A doença já me chega como um mito que ascende pelo mar. Uma profecia não profética que aos poucos me mutila. Mas a bem da verdade, é que sou parte e consequência da moléstia. Permuto contra a morte cada célula. Me desaproprio de mim pela continuidade da Transformação. Ela que no fundo, é a própria face da violência em seu estado bruto.
Enquanto me engano pelo Equilíbrio. A inércia do pêndulo sem fim.
terça-feira, 17 de dezembro de 2019
terça-feira, 26 de novembro de 2019
Aos meus
Caio
Como quem paira
Do avesso
E danço
A densa
Dança do tropeço
Me sujo
Da limpeza
Que me pesa
Mas levito
E revido
Pela mordida
Do meu beijo
O alimento
Que começa
E que me encerra
Os teus olhos
Refletidos
De infinito
Como quem paira
Do avesso
E danço
A densa
Dança do tropeço
Me sujo
Da limpeza
Que me pesa
Mas levito
E revido
Pela mordida
Do meu beijo
O alimento
Que começa
E que me encerra
Os teus olhos
Refletidos
De infinito
terça-feira, 29 de outubro de 2019
Epifania da fome
Meu presente indicativo
No plural da primeira pessoa
Que atravessa a rua
Pedindo esmolas
Para as almas já perdidas
De tanto jogar o jogo.
No plural da primeira pessoa
Que atravessa a rua
Pedindo esmolas
Para as almas já perdidas
De tanto jogar o jogo.
quarta-feira, 16 de outubro de 2019
Relato 1
Há 1 mês e meio atrás, eu projetava a dimensão que a paternidade ia ter na minha vida. Já havia sentido o movimento dos meus filhos na ponta dos dedos, visto e descoberto as suas silhuetas em branco e preto e até ouvido seus corações acelerados. Mas a ficha não havia caído.
Quando eles nasceram, a sensação era a da catarse mais pura.. um sentimento total de quem se depara com o indescritível. Nesse último mês, a minha vida se transformou em absoluto. Esse sentimento indefinido da hora que eles gritaram para o mundo já se tornou por alguns momentos o maior dos medos, a quase exaustão, mas sobretudo, a sensação latente e crescente do maior amor do mundo.
Dois seres na função total de se adaptarem a um mundo que não escolheram nascer. Eles, na expressão máxima da vida e da sobrevivência, na sua relação com todos a sua volta e principalmente com a força descomunal da maternidade, vem me ensinando mais do que qualquer livro ou experiência.
Passado o dia dos professores, eu agradeço por essa sabedoria constante que me chega de presente todos os dias através deles e do que eles causam nos outros. Apesar de toda falência cognitiva que nos acostumamos e que nos distancia uns dos outros, a vida é um elo que nos reconecta com o essencial. Nela cabe um mar de ensinamentos maior que tudo.
Sou cada vez mais as partes daquilo que já não posso mais controlar, mas que me são por inteiro. Repletos de afetos, meus filhos que aos poucos se tornam cada vez mais parte do mundo do que minha, me tornam cada vez mais responsável por todo o resto. Agradeço por esse sentimento de partilha mas também de pertencimento.
Obrigado.
Quando eles nasceram, a sensação era a da catarse mais pura.. um sentimento total de quem se depara com o indescritível. Nesse último mês, a minha vida se transformou em absoluto. Esse sentimento indefinido da hora que eles gritaram para o mundo já se tornou por alguns momentos o maior dos medos, a quase exaustão, mas sobretudo, a sensação latente e crescente do maior amor do mundo.
Dois seres na função total de se adaptarem a um mundo que não escolheram nascer. Eles, na expressão máxima da vida e da sobrevivência, na sua relação com todos a sua volta e principalmente com a força descomunal da maternidade, vem me ensinando mais do que qualquer livro ou experiência.
