domingo, 27 de novembro de 2011

Os filhos de Loki

No aprumo do céu
Resta a espera

As cidades se alastram
Como estandarte da resistência
ao Acaso

Enquanto não concebermos o céu
A paciência é a última diligência.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Ensai[a]r

A primavera arde
E no mausoléu da córnea
A lembrança vitelina
Ensaia fetal seu nascimento

E eis que de aborto
A saudade inaugura
O presente absorto de te
Rever num acidente casual

A causalidade fatal
De que tudo pode acontecer
inclusive absolutamente
nada.

De repente, o sucesso
Se torna uma salva de fracassos
E o que será
Se foi.

[As cortinas se fecham ao teatro vazio]

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Quase e eu (conjectura)

Devo me virar em direção as pessoas
Vestir-me suas calças
Enjaular-me em seus corpos

Ter-los em mim
Seus sonhos
De modo que todos eventos impossíveis
Se tornem movimentos concretos

Todos discursos não proferidos
Todos gestos não praticados
Todos os medos não revelados
Fossem concebidos

E todas as possibilidades
Germinassem espontâneas
Feito idéias não pensadas
Por pessoas não nascidas
Frutos de amores nunca declarados.

O que me faz ver a beleza do mundo
São justamente seus nódulos de nada.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Os olhos de gude

Quando
Teus olhos de gude
Caberem em minha mão

Já não seremos
Imunes
Um ao outro

Julgarão-nos
Criminosos
Impunes

Doentes auto-imunes
da gnose virtual
De sermos um

E o que nos une
Será a fenda
que nos corta

No lapso insône
do tédio
Do parapeito
do prédio

serei eu
olhando-me
a paisagem
à par a plenitude
dos teus olhos de gude.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Transposição

Obliquo e inócuo
Um castelo de anagramas
E o calabouço da boca

Eu vejo a metáfora por uma fresta,

E salvo a humanidade.

domingo, 23 de outubro de 2011

O arco (Id e o Rama)

A gala que sustenta nos lábios
É o gesto que suspende o meu ser

Cai-me uma vontade de voltar
A despir o teu corpo d'alma

Liquidificar o movimento do tempo
Dissolvendo o amargo em amor
E induzir-te ao erro no desvio do flerte

Eu miro minha flecha ao sol
E o céu responde em cirros
O dorso monumental do mar

É elemental que sinta
Essa saudade saudita
Viva no interím do presente com o passado
No útero eterno do ponteiro
(Sita)
Que me constrói de memória e afeto.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

O fim da história

Só não terceirizaram a angústia.

domingo, 9 de outubro de 2011

Mulher,

A linha de baixo é o perfume que traça o seu semblante.

E o teu sorriso é espontâneo e o coração murmura uma aflição contida.

Sua maior virtude é ser a baluarte do mundo - a beleza que vive fora de mim.


Queria poder envolver tua impotência.
Amenizando o frio do espaço.
Beijar teus olhos com os dedos.
Esconder-me em tua nuca.


Mas possuir-te é um desejo póstumo.
Quero dissolver minha carne no universo para ser também parte de você.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Implosão

(Explodir a derme
E o músculos
Vaporizar o ossos)

Eu não sou eu mesmo
Eu sou o meio daquilo que realmente sou

O que sou realmente é intangível

E essa última fração indivisível de mim
É a centelha que desmorona meu corpo

Deixando um legado torpe
Neste universo feito de escombros

Implodo-me

Difundindo-me no Fluxo
Engolido pela memória
De um deus que não pensa
Mas corre para todos lados
Sobre todas as sombras.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Alcatéia

Vamos abrir espaço. Abram-se as alas! Para trás! Para trás!!

Entre
O azul - o cinza que se finge de céu -
Eu, que me esfinjo que sou
que finge que seu.

Limpado o terreno, tenho o lugar para fundar meu palácio
Com a pedra angular do fracasso
E o aço das montanhas-russas

D'os olhos ruivos,
Minha Lua nova, que sempre morena
E o uivo do lobo - lobotomia

Que tudo rui... que tudo ruiva.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

O sábio e os néscios

A virtude de ler o próprio tempo. O carácter do sábio. Que vive sóbrio nos sobrados oblíquos do morro. Feito um monge que sustenta sua ascese além do barulho dos carros. Além da urbe dos analfabetos da época. Dos que levam a vida no assobio. Dos sublimes vagabundos, que vivem o tempo, na flor da pele.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

De óbulos nos olhos

Canso.

E este mar que não mata minha sede,
mas descansa meu espírito.

Penso.

E estes olhos que me matam de prazer,
e que dispensam minha sorte.

Durmo.

O azar me contempla,
E eu o contemplo de volta.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

O óbito

Uma tragédia.
Morrera tropeçando na escada helicoidal do próprio DNA.
Deixando de herança ao primogênito um acidente surpresa aos quarenta,
E a filha mais nova, a afinidade por drogas e uma coletânea de esquizofrenias.

sábado, 10 de setembro de 2011

Holo-

No princípio era o precipício
Preciso
Em sua totalidade

Abriu-se, então, um precedente

E numa cadeia infinita de acidentes

A essência do que era
Permaneceu indômita.

Porque se todo tempo é presente,
A memória é a força motriz do que são
_____________as coisas

O precipício se fragmentou
Nos infinitos pedaços fantásticos
Que somos.

Eu sou a voz do precipício
E tu, os ouvidos.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Paralaxe (ou Os Foguetes de Artíficio)

No lusco-fusco,
olhares desavisados ao céu
minguam como a lua.

A angústia do novo século que nasce
Brota da finitude da Terra
E o salto intransponível do éter que a envolve.

Na mesma altura da aurora que miro,
a utopia perturba trêmula como a miragem
horizontesca de um deserto.
Movo-me.

Mas para onde ir,
quando ao nadir
o horizonte é apenas o Passado incalculável
dos anos-luz de nossos ancestrais?