domingo, 10 de março de 2013

Predador

Chegada a hora, estava preparado. Era sua prova de fogo. Retornaria com o crânio a tribo, após aquela temporada vivendo em plena solidão. Passou luas à espreita, e fazia parte do rito assistir o nascimento e crescimento da caça até que no momento certo, quando o animal estivesse em pleno equilíbrio de forças consagraria a comunhão de sua morte numa luta justa. Fazia alguns sóis que perdera a fera de vista. E sabia, de alguma forma, que naquela tarde chuvosa se daria o derradeiro encontro. Seu olhar era fixo e, no cair do sol, pressentiu o fitar oblíquo da pantera, que já se camuflava junto à noite. Imóveis, se entreolharam sob a fina chuva. A observação durou até que houvesse apenas dois círculos dourados que flutuavam na escuridão. No transe de um instante, um relâmpago desenhou a silhueta do animal. E antes que o trovão pudesse bravar, ele sentiu pulsar a floresta pelas veias e a sua própria mandíbula penetrar em seu pescoço. A presa estava morta.



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