A opulente norma que recai sobre os ombros. O sonho em que todos vestidos ignoram nossa nudez, e a vergonha se revela como é: um fragmento irreversível desse espelho. Compomos o vitral do absurdo com nossos medos e coragens. A condição humana luta contra o caos à disposição de sua fábrica de linhas retas, e contempla na pele o despropósito frio das ondas do mar. Como eu posso encarar o que não tem rosto? O ímpeto em seguir o fluxo é o mesmo de nadar contra uma maré que já secou. Projetamos na parede do quarto nossos próprios demônios e são eles que nos alimentam de esperança. Melancolia é sentir saudade do porvir. Lembrar com afeto do cheiro da chuva que virá. São tantas coordenadas, tantas possibilidades que me canso em meio as nuvens de pensamentos do pé da cama. E a preguiça se revela em um bocejo. Já é tarde, e algo me diz que você ainda me entende, mesmo através do inalcançável. Preciso descansar, estou morto. Estou torto como a torre que sustenta o universo. E ironicamente parece não haver melhores noites de sono do que as que me deito sobre esta tensão estranguladora - a solitária e frágil força que impede de tudo ruir sobre si mesmo. Quero dormir na ponta do abismo e sonhar um sonho em queda livre.
quarta-feira, 26 de dezembro de 2012
Cabeceira
A opulente norma que recai sobre os ombros. O sonho em que todos vestidos ignoram nossa nudez, e a vergonha se revela como é: um fragmento irreversível desse espelho. Compomos o vitral do absurdo com nossos medos e coragens. A condição humana luta contra o caos à disposição de sua fábrica de linhas retas, e contempla na pele o despropósito frio das ondas do mar. Como eu posso encarar o que não tem rosto? O ímpeto em seguir o fluxo é o mesmo de nadar contra uma maré que já secou. Projetamos na parede do quarto nossos próprios demônios e são eles que nos alimentam de esperança. Melancolia é sentir saudade do porvir. Lembrar com afeto do cheiro da chuva que virá. São tantas coordenadas, tantas possibilidades que me canso em meio as nuvens de pensamentos do pé da cama. E a preguiça se revela em um bocejo. Já é tarde, e algo me diz que você ainda me entende, mesmo através do inalcançável. Preciso descansar, estou morto. Estou torto como a torre que sustenta o universo. E ironicamente parece não haver melhores noites de sono do que as que me deito sobre esta tensão estranguladora - a solitária e frágil força que impede de tudo ruir sobre si mesmo. Quero dormir na ponta do abismo e sonhar um sonho em queda livre.
segunda-feira, 17 de dezembro de 2012
Redemoinho
Tudo gira em torno de você. Tudo te circunscreve. À parte isso, tu é incapaz de fazer o mundo girar. Tu segues a lei dos homens por vontade, e a lei das coisas por obrigação. Não há alforria concedida pela gravidade. E os teus sonhos são também correntes. Tuas aspirações e os teatros sociais. Teu café da manhã. E a tua notícia do psicopata que matou vinte crianças. O teu psicopata e as tuas crianças estão mortas. E o teu café ainda não está no fim.
terça-feira, 11 de dezembro de 2012
Traço
____________________________________________________revolvem todas as perguntas _________________________ a curva interroga em fina ponta ___________________________________________ um gancho que toca a garganta ____ Por que _________ por onde ao que ______ a glote engole ___ O que você está falando ______ e desce no arrasto digestivo do esôfago _______________________________ e se o hífen, e se o ínfimo gesto da resposta te fizer calar ______ com que cuspe te alimenta, senão nessa auto-ingestão de questionar _________________ a subsistência, o monumento mecânico da consciência do universo ___________________ movediçamente na grafia desse abismo ___________________________ fazer deste a conferência __________________________________________ o eco que te reflete, a frase que te define __________________________________________________________________________________________________________________________________ e as rugas já apertam ao peito __________ o flácido pulso que empunha o relógio levanta agora o dedo ao cego professor _______________________________________________________________ a aula termina, e o caderno contempla em lacunas o que faz da vida valer a pena________________________________
quarta-feira, 5 de dezembro de 2012
Binômio explicado
O teu sorriso
O esboço
Do teu osso
[Explicação:
Você sabe,
a mágica do mistério
Quando se faz de séria
Esconde os dentes com a pele
E quando mostra todos assusta
Por ser espectro da morte
Mas por sorte
Tu sabes no entreabrir da boca
Fazer da dentadura um sol.]
Encontrei deus
Como o outro
No fundo do poço
[Explicação:
Você sabe,
prometem a segunda
Quando na primeira vinda
Foi a vida, e o mistério do milagre
Das mil lágrimas de Maria
E de todo sofrimento
Deus está no chão
O fel de seus fiéis
No firmamento demonizado de perguntas,
a redenção]
O esboço
Do teu osso
[Explicação:
Você sabe,
a mágica do mistério
Quando se faz de séria
Esconde os dentes com a pele
E quando mostra todos assusta
Por ser espectro da morte
Mas por sorte
Tu sabes no entreabrir da boca
Fazer da dentadura um sol.]