Passado o dia dos professores, eu agradeço por essa sabedoria constante que me chega de presente todos os dias através deles e do que eles causam nos outros. Apesar de toda falência cognitiva que nos acostumamos e que nos distancia uns dos outros, a vida é um elo que nos reconecta com o essencial. Nela cabe um mar de ensinamentos maior que tudo.
Sou cada vez mais as partes daquilo que já não posso mais controlar, mas que me são por inteiro. Repletos de afetos, meus filhos que aos poucos se tornam cada vez mais parte do mundo do que minha, me tornam cada vez mais responsável por todo o resto. Agradeço por esse sentimento de partilha mas também de pertencimento.
Obrigado.
quinta-feira, 3 de outubro de 2019
Imanência
O cansaço já se torna a parte fundamental da minha estrutura.
E meus sonhos são tangíveis como a chuva.
Não há futuro.
E também não derivo da eternidade do presente.
Mas sinto a saudade correndo em minhas veias.
Talvez eu seja, essa memória incompleta que vaga, como um corpo que procura o equilíbrio osmótico.
Ou ainda um coletivo singular no sentido da dissolução libertadora ou da reprodução revolucionária dos afetos..
Meus filhos choram de fome.
Nada é mais potente que isso.
E meus sonhos são tangíveis como a chuva.
Não há futuro.
E também não derivo da eternidade do presente.
Mas sinto a saudade correndo em minhas veias.
Talvez eu seja, essa memória incompleta que vaga, como um corpo que procura o equilíbrio osmótico.
Ou ainda um coletivo singular no sentido da dissolução libertadora ou da reprodução revolucionária dos afetos..
Meus filhos choram de fome.
Nada é mais potente que isso.
sábado, 21 de setembro de 2019
Imagine
Se toda criança
Fosse sua
Se toda morte
Fosse dos seus
Se toda beleza
Fosse nua
Se todo outro
Fosse eu
Fosse sua
Se toda morte
Fosse dos seus
Se toda beleza
Fosse nua
Se todo outro
Fosse eu
quinta-feira, 12 de setembro de 2019
Livre-arbítrio
Pelo canal do umbigo
A ácida seiva que te nutre.
Você não pode escolher.
Pelo canal da vagina
A ácida brecha que te abre.
Você não pode escolher.
Pelo canal dos mamilos
O ácido leite que te sacia.
Você não pode escolher.
Pelo canal do estômago
O suco gástrico que te corrói.
Você não pode escolher.
Pelo canal dos ouvidos
A ácida voz que te chama.
Você não pode escolher.
Pelo canal da laringe
A ácida resposta do mundo.
Você não pode escolher.
Pelo canal do desejo
O doce gozo que te ilude
A achar que você pode escolher.
Pelo canal do tempo
O ácido fim que te espera.
Você não pode escolher.
A ácida seiva que te nutre.
Você não pode escolher.
Pelo canal da vagina
A ácida brecha que te abre.
Você não pode escolher.
Pelo canal dos mamilos
O ácido leite que te sacia.
Você não pode escolher.
Pelo canal do estômago
O suco gástrico que te corrói.
Você não pode escolher.
Pelo canal dos ouvidos
A ácida voz que te chama.
Você não pode escolher.
Pelo canal da laringe
A ácida resposta do mundo.
Você não pode escolher.
Pelo canal do desejo
O doce gozo que te ilude
A achar que você pode escolher.
Pelo canal do tempo
O ácido fim que te espera.
Você não pode escolher.
