sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Literalmente

quanto mais eu sinto a necessidade escrever sobre tudo,
mais eu sei que a palavra é uma farsa.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Esgota

Chorar é verter o espírito
E num desague singelo
Ele disse todo seu amor
Ela secou feito a morte
E no derramar do pranto
O amor se foi pelo ralo.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Deognóstico:

Eu desconheço qualquer atributo de Deus, senão o da paranóia.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Poema à bolonhesa

A verdade é um esboço não levado a sério
O coração rejeitado no relance

No instante do acidente
Ou num acidente instantâneo

E no incidente seguinte reinou o banal
Com sua soberba e luxúria

Microondas
2 minutos...

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Abraxas

Teu flerte me furta
Quando não sei se é o gene recessivo dos teus olhos
Ou o próprio olhar subversivo,
Só sei que verto.
Verto-me pelo escorrimão das tuas bochechas
Salinando a tua boca
O gosto dos receios
E no oceano de lágrimas da tua fonte
Eu lambo teus seios
Até me fazer duna
Até a facínora sorte
Chupar toda essa espuma
Que esconde por detrás dos dedos
Nesse martírio que é o teu flerte fingido de pranto
Na blasfemia do santo
Estou na órbita das tuas
E me basta erodir pelo teu dorso
Até conhecer o teu ventre pelo jeito mais fácil
Pela fissura do corpo
E no pouso
O selvagem é um gesto dócil de beleza
Eu morro como que nascendo um mundo
Permanecendo cadente no fundo, no âmago de todas as sinas
Na translação da natureza, meu sêmem na tua vagina.
Teu ventre, a minha certeza.
E depois o silêncio do espaço
A compreensão sideral dos astros
Plácidos como a condição humana
Incondicional ao amor
Incondicional à tudo que emana
Aos olhos de tudo que for.