Encontrei deus
Como o outro
No fundo do poço
[Explicação:
Você sabe,
prometem a segunda
Quando na primeira vinda
Foi a vida, e o mistério do milagre
Das mil lágrimas de Maria
E de todo sofrimento
Deus está no chão
O fel de seus fiéis
No firmamento demonizado de perguntas,
a redenção]
O Lete
No fim do veio do Rio Lete, quando sobrara somente um filete de córrego, um rato saciava sua sede. No exato instante em que satisfez-se, deu-se por conta de que não lembrava o caminho que havia feito até ali. Num determinado momento, não lembrara de mais nada. E tomado pelo infinito esquecimento, já era incapaz de saber o que sentia, e sem sequer dar-se por conta do próprio sentimento, o rato se tornou o Mundo.
quinta-feira, 29 de novembro de 2012
Bilhete narrado
Inacabadamente
Cabalisticamente
Um contagem regressiva
Regride-me
Ao grito primal
Eu podia sentir
O teu calor amniótico-
De fora:
O ar-condicionado que invernizou o mundo
De dentro:
Aquele velho edredon
O nosso sudário da sacanagem
Eu podia sentir
A juventude de nossos corpos
O brinde e o gole de todos os copos que eu bebi
De cada articulação de nossos músculos
Da distância infinita de dois narizes
Eu sentia o redemoinho do teu ouvido
E ouvia a brisa do teu suspiro
Eu podia sentir tudo
Até que deixei de sentir
Como havia deixado de viver
Parei de sentir..
E passei a lembrar
Uma lembrança quase objetiva
Um quadro de cada cena
Todos muito intensos
Lembrei de quando
Provei amoras pela primeira vez
Mas não sentia o gosto
Não sentia teu rosto
Mas lembrava dele
E como havia deixado de viver
E de sentir
Passei a deixar de lembrar
Como se meu espírito
gradualmente
resvalasse
pelo vale
movediço
da ampulheta
E agora
passo a ter o medo
da gravidade do mundo
como quando nasci
como quando nasci
como quando nasci
como quando nasci
Cabalisticamente
Um contagem regressiva
Regride-me
Ao grito primal
Eu podia sentir
O teu calor amniótico-
De fora:
O ar-condicionado que invernizou o mundo
De dentro:
Aquele velho edredon
O nosso sudário da sacanagem
Eu podia sentir
A juventude de nossos corpos
O brinde e o gole de todos os copos que eu bebi
De cada articulação de nossos músculos
Da distância infinita de dois narizes
Eu sentia o redemoinho do teu ouvido
E ouvia a brisa do teu suspiro
Eu podia sentir tudo
Até que deixei de sentir
Como havia deixado de viver
Parei de sentir..
E passei a lembrar
Uma lembrança quase objetiva
Um quadro de cada cena
Todos muito intensos
Lembrei de quando
Provei amoras pela primeira vez
Mas não sentia o gosto
Não sentia teu rosto
Mas lembrava dele
E como havia deixado de viver
E de sentir
Passei a deixar de lembrar
Como se meu espírito
gradualmente
resvalasse
pelo vale
movediço
da ampulheta
E agora
passo a ter o medo
da gravidade do mundo
como quando nasci
como quando nasci
como quando nasci
como quando nasci
quarta-feira, 28 de novembro de 2012
Ricochete
Todos os lápis apontados,
Todos gatilhos puxados,
Nos tambores vazios, o 'cleck'
Na sorte certa da morte, o 'powl'.
O beatle não, doutor
Esse é hit, mais um hit
Dali na Síria do Alemão
No olho palestino
Nas costas do Sudão
Numa vala no Congo
Entre o indicador e o dedão
Calibre grosso de cano longo
Um outro hit
Em nome da revolução
Estamos quites
A poça vermelha da religião
Marchemos todos serenos
No ricochete da rotina
Até que a bala perdida
Nos encontre
Antes que saque do coldre
A juventude
De um pobre negro de atitude
Ou feche o saco preto que cobre
O que não queremos ver.
Esse é hit, mais um hit
Dali na Síria do Alemão
No olho palestino
Nas costas do Sudão
Numa vala no Congo
Entre o indicador e o dedão
Calibre grosso de cano longo
Um outro hit
Em nome da revolução
Estamos quites
A poça vermelha da religião
Marchemos todos serenos
No ricochete da rotina
Até que a bala perdida
Nos encontre
Antes que saque do coldre
A juventude
De um pobre negro de atitude
Ou feche o saco preto que cobre
O que não queremos ver.
terça-feira, 27 de novembro de 2012
quarta-feira, 21 de novembro de 2012
Intifada
Agora, a liberdade tem cheiro de sangue vivo. E não nos encontramos mais depois que as armas descarregaram. Me lembro do raiar de um dia, em que os zunidoz dos aviões imitam a noite e a estridência regressiva das bombas, trovões violentamente programados. À duas quadras, o corpo de uma mulher. À duas quadras... E agora, eu só tenho medo do canto do galo e do nascer do sol. A boca crivada de falas. Alá é maior! Alá é maior!
terça-feira, 13 de novembro de 2012
Anúncio
O gradiente cinza
A contagem regressiva:
A árvore alada
Queima a noite
Em praça pública
Chama horizontal,
Inquisidora madrugada
Feita espada
Amputa as putas de suas praças
Solfeja o bocejo dos insônes
E revela os gritos da calada
Desencanta a escuridão
Com o claro óbvio
Ululante.