quarta-feira, 11 de setembro de 2019
Casa incompleta
Pensa na palavra
Malabaris
Pensa na palavra
Malabaris
Seja um louva-deus
Reze com a foice
Ceife a palavra pelos ares
Malabaris
Pensa na palavra
Malabaris
Seja um louva-deus
Reze com a foice
Ceife a palavra pelos ares
Pensa na palavra
Chamariz
Pensa na palavra
Chamariz
O desejo é um cheiro no vento
A chuva pelo encanamento
A palavra afogada no chafariz
Pensa na palavra
Que que se quiz
Pensa na palavra
Que que se quiz
Um queijo
Que é a própria ratoeira
A palavra
No gozo da meretriz
Chamariz
Pensa na palavra
Chamariz
O desejo é um cheiro no vento
A chuva pelo encanamento
A palavra afogada no chafariz
Pensa na palavra
Que que se quiz
Pensa na palavra
Que que se quiz
Um queijo
Que é a própria ratoeira
A palavra
No gozo da meretriz
sexta-feira, 30 de agosto de 2019
Fronteira
Apodrece a noite enluarada
Tranço o transe que transito
Na ribalta da cidade sitiada
Na ribalta da cidade sitiada
Reflito o refluxo em que hesito
A sorte é uma lâmina afiada
A morte é o pedaço que limito
A morte é o pedaço que limito
quinta-feira, 15 de agosto de 2019
Soneto da transmutação
Sigo sentado ao convés
Na conveniência do vento
Sinto entre os dedos dos pés
A calma do mar violento
Salga o doce na boca
A espuma engana a visão
A força do mar é oca
À rocha da desilusão
Mas sábia é a força do tempo
A consistência do ar
Diz que "tudo é movimento"
Da pedra à areia do mar
Ao móvel monumento
Do breu em brilho solar
Na conveniência do vento
Sinto entre os dedos dos pés
A calma do mar violento
Salga o doce na boca
A espuma engana a visão
A força do mar é oca
À rocha da desilusão
Mas sábia é a força do tempo
A consistência do ar
Diz que "tudo é movimento"
Da pedra à areia do mar
Ao móvel monumento
Do breu em brilho solar
domingo, 11 de agosto de 2019
Poema ao pai
Me deparo
Comigo
Num semblante seu
No queixo
E no jeito de olhar o mundo
Me deparo
Comigo
Olhando a mim mesmo
Através de você
Me lembro
De como dilacerei
Um sonho
Quando te pedi
Ainda pequeno
A nunca mais me chamar
De Petico.
O meu maior genocídio.
Me deparo
Com meu futuro
Agora
Nessa lembrança
Imanente
Que aguarda e olha
Dois peticos
Como quem olha a você.
Comigo
Num semblante seu
No queixo
E no jeito de olhar o mundo
Me deparo
Comigo
Olhando a mim mesmo
Através de você
Me lembro
De como dilacerei
Um sonho
Quando te pedi
Ainda pequeno
A nunca mais me chamar
De Petico.
O meu maior genocídio.
Me deparo
Com meu futuro
Agora
Nessa lembrança
Imanente
Que aguarda e olha
Dois peticos
Como quem olha a você.
quarta-feira, 31 de julho de 2019
Tatazinha
O relance no olho
Um ipê rosa no meio da noite iluminada
A lembrnaça na forma da saudade de você.
domingo, 28 de julho de 2019
Atestado
Você caminha o passo dos mortais.
Dobra a esquina e se depara com o impossível.
Percebe que ele é mais frequente do que se imagina.
Como um micróbio ou ácaro, vive em colônias em seu travesseiro.
Você acaba por se perceber como sendo alimento do impossível.
Um substrato em que ele contamina e mutila aos poucos.
De repente, o impossível já infectou qualquer perspectiva.
Agora, você está imóvel ou se movimenta em função de sua inércia em relação a ele.
Tudo começou naquela esquina.
E passou então a estar tomado pelo impossível.
É ele quem escreve o texto como um atestado de óbito da ilusão.
Ela que via a pluripotência em cada caminho.
Neste momento, asfixiada pelo impossível.
Dobra a esquina e se depara com o impossível.
Percebe que ele é mais frequente do que se imagina.
Como um micróbio ou ácaro, vive em colônias em seu travesseiro.
Você acaba por se perceber como sendo alimento do impossível.
Um substrato em que ele contamina e mutila aos poucos.
De repente, o impossível já infectou qualquer perspectiva.
