalma
Os ossos d'alma

Vir

É o ritual
da minha gravidade
Enquanto houver
tempo ruim
nessa cidade

Vale

A carne
O Rio
O carnaval me espera
Vestido de noite
Fantasiado de luto.




quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Zyklon B


Os perversos versos me chegam do inverso,
quando os travesseiros revolvem sonhos do avesso.
Eu durmo coberto por monóxido
Um sono inodoro de ligações não atendidas
De não achar onde é a saída
Neste inferno de boas intenções
O próprio braço que se apoia vacila
E pega impulso na resignação
O desalento na velocidade dos gritos
E a asfixia dos ritos do fogo
O pesadelo diz que estamos vivos
No reflexo fúnebre da sombra
O anúncio de que estaremos mortos.






terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Santa Maria


Santa Maria da Boca do Monte está na boca do mundo. Na boca de repórteres que não param de falar. Na boca de especialistas em segurança que nos lembram que tudo pode ser evitado. Na boca de políticos que nada podiam fazer. Na boca dos que falam que todos morrem todos os dias. Na boca das conversas do elevador. Na boca do consolo vazio de compaixão.





Santa Maria da Boca do Monte está em silêncio. Os corpos estão em silêncio. Os médicos e enfermeiros trabalham em silêncio. Os pais e amigos choram em silêncio. Os sobreviventes lembram em silêncio. Na calada da noite, dormimos com o silêncio preso na garganta. Deus esteve em silêncio. Santa Maria se calou.


Estamos sós. Se não houver humanidade, não haverá nada.



quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Guilhotina

Neste mundo dos iguais, eu transcrevo tuas pernas como a epígrafe da revolução. O pornografismo dos teus joelhos e a abertura articulada das panturrilhas e coxas. Eu poderia sentir com os dedos, o cheiro do perfume-suor. O tornozelo e a fragilidade suspensa da concavidade dos teus pés. Na ribanceira de tuas curvas, eu posso ver um rio, sereno como o predador a espreita da presa. O rio que limpa e afoga. O rio do batismo e do mistério. E no horizonte dos teus seios, a boca túrbida se comprime entre os dentes. A multidão te observa no fundo da escuridão de um piscar de olhos. E no arrebate do teu gozo atômico, eu me sinto o mundo. Eu me torno o pulso do universo. Um soluço de morte. O tempo dérmico. O teu púbis no púlpito da tradição. Gozemos todos, o rei morreu.


sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Jaz o jazz, o jaz jaaz ajjz
ooo, jjaz zjaz azzj o jajz.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

guia para anões sérios





antes que o sossego passe a frente
é preciso tê-las ao bolso
é no calar da noite que salta a música
é no apagar da luz que acende a ideia

abrace o chão para pegar impulso


espere o dia nascer
no rolar da lágrima
e após o sono bater
permita virar a página


o tempo é sempre o presente
e a memória serve pra não se esquecer disso
guarde a inspiração nos pulmões
pire profundamente


descasque
não use filtro solar
pedro bial é um merda

numa noite de frio
entre uma nuvem e outra
sinta o calor da lua
deixe-se então ouvir
zunir a brisa pelo rio


desconfie dos felizes
ultraje os heróis
os tímidos são íntimos dos sentidos da vida


contemple o mar e a neve

lucidez é esclarecer-se de ilusão
a desilusão é um contra-senso

esteja disposto a desaprender
nada é mais poderoso do que
estados de espírito com essa faculdade.




terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Manchete

A conta do banco te conta que, de repente, o céu ficou branco.
O dinheiro vale menos que a guerra civil de mendigos da praça de uma cidadezinha, que não tem nada, senão uma praça e mendigos em guerra civil.
O conto do jornal te conta como se a tua história valesse ser contada.
A glória vale menos que todas as ondas de rádio e a radiação que penetram na tua pele e provocam o câncer prestes a ser percebido pelo radiologista.
A superfície de coral de um paraíso fiscal não engorda tua conta do banco e nem melhora tua história no jornal.
O habitat deve ser preservado e não se sabe o porquê.
Está na capa do jornal
Na conta do banco
No câncer da retina
No exame de rotina