A cruel ave de fogo
Desalma amores em ceifadas
As velas acesas
Já não servem de mais nada
Alvorada
Não há mais o foco
Tudo esclarece
No falecimento da sombra
Tudo reluz
No fio da faca
Cega alvorada
Não vês que a flor da pele
Não precisa de cor
Mas brota ao ser tocada
E no anúncio
do Quase,
Na lúgubre
Certidão de morte
Do Escuro
Os olhos dormem
Pra ver as coisas como são.
sábado, 10 de novembro de 2012
postum
nada é mais inspirador do que o que o melhor poema do mundo prestes a ser escrito.
e o sucesso de um fracasso enfeitado.
e o sucesso de um fracasso enfeitado.
petróleo
as probabilidades
não calculam
a chance do
equilíbrio do dado por uma
de suas arestas
ou a influência
de seus resultados
diante dos fatos calculados
ou a vertigem da coincidência
eu me sinto vivo mastigando chiclete.
quinta-feira, 8 de novembro de 2012
quarta-feira, 7 de novembro de 2012
o coletivo
roletas
ressoam
em
coletivos
anônimos
todos
os
ônibus errados
levam ao mesmo lugar
errado
na rússia
as roletas
ressoam
em coletivos
anônimos
que levam
a lugares
errados
em serra leoa
coletivos
anônimos
em lisboa
lugares
errados
no rio
os ônibus
errados
cruzam a noite
rumo a lugares
errados
em todos
os lugares
em todos
os coletivos
os lugares
errados
atravessam
as noites
anônimas
pelas janelas
dos ônibus
errados.
até
até
que
o lugar certo
passa
mas
não para no ponto.
quinta-feira, 25 de outubro de 2012
O coma
O colo
A cama
Deste coma
Ninguém me ouve
Apenas este psicografista que ninguém irá acreditar
Ele não convence, um moleque de vinte e poucos anos,
Com cara de louco..
Quem iria acreditar?
Estou em coma
E antes que me queiram libertar
(Se por ventura acreditarem nesse pseudo-vigarista, é claro)
Saibam que não quero!
Nunca fui tão feliz antes.
Mas me deu uma vontade de ser ouvido
Afinal, sou artista.
(Ou pelo menos achava ser)
E como função de tal, devo me articular.
Fui jornaleiro, jornalista
Engraxate e maconheiro
Malabarista, pintor de puteiro
Mas antes de ocupar a maca,
Hamburgueiro do McDonald's
Estou na vanguarda.
Que eu saiba este é o primeiro poema psicografado.
Começo como o primeiro dadaísta do quase-além,
E sem terreiro.
Preto Velho High Tech
Pomba Gira 2.0
O Espiritismo New Age
E antes que os clássicos ocupem as prateleiras góspeis
Eu vou escarrrar porque sou vanguarda, porra!
Um cuspe ectoplásmico
Não fui diplomata
Nem funcionário público,
Nem assistente de biblioteca.
Nunca li um livro!
E se isso tudo tá escrito certo
É porque o 'psicografólogo' - sei lá o que ele é -
Deve ser um datilógrafo ou no mínimo um cú de ferro playboy
Mas tenho poesia no corpo!
Minha vó é contadora de história
E faço rap desde novo.
Mas não sei se eu morri.
Não sei.
A tristeza é saber que existe o bom, apesar do original
É saber que existe alguma coisa de fora do muro,
De fora da maca, existe o mundo.
De fora do coma,.. a vida de vocês.
E eu ouço, esses aparelhos apitando.
Me acordem, enquanto eu grito!
Escreve rápido, vai
Antes que eu desacorde
Desta mentira de psicografar
A alma de um fodido
Que certamente existe sim
E está em coma agora
Num hospital tão fodido quanto
E nele talvez alguém
Só de sacanagem ou sem saber
Inocule uma vacina
De café com leite
Uma média pra acordar
E começar o dia.
- Bom dia.
Dentro
Dentro do poema
Há um poeta morto
Um eu-lírico preso
E uma poesia livre
Dentro do poema
Há uma flor incolor
Um aroma inodoro
E a prova de amor
Dentro do poema
Há o erro ortográfico
Um verso sem rima
E a melhor intenção
Dentro da poema
Há a palavra,
A estrofe
E o universo.
Se é que há (pagode)
Se é que há
Sol no Japão
Se é que há
Água pra beber
Se é que há
Sede pra matar
Se é que há
Uma mulher qualquer
Se é que há
Você pode crer
Se é que há
No que Deus quiser
Se é que há
Deus na tua fé
Se é que há
Um perdão qualquer
Se é que tá
Pra amanhecer
Se é que há
Nesse duvidar
Se é que há
Chance de você
Se é que há
Ser minha mulher
Se é que há
Até que o Japão
Se é que há
Deixe escurecer
Se é que há
O copo esvaziar
Se é que há
Corpo pra morrer
Se é que há
Pelada de manhã
Se é que há
O que há de haver
Se é que há
Espera que você
Se é que há
Não ache a roda vã
Se é que há
Chance de eu te ter
Se é que há
Pelada de manhã.
Sol no Japão
Se é que há
Água pra beber
Se é que há
Sede pra matar
Se é que há
Uma mulher qualquer
Se é que há
Você pode crer
Se é que há
No que Deus quiser
Se é que há
Deus na tua fé
Se é que há
Um perdão qualquer
Se é que tá
Pra amanhecer
Se é que há
Nesse duvidar
Se é que há
Chance de você
Se é que há
Ser minha mulher
Se é que há
Até que o Japão
Se é que há
Deixe escurecer
Se é que há
O copo esvaziar
Se é que há
Corpo pra morrer
Se é que há
Pelada de manhã
Se é que há
O que há de haver
Se é que há
Espera que você
Se é que há
Não ache a roda vã
Se é que há
Chance de eu te ter
Se é que há
Pelada de manhã.
quarta-feira, 24 de outubro de 2012
As outras
Flertei-te os olhos.. por outra mulher
Senti-te o perfume.. por outra mulher
Afaguei-te o cabelo.. por outra mulher
Beijei-te a nuca.. por outra mulher
Lambi-te os seios.. por outra mulher
Disfrutei-te o orgasmo.. por outra mulher
Deitarei-me com o mundo, até tê-la por inteiro.
terça-feira, 23 de outubro de 2012
6
Deves saber que o tempo é carregado de balas
E passa em roleta russa
Na sorte improvável do ponteiro
A ponta cintilante da baioneta.
