quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

O menestrel e as meretrizes

Sentinelas um desconcerto fecundo ao tocar-lhes os ossos. Em cada movimento de suas articulações as meretrizes pendiam à um lado. Obliqua no meio das prostitutas, minha poesia as atravessava. Se escrevo agora é porque me foi dado o amor de todas elas. E não há de se escrever sem o amor. Sem o amor e sem a chuva. Tenho a teoria de que toda alquímica do universo é a transubstanciação de qualquer coisa que veio de um substrato de chuva com amor. Calor é verdade, afinal nada se cria sem o fogo. Tal que é outro lugar de onde o amor surge, do atrito. De uma fagulha de olhos, mãos ou sexos, enfim. O ponto é que me apaixonei por elas num desses movimentos. É bem verdade que não durou muito, o que não é condição alguma para a intensidade. Amei-as como se ama uma personagem belamente descrita num livro, amei-as como se ama o lusco-fusco. E não há amor mais verdadeiro que o desse platonismo de amar por um semblante. Esse amor é mais verdadeiro do que os que começam pelas mentiras e convenções sociais, por gestos pensados e repensados. Todavia há de se ouvir os cientistas que dizem que o sol não é amarelo ou laranja, mas branco. E são as impurezas, merdas atmosféricas e gases ordinários ao universo que filtram esse branco, tornando-o nuances e matizes inconcebíveis. Ora não amo as mulheres perfeitas - como já foi percebido (aliás o branco não tem graça alguma)- e é justamente suas imperfeições perfeitamente ensaiadas que me fazem cair sobre seus pés. Eis o que é a beleza senão os olhos de quem vê, e a pele de quem toca, senão o lamber de cada gota de mentira como um vira-lata lambe seu lixo. O suprasumo dos ébrios que a cantam em cada esquina e o apaixonado na hora derradeira. Eis a beleza, a força que move o mundo e os meus quadriz nas meretrizes.

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