Agora, você está imóvel ou se movimenta em função de sua inércia em relação a ele.
Tudo começou naquela esquina.
E passou então a estar tomado pelo impossível.
É ele quem escreve o texto como um atestado de óbito da ilusão.
Ela que via a pluripotência em cada caminho.
Neste momento, asfixiada pelo impossível.
quarta-feira, 24 de julho de 2019
quinta-feira, 18 de julho de 2019
Design bruto
Estilhaço -
De repente.
A poda lancinante -
Rotina
Guilhotina
Diamante
Sombra
Feminina
Cristalina
Névoa
Na retina
De repente.
A poda lancinante -
Rotina
Guilhotina
Diamante
Sombra
Feminina
Cristalina
Névoa
Na retina
sábado, 13 de julho de 2019
Poêmio
Marjeia o meio-fio
Como quem dança
A beira do precipício
Desatina um verso
Como uma calota polar
Desbrava o oceano
Entrega-se a noite
Como um exilado
Se nutre da saudade
A beira do precipício
Desatina um verso
Como uma calota polar
Desbrava o oceano
Entrega-se a noite
Como um exilado
Se nutre da saudade
quinta-feira, 11 de julho de 2019
Sem teto
Eu penso nos rendidos que filam as bordas do desdém. Aqueles que sequer viram estatística. Que se escondem sob o ritmo frenético da sobrevivência urbana. E driblam os carros como se quisessem viver. Aqueles os quais desvia a procissão metálica e que servem a referência do medo, da reza dos normais, de suas paranóias. Os donos dos olhos opacos, imersos no horizonte sem ter um palmo de esperança diante de si.
Eu penso neles, e nada faço enquanto o tempo corrói a culpa. Amanhã, sigo no desvio de não pensá-los. Sigo a missa silenciosa e programática pra que o acaso me salve da colizão inevitável ou do destino de me tornar um deles.
Deve amanhecer em breve sob a marquise, e sobre as pedras afiadas das estalagmites fabricadas pelo novo plano de governo. O rolo compressor não cessa, no engenho, no ciclo do centro do tempo paralítico. O sol já esboça prolongar o sofrimento daqueles que morrem na tuberculose da noite mais fria.
Eu tusso.
Eu penso neles, e nada faço enquanto o tempo corrói a culpa. Amanhã, sigo no desvio de não pensá-los. Sigo a missa silenciosa e programática pra que o acaso me salve da colizão inevitável ou do destino de me tornar um deles.
Deve amanhecer em breve sob a marquise, e sobre as pedras afiadas das estalagmites fabricadas pelo novo plano de governo. O rolo compressor não cessa, no engenho, no ciclo do centro do tempo paralítico. O sol já esboça prolongar o sofrimento daqueles que morrem na tuberculose da noite mais fria.
Eu tusso.
quarta-feira, 3 de julho de 2019
Previsão do tempo
Enquanto dorme, a frente fria se desloca.
Um certo vento que se dobra ao relevo dos trópicos.
Cada palavra medida nas minúcias de uma vida inteira. O entreolhar firme e cândido da compreensão. O perdão na sua forma mais pura. E também o sexo, despido de erotismo mas repleto de amor.
Tudo rende-se a expectativa da frente fria, que chega sorrateira sem tremular as árvores.
sexta-feira, 28 de junho de 2019
Caindo na real
Curva luz
A gravidade poética
Te ensinando na marra
Que a última tendência do espaço sideral
É o encontro
A gravidade poética
Te ensinando na marra
Que a última tendência do espaço sideral
É o encontro
quarta-feira, 19 de junho de 2019
Os conselhos aos meus #1
Sinceros
Sejam,
Filhos,
A si
E ao sol.
A ele, a lua
E consigo
Sigam
Do sol
A arte
De poder
E o breu
Iluminar
Sigam
Da lua
O transe
De mudar
E o reflexo
De seu par.
Sejam,
Filhos,
A si
E ao sol.