Deves saber que a tradição esconde por baixo da pompa
Suas valas rasas
A carne fétida dos fetos anômalos
É o adubo e perfume dos jardins reais.
Deves saber que não é possível saber tudo
Os sábios servem-se da seiva da ignorância
E ejaculam profecias
De conversas roubadas no bar.
Deves ter um amuleto de fé
Para lamber e cuspir o fel do mundo
E afogar a rotina num fascínio banal de céu
Ainda que cinza.
Deves acreditar no imponderável
Dormir e sonhar
E acordar do pesadelo de que o imponderável mora entre o nariz e a nuca
Mas sem esquecer de tirar as remelas dos sonhos bons.
Deves não dever nada
A nada, a ninguém
A tudo, a alguém
E ao Não.
sábado, 13 de outubro de 2012
edredom
O pulso
Pela tua vulva
O pulso
Repulsa
O púlpito (onde recitam
Tu)as pupílas
Eu nunca vi neve, senão por você
Quanto mais derretê-la só pra mim.
segunda-feira, 1 de outubro de 2012
(!)?
Com quantos deslumbres se faz um fascínio?
Com qual intensidade se pode poder alguma coisa?
Existe morte em Marte?
...
(As respostas são perguntas sem entonação.
E já me basta de respostas, o mundo.)
...
Quanto de mundo se pode auscultar?
Qual o timbre da tua ressonância?
Qual a afinação do teu silêncio?
...
domingo, 30 de setembro de 2012
Perfume
O gondoleiro estava indisposto. Dizia que havia tomado todas na noite anterior. E era cedo. A mulher, pela primeira vez naquela cidade tão particular, vislumbrava cada pedra. No verão quente mediterrâneo, a cada ponte, uma saudosa lembrança fetal de acolhimento à sombra. Lembrei subitamente do amor passado com o cheiro de merda que singrava com o barco. A especificidade do lugar não me era incomum - estive ali antes. (minha memória olfativa é mais tenaz do que a dos outros sentidos). E não fazia sentido, aquela cidade ser a mais romântica das cidades do Ocidente. Lembrei que pensava "a cidade inteira deve despejar seus dejetos n'água". E pensei novamente que talvez fizesse sentido todo aquele romantismo. Afinal, amar é sobretudo a intimidade dividida. Os humores, os fluídos corporais.. pensei no aumento do nível do mar.. e a beijei cinematograficamente.
sábado, 22 de setembro de 2012
Neblina
Nesta manhã, a turbidez das nuvens
Faz com que o sol opressivo se finja de uma apraz lua luminosa.
A nébula flor
Floresce diante de nossas mandíbulas
E o ranger de nossos dentes raspa a civilização.
Incapaz de tingir ou fabricar o quadro sem arestas da paisagem,
Voltamos-nos todos ao instinto selvagem da beleza.
Faz com que o sol opressivo se finja de uma apraz lua luminosa.
A nébula flor
Floresce diante de nossas mandíbulas
E o ranger de nossos dentes raspa a civilização.
Incapaz de tingir ou fabricar o quadro sem arestas da paisagem,
Voltamos-nos todos ao instinto selvagem da beleza.
segunda-feira, 17 de setembro de 2012
domingo, 9 de setembro de 2012
O olho nu
A diversidade de nuvens me faz lembrar da totalidade de pensamentos que incorrem pela sua cabeça.
E pela sua doença me atravessam os pesadelos e tormentas de um mar indomável e sintomaticamente obstinado em sua luta particular contra as rochas.
As arestas dos edifícios me remetem a tenacidade de tuas unhas pintadas, e os afagos dissolutos do vento.
As tuas futuras rugas, eu as vejo dos anos-luz do horizonte, a desfragmentação do universo.
As tuas futuras rugas, eu as vejo dos anos-luz do horizonte, a desfragmentação do universo.
Já não sei onde te começo e termino.
Tornei-me o intervalo entre você e não-sei-o-quê..
segunda-feira, 3 de setembro de 2012
Bilhete
Ouvi dizer que passastes dizendo que passaras ouvindo o que eu dizia.
E dizendo, sem saber que ouviras, dizia eu um dito que lhe despia.
Eu, sem nem saber que existias, hesitei então quando soube - descobri-te o ouvido,
razão-de-ser da minha boca, e de meus ditos, que guardei então,
até que não passasses mais, ou pelo menos, que não dissesses mais que me ouvia.
E quando o canto virou pranto, se foi tudo o que havia, a boca já não dizia
e o ouvido já não ouvia. Até que sobrou o tato, e a mão ávida que escrevia
bilhetes engavetados a mulher dos ouvidos que não ouvia. E foram dois, sete, mil,
até que os bilhetes foram lidos todos do fundo do livro que ninguém lia. Os olhos dela
verteram pelas letras nostalgia. A água do tempo, o transe da vida
tocou dizer que passavas lendo, o que a minha mão trêmula não mais sentia.
sábado, 1 de setembro de 2012
Verborragia
Tua vulva é o vulgo que
Me envolve
Na encruzilhada do quarto
Vejo teus vultos de vidro
Virados do avesso:
Os travesseiros que guardam
teus ácaros;
Os vácuos por entre teus vincos;
E os versos ao vê-la de quatro.
