terça-feira, 1 de maio de 2012

Antologia do preciso (de improviso)

A poesia precisa
A poesia precisa ser esclarecida
Ungida de luz
Mesmo
Mesmo que a inspiração
Mesmo que a inspiração tenha olhos fechados

Mesmo que a inspiração
Venha a esmo
No semblante da mulher amada
E mesmo que o semblante
Já não seja
A poesia deve ainda vir

Mesmo que a esmo
A inspiração venha ainda sim
No semblante amante da mulher
E mesmo que o ensejo seja assombro
Que venha com vontade
Que venha com devir

A poesia deve ir
Ainda que ilegal ou imoral
A poesia criminosa
Tem o direito de permanecer falada
Até que se dispa de ausência
E venha nua
Atravessando o corredor

No disparate da rua
Seja tomada aos tragos
A poesia precisa
Na medida certa to brilho
Bambar no meio-fio
Ao silvo imóvel dos carros

A poesia precisa
Incumbar-se de poema
Um poema dócil
Mas latente de demônios
Feito o flerte intermitente
Da calada amante noite
Na espera programada do sol

Precisamente então
A palavra inflamada de desejo
Pousará as asas sobre o mundo
O teu poema preciso
A erupção do teu ciso
E toda a solar solidão

Finalmente clara como o Este
A poesia te pegará no colo
Sussurando a rima indecifrável
Até o ermo do sentido
Com toda a imperfeição
De que é preciso
Trair-se com o improviso.






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