A ele, a lua
E consigo
Sigam
Do sol
A arte
De poder
E o breu
Iluminar
Sigam
Da lua
O transe
De mudar
E o reflexo
De seu par.
Tubarões de Recife
(Prendo a respiração)
.
.
.
Em minhas reservas
Equações são frases que se explicam
E se fazem letras
Produzimos códigos que brincam com a experiência que o mundo tem de si mesmo
Escrevo aqui de uma gaiola de Faraday sobre a tempestade que inunda uma cidade
Uma mulher morreu afogada em um túnel
Não sabia nadar
Aqui estamos
Submersos em números que não nos ensinaram a contar
.
.
Parkinson
Eu vejo um casal de velhos
Não há nada encantador neles
Apenas velhos
Humanos velhos
Que fizeram coisas humanas durante um bom tempo
Que pelo visto se aturaram
A si
E um ao outro
Por muito tempo
Eu vejo apenas o tempo
E seu acúmulo de detritos, de manias
Eu vejo o tempo como uma forma de vício
Um vício inesgotável e insaciável
Que deturpa o espaço-tempo
Que nos empurra como um desejo indecifrável
Feito um espasmo muscular involuntário
E nos entrega os pontos como aqueles velhos que se suportam
E se curvam de tanto peso
E aceitam
Resistindo ao não
Não há nada encantador neles
Apenas velhos
Humanos velhos
Que fizeram coisas humanas durante um bom tempo
Que pelo visto se aturaram
A si
E um ao outro
Por muito tempo
Eu vejo apenas o tempo
E seu acúmulo de detritos, de manias
Eu vejo o tempo como uma forma de vício
Um vício inesgotável e insaciável
Que deturpa o espaço-tempo
Que nos empurra como um desejo indecifrável
Feito um espasmo muscular involuntário
E nos entrega os pontos como aqueles velhos que se suportam
E se curvam de tanto peso
E aceitam
Resistindo ao não
Os auto-conselhos #78
Pressuponho que visite em cada encontro
A parte irreconhecível de si
E se apoie no grotesco
Pra ver que a beleza é uma concatenação
Programada de todas as doutrinas que te fizeram engolir
Daqui por diante
Idolatre os ídolos mais esdrúxulos
Eles te ensinarão que tudo é um ato de fé
E que a fé é uma folha da árvore dos costumes
Não se acostume
Corte as raízes de tudo que achar verdadeiro
E construa as histórias na verdade maior
De que toda escuridão é uma página em branco
sábado, 15 de junho de 2019
Esperando (Godot?)...
Na sala de espera
Um aroma doce de laranja
A bossa nova e o ar condicionado
Hermeticamente regulados
Para o conforto total do ambiente
Da sala de espera do proctologista.
A bossa nova e o ar condicionado
Hermeticamente regulados
Para o conforto total do ambiente
Da sala de espera do proctologista.
sexta-feira, 31 de maio de 2019
terça-feira, 7 de maio de 2019
Sonda ao insondável
O peso dos órgãos sobre o corpo
O ar atmosférico
E um alarme falso que não cessa de tocar
O ambiente esvaziado de direitos
E repleto de culpados
A respiração profunda
E a cultura na forma de um átomo
Que cruza o éter inevitável
A noite em sua forma total.
O ar atmosférico
E um alarme falso que não cessa de tocar
O ambiente esvaziado de direitos
E repleto de culpados
A respiração profunda
E a cultura na forma de um átomo
Que cruza o éter inevitável
A noite em sua forma total.
quinta-feira, 2 de maio de 2019
quinta-feira, 11 de abril de 2019
quarta-feira, 10 de abril de 2019
Ultrassom engarrafado
No espaço da pele que alimenta, dois seres irmãos em formação. E eu paro e penso, no equilíbrio amniótico e no corte do ultrassom que já desenha as figuras dos crânios e seus esqueletos delgados. Imediatamente seus corpos se movem. Dizem os estudos que fisiologicamente já procuram o peito, mesmo que recebam o alimento da extensão do ventre. Procuram enquanto já encontrei tudo. Me sobra a partir de então, a responsabilidade de acompanhá-los e de conduzi-los sobre o sereno dessa noite iluminada.
sexta-feira, 5 de abril de 2019
quinta-feira, 14 de março de 2019
Cesariana
Daqui
Enquanto trama,
O infinito.
