sábado, 8 de janeiro de 2011
À bailarina da escuridão
Eu aceno com as mãos espalmadas à frente como que me despedindo do que ainda não encontrei. Vou tateando o ar imerso no escuro. Na cautela de esperar pelo pior, ensaio um descompasso com meu próprio corpo. Meu corpo que não é, senão escuro. Tudo é resumido em som, e na firmeza do chão com os pés trêmulos. O som também não é, é a espera do som, que faz o silêncio se confundir com um zumbido uníssono. E como o vazio pertence a todos os conjuntos, eu sou a interseção do silêncio. Na espera de um corpo, existo sem luz. E sou só regozijo quando te reconheço com os dedos. Espero, não o nascer do sol, mas o raiar de um dia que nada mais é do que a morte da terra. Todo dia a terra morre pra ver o sol, e nada pode ser mais lindo que contemplar sua ressurreição na noite, desabotoando teu vestido como que tua íris, que de tão negra casa com a noite numa promessa sem fim. Para alguns, que ainda não se deram conta do escuro, eu sou louco. Para mim a loucura é só lucidez. Aos que não aprendem a dançar no escuro, na hora derradeira são puro temor. Ironicamente temor e a morte são anagramas de um mesmo léxico. Para mim que rio da vida, meu destino é o passado de minha morte. E no meio tempo te tiro pra dançar. Seremos eternamente estranhos, eternamente apaixonados a primeira vista. O que os olhos não vêem ao coração é só impulso. E segurando teu pulso, o silêncio se torna tua sístole. Sinto-lhe, e isso me basta como a melhor mentira mal contada.
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