domingo, 23 de maio de 2010

No monólogo à dois, a Razão, como que desistindo diz:

- Sentido, sente-se ao meu lado, e se sinta à vontade de não se fazer.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Projétil

Como parte dos dedos, a inocência coça a realidade. De raspão. O arrepio. O interstício impossível e uma pedra sendo atirada. O ponto. O carinho com os olhos. O gume da lâmina. A paralisia. A adrenalina e a paralisia.

Quando pensar já não te livra de nada, só lhe resta vomitar.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

A escatológica (a lógica do eco)

A humanidade nasceu com a primeira pergunta proferida no universo.
E o universo, em sua reverberação, matará a humanidade sem resposta.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Sobre a certeza labiríntica

Ai, esse mundo! Esse mundo cheio de exigências. Não aguento esse mundo de exigências. Fodam-se as exigências! Eu quero a ilusão, e quero me desiludir com a ilusão como um apaixonado. Iluminar-me do aleatório. Esse aleatório fatal dos românticos. O aleatório que é mais que um complexo inconcebível. Quero, enfim, provar que alguma coisa ainda pode fugir da realidade. Quero poder salvar qualquer coisa da violência que me preenche.

terça-feira, 11 de maio de 2010

ánima (o lapso em contraponto)

Ocasionada, a esquina intangível de mil almas
Deu-me a tua no relance.

E por essas e por outras que o lapso me permite
A chance do descuido.

(A vida é irresponsável na sua arte de pincelar a violência.
A genialidade advém de saborear a estética,
Tendo consciência de sua condição de parte
Da imagem violentada)

segunda-feira, 10 de maio de 2010

O campo de trigo

Mendigo os segundos que me esquecem de pensar.
Interpelo, assim, ao corvo, que gralha o som
Do sol, o mais opressor dos astros.

domingo, 9 de maio de 2010

Obscer

Poupo a circunstância
E tropeço perdão por delitos idôneos.

Em tempo,
Tomei como partido o inteiro dos teus lábios
Mergulhando-me inerme entre seus rins.

No agora
Faço todo, tomada parte da cena
Contemplada inerte pelo obsceno gesto
De falar o que se pensa.

Não obstante, ela, que me consumia,
Obsessiva, sangra pelo instante
Em seiva, em perfume e torpe,
A negra flor do ciúme.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Pela ribalta de vidros abertos

Um falso crepúsculo incrusta-se no madrugar da noite. O fitar dos gatos e o silêncio do frio, me refletem os postes o quão alagado é o mar. Acautelo-me horizontescamente pela lua. Já me retomando de oblíquo, os para-brisas e meios-fios me urgem às proporções. E só me vem ao porta-luva as improduções de sempre, dizendo que o inverso perfeito foi a sorte de ter te encontrado sobre o azar de ter existido... Atropeladas epifanias, os quebra-molas me esperam impassíveis conforme minha onipotência é abalada pelo tanque - agora quase cheio. Combustei-me ao longo da auto-estrada, parte de mim sublimou pelo caminho. Mas não deixo de perseguir, intacto, o horizonte, simplesmente por querer-te um dia ao Índico.