Me envolve
Na encruzilhada do quarto
Vejo teus vultos de vidro
Virados do avesso:
Os travesseiros que guardam
teus ácaros;
Os vácuos por entre teus vincos;
E os versos ao vê-la de quatro.
quinta-feira, 30 de agosto de 2012
Sisenêg
Criei deus a Minha imagem e semelhança
Quando o sono era tão pesado que não se podia dormir.
Primeiro, fiz o escuro da claridade opressiva do universo;
Depois, o vácuo entre os planetas e outros corpos cósmicos.
Sequei os rios e despedacei montanhas.
Por fim, fiz do homem, o barro, e da mulher, a própria maçã que vomitei.
Quando o sono era tão pesado que não se podia dormir.
Primeiro, fiz o escuro da claridade opressiva do universo;
Depois, o vácuo entre os planetas e outros corpos cósmicos.
Sequei os rios e despedacei montanhas.
Por fim, fiz do homem, o barro, e da mulher, a própria maçã que vomitei.
terça-feira, 21 de agosto de 2012
Quântica
De repente.
Sempre ‘de repente’.
( Como se não fosse o olhar sobre o fato.
Como se não fosse o fato que decantou no tempo que o olhar não viu. )
Bom, de qualquer forma,
de repente (!) parece que, por detrás dessa cortina, duas
frações concomitaram de acontecer.
Mas não há palco.
Não há sequer o tempo por detrás da cortina.
E com o perdão do verbo, não há coincidência quando se é o
narrador.
Tão somente surpresas deliberadas..
Mas lá, há apenas a cortina defronte ao público.
Uma cortina vermelha que vela tudo que desejássemos ver.
E eu nessa curiosidade islâmica, vivo na espreita do engano
de querer o eterno(,) de repente -
Quando a simultaneidade simulada do quadro é o próprio
tempo.
E quando eu já narro tudo sendo eu mesmo os dois lados da
cortina.
segunda-feira, 20 de agosto de 2012
Prato executivo
Hoje as pessoas não matam pelo medo de verem o sangue.
Pelo nojo de terem que limpar a morte da rua.
Pela preguiça do ter que fazer.
Hoje, não mais que ontem..
0 Esse papo tá me dobrando o estômago.0
- Garçom, um filé bem passado!
Pelo nojo de terem que limpar a morte da rua.
Pela preguiça do ter que fazer.
Hoje, não mais que ontem..
0 Esse papo tá me dobrando o estômago.0
- Garçom, um filé bem passado!
domingo, 19 de agosto de 2012
O mar e o vento
Venda-me o mar
No teu dia de chuva
Cante-me o vento
Sem que haja o ar
E eu, feito filósofo da tua fisiologia
Descansarei como um rei
Na transa dos teus lábios
Afogarei os dias e noites em tua silhueta
Num dos languidos sulcos de tua boceta
Até que o tempo conte ao certo
As estações porvir da revolução
E quando o cerco cessar a paciência
Ver o núcleo apodrecer em reverência
Meu reino entregue a tua natureza
A tempestade alheia, a destruição.
Incestologia
Desta beira ocidental
europo-ibérica
Abrandar a violência das vagas atlânticas
O coito natural
Portugal, esse teu lácio
marginal
Infecto
de prosa e profecia
Do oráculo olho de Camões
E da ferrugem acre dos canhões,
Venha pois se desfazer
no chiclete dialético
Da cana,
deitada édipa a cama
Com seu filho pintado brasil
Do vermelho do pau ao singre da nau
Adormecido peito juvenil
Maculado
Pela boca da gente
Pela babel das minorias que te lambem
O continente
Tuas matas mortas
Os contingentes
que te marcam
desse precipício aberto
de mar
que te divide
Nasceste gloriosamente imundo
Fruto da ibéria e da orgia paga pelo o mundo
O filho pródigo,
espelho do pai
Volte feito Ulisses
ao colo do mundo.
domingo, 12 de agosto de 2012
Saturno II
Contei-me para acordar. Dois
olhos, mãos, pés. Nariz e boca. ‘Estou vivo’. Água na cara pra respirar. Pasta
e dente. Cuspe. Sol.
- Tive um sonho tão ruim hoje.
Cuspe.
- Sonhei com Saturno. Sonhei que
estava em Saturno com uns amigos. Parecia a Terra, mas era Saturno. A gente
dava voltas por aí falando com as pessoas. Parecia uma dessas cidades pequenas europeias.
Um espírito decadente, mas charmoso. Meio bucólico.
Mijo.
- A gente dava voltas. Mas eu
parecia estar de ressaca. Não lembrava bem do que tinha acontecido na noite
anterior. Mas sabia que tinha acontecido algo. Uma festa. Um grande evento, sei
lá. E sentia um ar pesado nesse esquecimento.
Descarga.
- Depois do passeio, o clima foi
ficando mais fechado. Voltei para o meu quarto, e haviam pedaços de corpos
mutilados, e muito sangue. Nas paredes e no chão. Era horrível. E eu parecia
recordar do que tinha feito na noite anterior.
Torneira. Água.
Toalha.
Dei ‘bom dia’ e pensei no sonho
dela.
- Toma um banho comigo?
segunda-feira, 6 de agosto de 2012
Soturno
Encontrei Saturno numa esquina em Buenos Aires. Movia-se rápido, fugaz. Saturno foi como nos sonhos monocromáticos, embora menor, dada a distância e a capacidade do telescópio. Inesquecível Saturno. Eu penso em Saturno e penso se Saturno me encontrou algum dia..
domingo, 22 de julho de 2012
Dialética incendiária
Propagar o germe em meio as propagandas propaladas
Diante dos assépticos foros da formalidade, defecar-se
Sem pudor disseminar a dor pelos castelos anestésicos
E servir de alimento aos porcos podres orquídeas raras
Publicar no teu púbis o poema mais baixo, metaforizado
Profeticamente no aborto metamórfico do teu orgasmo
E das estruturas mais sólidas de tuas convicções, sentir
A morte nascer de tua alma como a lótus brotar da lama.