O destino
Dos caminhos
Se retramam
No mantra
Deste manto
Que me encanta
O corte
Longilíneo
Que me encontro.
Enquanto trama,
O infinito.
O destino
Dos caminhos
Se retramam
No mantra
Deste manto
Que me encanta
O corte
Longilíneo
Que me encontro.
terça-feira, 12 de março de 2019
Gradiente
O engodo agudo
Que eu trago
Traio comigo
E lavo
Na água
Enlameada
Da calada
....
Mas de repente
O fel aurora
Em madrugada
Engulo
O sibilante
Canto da alvorada
E tudo
Expurga
Ao mel
O purpúreo
Céu
Céu
Em disparada
Sob a abóbora
Abóboda
Enluarada
A repetida gênese
Da gema
Do ovo
O anúncio
Do sol
O seco cio
Do novo.
A repetida gênese
Da gema
Do ovo
O anúncio
Do sol
O seco cio
Do novo.
domingo, 10 de março de 2019
Tendência
A galope
Em batimento
A voz alta
O coração
Do pensamento
Que me falta
A sobra
Do silêncio
O vacilo
Que me chama
Fogo -
Irmão do frio -
Queima o tempo
No pavio
Celere fluxo
Do rio
A calma
Não acalma
Dilacera
Em batimento
A voz alta
O coração
Do pensamento
Que me falta
A sobra
Do silêncio
O vacilo
Que me chama
Fogo -
Irmão do frio -
Queima o tempo
No pavio
Celere fluxo
Do rio
A calma
Não acalma
Dilacera
sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019
O breu total da via lactea
Velejei
Por essa vela
Acesa
No breu total
Da via lactea.
Duas luzes
Reluzentes
Dois olhos
Duas sementes
No breu total
Da via lactea.
Pelado
Sobre o frio
O livre lobo
Do vazio
Sob o breu total
Sob o breu total
Da via lactea.
O germinar
Do imediato
O alimento
Inconsciente
De duas estrelas
Cadentes
Que atravessam
De repente
O breu total
De repente
O breu total
Da via lactea.
quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019
O ser em formação
Eriça a brisa
Sobre a pele
Acalma o leve
Frio na barriga
Irriga o breve
A doce espera
Pela vida
Meu cedo grão
Sendo o fluxo
Do sexo
O sim sobretudo
Ao não
Crescendo
Sobre o nada
Enfim
Por ser
Uma parte você
E outra parte de mim.
Crescendo
Sobre o nada
Enfim
Por ser
Uma parte você
E outra parte de mim.
terça-feira, 5 de fevereiro de 2019
sexta-feira, 25 de janeiro de 2019
Haicaindo na real pt.2
No reino das bolhas infinitas,
Passa lento e calmo um projétil.
Reza a lenda que é a ficha caindo..
Passa lento e calmo um projétil.
Reza a lenda que é a ficha caindo..
Micropolítica
Um muro na forma do horizonte
Tão denso e alto quanto um elefante
Entre dois abismos, (o muro)
(O nada e o lugar nenhum)
Separando o quarto do mundo
Na metade entre o tu e o um).
Tão denso e alto quanto um elefante
Entre dois abismos, (o muro)
(O nada e o lugar nenhum)
Separando o quarto do mundo
Na metade entre o tu e o um).
quarta-feira, 23 de janeiro de 2019
Aforismo sobre o dado viciado ao infinito
Todo argumento técnico leva em consideração premissas ideológicas.
Por trás do cálculo matemático existe a crença na universalidade dos números e de seus princípios básicos.
