terça-feira, 1 de maio de 2012

Antologia do preciso (de improviso)

A poesia precisa
A poesia precisa ser esclarecida
Ungida de luz
Mesmo
Mesmo que a inspiração
Mesmo que a inspiração tenha olhos fechados

Mesmo que a inspiração
Venha a esmo
No semblante da mulher amada
E mesmo que o semblante
Já não seja
A poesia deve ainda vir

Mesmo que a esmo
A inspiração venha ainda sim
No semblante amante da mulher
E mesmo que o ensejo seja assombro
Que venha com vontade
Que venha com devir

A poesia deve ir
Ainda que ilegal ou imoral
A poesia criminosa
Tem o direito de permanecer falada
Até que se dispa de ausência
E venha nua
Atravessando o corredor

No disparate da rua
Seja tomada aos tragos
A poesia precisa
Na medida certa to brilho
Bambar no meio-fio
Ao silvo imóvel dos carros

A poesia precisa
Incumbar-se de poema
Um poema dócil
Mas latente de demônios
Feito o flerte intermitente
Da calada amante noite
Na espera programada do sol

Precisamente então
A palavra inflamada de desejo
Pousará as asas sobre o mundo
O teu poema preciso
A erupção do teu ciso
E toda a solar solidão

Finalmente clara como o Este
A poesia te pegará no colo
Sussurando a rima indecifrável
Até o ermo do sentido
Com toda a imperfeição
De que é preciso
Trair-se com o improviso.






quinta-feira, 19 de abril de 2012

A andorinha



A cynical howl leaves as a mark
The pavement will rise by my trunks
And in the poplar of the Paper City
I'll light a cigarette to hollow the wind
And then
The swallow will fly
As it notices that Diogenes lamp
Turned to a cloudy limelight
That goes infinetely
Looking for the honest man
Who lies still relentless in the darkness.





domingo, 1 de abril de 2012

À musa.

De seio e alma
Oscile

Sobretudo

Oscile
E nada mais.

domingo, 11 de março de 2012

O murro

Ouço
O cheiro
da boca
Tua

Eu te sinto
Oca
Decá

Doutro
lado
Mudo
do mundo

O tato
Ecoa
na Dianteira
distante do fato

Que sou
Sobre
natural
mente
Capaz

de ouvir
O cheiro
da
Tua boca
do outro
lado do muro

do lado do Outro
oMundo

Eu urro
O cheiro
da tua boca

Eu lambo
A música
Datua pele

Ea sede
Que me impele
A beber a tua voz
Da foz
Inebriante
do tempo

Um brinde
E um beijo

nas bochechas
Virtuais
do rosto

Da derme
De vento

Do perfume
Ao osso.

domingo, 4 de março de 2012

O beijo em breu

Dessas inconsequências
De causas perdidas
Encontrei-me dois
No acaso de um lábio

E quando a ribalta sem cor
Na altura casual da dor
Precipitava-me inerte
Com braços abertos

Vi luzir o fim
Como um poente ameno
De cirrus carmim

E no devir dos outros dias
Tua nuca andará por aí
Em outros corpos

E por outros copos
Proclamarei filosofias
Em outros bares pardos de você

Assim os fatos sucederão recessivos
Até que nos esqueçam
Ou que esqueçamos uns aos outros
Na imemorável dança do universo.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Poema em céu azul

Enquanto as nuvens desmoronam
Na esquina do horizonte
Te encontro menina

Na hora marcada do infinito
O atraso de uma vida
E um poema enfeitado de escombros.


terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Náusea

Tenho singrado o sagrado

Sangrado, é verdade

Um sangue túmido
Coagulado

Do lado de cá
Ao lado de lá


Eu sangro

Eu sigo singrando

Esse mar de sangue
Esse meu sangue de mar

Que sangra diante o sagrado
Que singra o sagrado nas veias

De velas içadas em meu sagrado mar.

Eu sigo o signo torpe da palavra

Numa ressaca de você.

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Elegia móvel

Como o tempo, como eu e o vento
Se move em direção a falta
E quando ao fim, a incompletude salta
Sem a força do movimento

Tal qual o ontem é uma miragem movediça,
Não se sente a premissa da viagem
Mas o céu indiferente da partida

Como o vento não curva e o tempo não volta
Eu te amo com a irreversível culpa
De não saber quem fui
De não saber quem sou

Em não saber quando
é que a aurora ensaia o ocaso

E caso falte de dizer o contrário,
Os versos e a vida tem fim
Ainda que não acabem

sábado, 24 de dezembro de 2011

O manjedouro

Nas manjedouras desta terra
Nascem cristos disformes
E futuros salvadores

Nas manjedouras desta terra
A virgindade mariana
É um estupro casual

Nas manjedouras desta terra
Os reis magos em seus tronos
Os senhores da guerra

Nas manjedouras desta terra
O gado não tem o que comer
No caminho sem volta, o matadouro.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Auto-retrato em natureza-morta

Entre o ir e vir
A corda bamba
Ante ao que sou
Antes nada
Que em vão.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Amor em prosopopéia

Incomoda-me essa convulsão de ditos
De sorrisos felizes enquadrados
De alegrias matinais

Descompartilho minhas vísceras
E no madrigal da tarde
Cabe o canto dos que não tem voz

Não quero ter razão,
Muito menos ser feliz

Quero afogar o verão
Numa geleira glacial

Quero teus defeitos
Dançando nus num salão em chamas.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Sinai (ou Os leopardos de Kafka)

Um bocejo improvisado
Cala os que dirão "dissimular"

Selam as faces plácidas
Imurmuravelmente ácidas

E se rezam preces para os deuses mortos
Cabe, então, a mim a espera do juízo derradeiro

Onde os pontífices sacerdotes dos meus templos
Guardarão inescrutáveis banalidades
Com certezas e lamentos dos que tem fé

E no fel do último gesto
Dirão que ressucitei
Quando de fato, apodreci.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

(Nominado)

Se existe uma cor pra tua voz
É a dos teus olhos

E se existe um sussuro pro olhar
Desaviso 'calma'

Porque sinto a alma nos dedos
Do teu sopro

Transubstancio este cheiro
Que chamam de flor

Defloro o teu nome em verbetes
Sinestésicos

Ahh....
O teu suspiro é a palavra prima

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

inviolável

Existe um pomo de glória
Sob as banquisas do Ártico

E absolutamente nada ousa interromper sua imanência.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Cemi

Este plateau inabitável de mar
Me faz lembrar de quando
Os ossos dos meus dedos
Se arrastavam por você
E aterrisavam nos teus lábios

O pôr dos seios
A saudade é ter-te em parte
Semiter-te
Intacta
Por trás
dos beijos
de outros olhos que não são seus.