Diante dos assépticos foros da formalidade, defecar-se
Sem pudor disseminar a dor pelos castelos anestésicos
E servir de alimento aos porcos podres orquídeas raras
Publicar no teu púbis o poema mais baixo, metaforizado
Profeticamente no aborto metamórfico do teu orgasmo
E das estruturas mais sólidas de tuas convicções, sentir
A morte nascer de tua alma como a lótus brotar da lama.
segunda-feira, 16 de julho de 2012
Cor
Ha um éter hipóteses não conjuradas que transcrevem o Se.
E se as hipoteses são também fatos não conjurados, faz-se de materia escura o sonho.
E o sono que antecede o sonho sonha um sonho calmo.
O pesar das pálpebras e o bocejo são reais.
Os calos e o cansaço são reais.
Verte material o insumo dos sonhos.
E da teoria, a hipótese.
A poese, o Se.
A lágrima, a grama.
A sobriedade insólita tende ao ébrio.
E a engenharia dos músculos é a da sinapse onírica.
A policromia do escuro, a dúvida de estar acordado.
E se as hipoteses são também fatos não conjurados, faz-se de materia escura o sonho.
E o sono que antecede o sonho sonha um sonho calmo.
O pesar das pálpebras e o bocejo são reais.
Os calos e o cansaço são reais.
Verte material o insumo dos sonhos.
E da teoria, a hipótese.
A poese, o Se.
A lágrima, a grama.
A sobriedade insólita tende ao ébrio.
E a engenharia dos músculos é a da sinapse onírica.
A policromia do escuro, a dúvida de estar acordado.
segunda-feira, 25 de junho de 2012
Cadeia de carbono
Números não alimentam
Filosofias não alimentam
Poesias não alimentam
Qual o teu fòlego,
Etiópia
?
Filosofias não alimentam
Poesias não alimentam
Qual o teu fòlego,
Etiópia
?
segunda-feira, 18 de junho de 2012
domingo, 10 de junho de 2012
Domíngua
A escala das sinas
A encruzilhada,
a esquina
ululante às ruas
que se cortam
-suicidas!
O estado natural domingo
míngua água rarefeita nuvem-
Suspensa, alheia
à urbe-
insustenta-se
fel
Areia
o desaguar débil
desigual
o vazio dominical
Oh chuva que acarece e inverno
amenidade do Rio
Borradas luzes da Central
molhada
A noite cinza
Conseguinte imune
Com
sequência insone
Da segunda solar
Aterradora
Quando a margem vai ao centro
E quando tudo se esgota
Quando deveria começar
E todos inconscientes
Rezam baixo
pra que a vaga livre nos transborde
aos subterraneos aprazíveis de cad'alma
tornemo-nos pois relíquias de um aúreo tempo
ao invés do perecível da rotina mutilante
A encruzilhada,
a esquina
ululante às ruas
que se cortam
-suicidas!
O estado natural domingo
míngua água rarefeita nuvem-
Suspensa, alheia
à urbe-
insustenta-se
fel
Areia
o desaguar débil
desigual
o vazio dominical
Oh chuva que acarece e inverno
amenidade do Rio
Borradas luzes da Central
molhada
A noite cinza
Conseguinte imune
Com
sequência insone
Da segunda solar
Aterradora
Quando a margem vai ao centro
E quando tudo se esgota
Quando deveria começar
E todos inconscientes
Rezam baixo
pra que a vaga livre nos transborde
aos subterraneos aprazíveis de cad'alma
tornemo-nos pois relíquias de um aúreo tempo
ao invés do perecível da rotina mutilante
segunda-feira, 4 de junho de 2012
Guerra suja
Na cova raza das bochechas
Um genocídio de mim /
Padeci ao insinuar-te nua
A escuridão dos olhos
Proponho o cessar fogo
Depois deste cigarro, é claro
Antes que o garrote
Me sobre como alternativa
A minha pátria já é sua
Meu lábaro já é seu
Hasteio-te com ufanismo
Pelos os anais da tua história
Um genocídio de mim /
Padeci ao insinuar-te nua
A escuridão dos olhos
Proponho o cessar fogo
Depois deste cigarro, é claro
Antes que o garrote
Me sobre como alternativa
A minha pátria já é sua
Meu lábaro já é seu
Hasteio-te com ufanismo
Pelos os anais da tua história
Irreversível
Teu nome é um verbete parnasiano
Na prosa podre do mundo
Uma ilha na ressaca universal
O presente no atraso do tempo
O cruel é saber
E não ter como salvar
Fatalmente lutar
Contra o rio imperdoável
Ainda que sobrem na margem
Fragmentos de esperança
Não restam mais lugares
Nem sequer a lembrança
Guardo-te a perfeição
No esquecimento.
sábado, 26 de maio de 2012
Estalactite
Florescem fétidos poros
Da racha fresca do asfalto
A candura brota do corpo
Da gruta escura do olho
A gota
A gota
A gota
A gota
Estalagmite
O choro sem limite
E o molde infiltrado no breu
De quantas lágrimas se faz o eu?
Com quanta terra se destila o céu?
Da racha fresca do asfalto
A candura brota do corpo
Da gruta escura do olho
A gota
A gota
A gota
A gota
Estalagmite
O choro sem limite
E o molde infiltrado no breu
De quantas lágrimas se faz o eu?