Toda regra só existe enquanto regra pelo consenso de que ela deve ser respeitada.
Claro, MAS apesar da força da narrativa e da fé que ela envolve.. existem os fatos, que na relação com o tempo e na prova material da sua existência impera sobre qualquer teoria ou conjectura.
A graça da ciência, portanto, é o princípio de que ela pode estar sempre errada na contraposição de um fato novo imponderado.
Em outras palavras, mesmo a teoria de que estaremos todos mortos no longo prazo é frágil diante da possibilidade de haver um homem imortal.
O devaneio, a teoria, o bom senso e a própria chamada verdade são sempre reféns do improvável.. da marginalidade do impossível.
Em outras palavras, mesmo a teoria de que estaremos todos mortos no longo prazo é frágil diante da possibilidade de haver um homem imortal.
O devaneio, a teoria, o bom senso e a própria chamada verdade são sempre reféns do improvável.. da marginalidade do impossível.
terça-feira, 22 de janeiro de 2019
Nuvem
Faminto
Como o que some
E somo ao insumo
O sono do insone
Dissimulo o que
Assimilo
Som do acumulo
De tudo que some
Semeio o somente
O resumo distante
O estar sendo ausente
A fome constante
quinta-feira, 17 de janeiro de 2019
Terra plana
- Nada além da verdade -
Nua e crua
Muda e inteira
Sem rima ou musicalidade
- Nada além da verdade -
No mar da fantasia
Um estupro
Sem heresia
- Nada além da verdade -
Cintilante poesia
Névoa opaca
Rubra nave sombria
- Nada além da verdade -
A bala calma e breve
Atravessada e leve
A falsa valsa da saudade
- Nada além da verdade -
quarta-feira, 9 de janeiro de 2019
Bico
A boca pouca
Coube oca
No beco louco
Da tua boca
Agua e lingua
Banca louca
Bica o bico
Da minha boca
terça-feira, 8 de janeiro de 2019
Estrangeiro
Só encontro em português a bibliografia dos meus sentimentos.
Na angloamerica, posso deduzir todo o meu entorno. Os gestos, acenos e a interlocução de um povo que busca a oração como um reflexo plástico daquilo que assistimos pelos monitores made in china.
Tudo isso parece funcionar muito bem. O mimetismo dos infinitos carros em sintonia. A dança robótica da freeway. Os sinais de stop plenamente respeitados por um grupo de freemen pilotando as suas respectivas Harleys personalizadas.
Nada disso parece conectado com as minhas obsessões portuguesas e meu dialeto brasileiro. Mas sigo interessado em observar e sobreviver, tal qual um pombo no meio da Central do Brasil nesse forno do inferno do verão carioca.
Na angloamerica, posso deduzir todo o meu entorno. Os gestos, acenos e a interlocução de um povo que busca a oração como um reflexo plástico daquilo que assistimos pelos monitores made in china.
Tudo isso parece funcionar muito bem. O mimetismo dos infinitos carros em sintonia. A dança robótica da freeway. Os sinais de stop plenamente respeitados por um grupo de freemen pilotando as suas respectivas Harleys personalizadas.
Nada disso parece conectado com as minhas obsessões portuguesas e meu dialeto brasileiro. Mas sigo interessado em observar e sobreviver, tal qual um pombo no meio da Central do Brasil nesse forno do inferno do verão carioca.
Insaciado
Despida em público
A pena de um pássaro não identificado
Do escuro, posso sentir os olhos atentos de um animal em toda sua natureza
Faz frio no calor de quem tem febre
Não sei se teme a morte ou mira a minha vida pra se alimentar
A fome é o único som no inóspito desatino do poema.
A pena de um pássaro não identificado
Do escuro, posso sentir os olhos atentos de um animal em toda sua natureza
Faz frio no calor de quem tem febre
Não sei se teme a morte ou mira a minha vida pra se alimentar
A fome é o único som no inóspito desatino do poema.
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