a palavra é voluntária como o vômito
e dentro da minha bulimia linguística
forço deliberadamente cada idéia da garganta
Já me olho no espelho sem me reconhecer
E posso escrever uma bíblia de angústias
que continuarei irreflexível à mim
detrás de cada verbete um enquadro virtual
o eco refrata a língua e cantando com os olhos
só o silêncio é semântico à alma
Mas feita a dor que é o anúncio da morte
eu preciso escrever por um grito de cólera
lançando cada vocábulo gástrico ao que se dispõe
e como um atestado de vida a poesia me eclode
Nasço de minhas vísceras deglutindo meu corpo
condenado a liberdade, órfão da própria pele
e De repente a semântica me volta pela náusea
a cuspo como uma saliva intragável
O mundo gira e meu estômago torce
tudo se baseia nesses humores que correm por mim
como os ouvidos ouvem o anúncio dos pássaros
de que o sol está pra chegar aos olhos insônes
As mãos tremem pela caligrafia
Como a voz balbucia o medo da palavra
o asco me subtrai inerte, o nojo da linguagem
Desespero sem que sobre qualquer vestígio
qualquer resquício de idéia póstuma
numa indigência programada,
Canibalescamente subsisto como se nunca houvesse
sendo o último da minha espécie devoro a língua
Sinto-me sintático nos meus grunhidos
sumo ao mundo como se nunca houvesse
numa crônica anacrônica minha com o tempo
meus gritos primais ecoam em minha cela
Todas as portas se fecham, não há destino
ou passado, velado, túmido em meu próprio corpo
Engulo todas as chaves que levam a saída
refugiado do mundo, apátrida e incomunicável
onomatopéico como uma criança
Um rascunho léxico de minhas guerras intestinas
Meu testamento na língua natimorta que eu criei
é avulso, deixo para o que ainda não morreu de mim
a herança do que se entende pelo gesto
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