Com quanta terra se destila o céu?
na glote
Você, descrente de mim
Os deuses descrentes de mim
Se danam
Engasgados com a minha existência
Atravessada
No rabo de olho
Que abana com deleite
Venha,
Deite.
Você,
Tu
que alucina
O vício dos meus passos
Que cintila o aço
Que farfalha a grama
Que eu piso
Que eu amasso
Que pesa uma
um tanto quanto
A outra você
Você novamente
Encruzilhada
No cruzar dessas pernas
A cruzada
Você novamente
E o feixe de sol
Você, amarrotada de mim
Você, descrente de mim...
Os deuses descrentes de mim
Se danam
Engasgados com a minha existência
Atravessada
No rabo de olho
Que abana com deleite
Venha,
Deite.
Você,
Tu
que alucina
O vício dos meus passos
Que cintila o aço
Que farfalha a grama
Que eu piso
Que eu amasso
Que pesa uma
um tanto quanto
A outra você
Você novamente
Encruzilhada
No cruzar dessas pernas
A cruzada
Você novamente
E o feixe de sol
Você, amarrotada de mim
Você, descrente de mim...
terça-feira, 22 de maio de 2012
Epitáfio
Cada frase tem seus vincos vazios
As idéias são ligas de fragmentos substituíveis
Sou autóctone ao arquipelago inabitavel que me define
Maldita a primeira palavra,
Um esboço murmurado
Do progenitor talvez- o diminutivo
Que feito pecado natural
Me usurpou a liberdade, o grito
O choro selvagem.
Desde então, a linguagem apodreceu-me.
Meu semblante pueril amadureceu
Curtido no vitelo amargo da realidade
Resta-me o protesto,
- e o que mais haveria de restar?
Na disposição insular das coisas
Escritas - e de que outra forma poderiam ser?
Os anos se arrastam com a morosidade nauseante
Do dia, que se põe e nasce, sacralmente sem cansar.
Mas se hei de morrer, que seja em protesto
Que seja sobretudo por sobre a língua-morta
Que a erosão e o vento apaguem cada talhe letrado da lápide
E meu epitáfio se torne então liso como a tábula do tempo
As idéias são ligas de fragmentos substituíveis
Sou autóctone ao arquipelago inabitavel que me define
Maldita a primeira palavra,
Um esboço murmurado
Do progenitor talvez- o diminutivo
Que feito pecado natural
Me usurpou a liberdade, o grito
O choro selvagem.
Desde então, a linguagem apodreceu-me.
Meu semblante pueril amadureceu
Curtido no vitelo amargo da realidade
Resta-me o protesto,
- e o que mais haveria de restar?
Na disposição insular das coisas
Escritas - e de que outra forma poderiam ser?
Os anos se arrastam com a morosidade nauseante
Do dia, que se põe e nasce, sacralmente sem cansar.
Mas se hei de morrer, que seja em protesto
Que seja sobretudo por sobre a língua-morta
Que a erosão e o vento apaguem cada talhe letrado da lápide
E meu epitáfio se torne então liso como a tábula do tempo
quinta-feira, 10 de maio de 2012
Projeção (ou Bala Perdida)
Não quando mas onde
Não onde mas é
Não sendo se foi.
Encontro-me
Quando os mais oblíquos sentidos
Atravessam-me.
Verso
Onde do avesso a lua transcreve o sol
Disperso.
De perto,
Sendo o reflexo repentino como um tiro,
Perdi-me.
terça-feira, 1 de maio de 2012
Antologia do preciso (de improviso)
A poesia precisa
A poesia precisa ser esclarecida
Ungida de luz
Mesmo
Mesmo que a inspiração
Mesmo que a inspiração tenha olhos fechados
Mesmo que a inspiração
Venha a esmo
No semblante da mulher amada
E mesmo que o semblante
Já não seja
A poesia deve ainda vir
Mesmo que a esmo
A inspiração venha ainda sim
No semblante amante da mulher
E mesmo que o ensejo seja assombro
Que venha com vontade
Que venha com devir
A poesia deve ir
Ainda que ilegal ou imoral
A poesia criminosa
Tem o direito de permanecer falada
Até que se dispa de ausência
E venha nua
Atravessando o corredor
No disparate da rua
Seja tomada aos tragos
A poesia precisa
Na medida certa to brilho
Bambar no meio-fio
Ao silvo imóvel dos carros
A poesia precisa
Incumbar-se de poema
Um poema dócil
Mas latente de demônios
Feito o flerte intermitente
Da calada amante noite
Na espera programada do sol
Precisamente então
A palavra inflamada de desejo
Pousará as asas sobre o mundo
O teu poema preciso
A erupção do teu ciso
E toda a solar solidão
Finalmente clara como o Este
A poesia te pegará no colo
Sussurando a rima indecifrável
Até o ermo do sentido
Com toda a imperfeição
De que é preciso
Trair-se com o improviso.
A poesia precisa ser esclarecida
Ungida de luz
Mesmo
Mesmo que a inspiração
Mesmo que a inspiração tenha olhos fechados
Mesmo que a inspiração
Venha a esmo
No semblante da mulher amada
E mesmo que o semblante
Já não seja
A poesia deve ainda vir
Mesmo que a esmo
A inspiração venha ainda sim
No semblante amante da mulher
E mesmo que o ensejo seja assombro
Que venha com vontade
Que venha com devir
A poesia deve ir
Ainda que ilegal ou imoral
A poesia criminosa
Tem o direito de permanecer falada
Até que se dispa de ausência
E venha nua
Atravessando o corredor
No disparate da rua
Seja tomada aos tragos
A poesia precisa
Na medida certa to brilho
Bambar no meio-fio
Ao silvo imóvel dos carros
A poesia precisa
Incumbar-se de poema
Um poema dócil
Mas latente de demônios
Feito o flerte intermitente
Da calada amante noite
Na espera programada do sol
Precisamente então
A palavra inflamada de desejo
Pousará as asas sobre o mundo
O teu poema preciso
A erupção do teu ciso
E toda a solar solidão
Finalmente clara como o Este
A poesia te pegará no colo
Sussurando a rima indecifrável
Até o ermo do sentido
Com toda a imperfeição
De que é preciso
Trair-se com o improviso.
quinta-feira, 19 de abril de 2012
A andorinha
A cynical howl leaves as a mark
The pavement will rise by my trunks
And in the poplar of the Paper City
I'll light a cigarette to hollow the wind
And then
The swallow will fly
As it notices that Diogenes lamp
Turned to a cloudy limelight
That goes infinetelyLooking for the honest man
Who lies still relentless in the darkness.
domingo, 1 de abril de 2012
domingo, 11 de março de 2012
O murro
Ouço
O cheiro
da boca
Tua
Eu te sinto
Oca
Decá
Doutro
lado
Mudo
do mundo
O tato
Ecoa
na Dianteira
distante do fato
Que sou
Sobre
natural
mente
Capaz
de ouvir
O cheiro
da
Tua boca
do outro
lado do muro
do lado do Outro
oMundo
Eu urro
O cheiro
da tua boca
Eu lambo
A música
Datua pele
Ea sede
Que me impele
A beber a tua voz
Da foz
Inebriante
do tempo
Um brinde
E um beijo
nas bochechas
Virtuais
do rosto
Da derme
De vento
Do perfume
Ao osso.
O cheiro
da boca
Tua
Eu te sinto
Oca
Decá
Doutro
lado
Mudo
do mundo
O tato
Ecoa
na Dianteira
distante do fato
Que sou
Sobre
natural
mente
Capaz
de ouvir
O cheiro
da
Tua boca
do outro
lado do muro
do lado do Outro
oMundo
Eu urro
O cheiro
da tua boca
Eu lambo
A música
Datua pele
Ea sede
Que me impele
A beber a tua voz
Da foz
Inebriante
do tempo
Um brinde
E um beijo
nas bochechas
Virtuais
do rosto
Da derme
De vento
Do perfume
Ao osso.
domingo, 4 de março de 2012
O beijo em breu
Dessas inconsequências
De causas perdidas
Encontrei-me dois
No acaso de um lábio
E quando a ribalta sem cor
Na altura casual da dor
Precipitava-me inerte
Com braços abertos
Vi luzir o fim
Como um poente ameno
De cirrus carmim
E no devir dos outros dias
Tua nuca andará por aí
Em outros corpos
E por outros copos
Proclamarei filosofias
Em outros bares pardos de você
Assim os fatos sucederão recessivos
Até que nos esqueçam
Ou que esqueçamos uns aos outros
Na imemorável dança do universo.
De causas perdidas
Encontrei-me dois
No acaso de um lábio
E quando a ribalta sem cor
Na altura casual da dor
Precipitava-me inerte
Com braços abertos
Vi luzir o fim
Como um poente ameno
De cirrus carmim
E no devir dos outros dias
Tua nuca andará por aí
Em outros corpos
E por outros copos
Proclamarei filosofias
Em outros bares pardos de você
Assim os fatos sucederão recessivos
Até que nos esqueçam
Ou que esqueçamos uns aos outros
Na imemorável dança do universo.
sexta-feira, 27 de janeiro de 2012
Poema em céu azul
Enquanto as nuvens desmoronam
Na esquina do horizonte
Te encontro menina
Na hora marcada do infinito
O atraso de uma vida
E um poema enfeitado de escombros.
Na esquina do horizonte
Te encontro menina
Na hora marcada do infinito
O atraso de uma vida
E um poema enfeitado de escombros.
terça-feira, 17 de janeiro de 2012
Náusea
Tenho singrado o sagrado
Ao lado de lá
Sangrado, é verdade
Um sangue túmido
Coagulado
Ao lado de lá
Eu sangro
Eu sigo singrando
Esse mar de sangue
Esse meu sangue de mar
Que sangra diante o sagrado
Que singra o sagrado nas veias
De velas içadas em meu sagrado mar.
Eu sigo o signo torpe da palavra
Numa ressaca de você.
terça-feira, 3 de janeiro de 2012
Elegia móvel
Como o tempo, como eu e o vento
Se move em direção a falta
E quando ao fim, a incompletude salta
Sem a força do movimento
Tal qual o ontem é uma miragem movediça,
Não se sente a premissa da viagem
Mas o céu indiferente da partida
Como o vento não curva e o tempo não volta
Eu te amo com a irreversível culpa
De não saber quem fui
De não saber quem sou
Em não saber quando
é que a aurora ensaia o ocaso
E caso falte de dizer o contrário,
Os versos e a vida tem fim
Ainda que não acabem
Se move em direção a falta
E quando ao fim, a incompletude salta
Sem a força do movimento
Tal qual o ontem é uma miragem movediça,
Não se sente a premissa da viagem
Mas o céu indiferente da partida
Como o vento não curva e o tempo não volta
Eu te amo com a irreversível culpa
De não saber quem fui
De não saber quem sou
Em não saber quando
é que a aurora ensaia o ocaso
E caso falte de dizer o contrário,
Os versos e a vida tem fim
Ainda que não acabem
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