terça-feira, 21 de junho de 2016

Instante glacial

O inverno me envolve de sua semântica e me torpe de suas tormentas. Hoje, o desvairo suplica um manto que acolha qualquer sentido. Qualquer que seja, que nos alimente e reconstrua. Que possa recrudescer o frio que queima, para que toda dormência nos desperte e revele. Até que não sintamos nossa pele. Até que a sintaxe nos empodere e preserve nossa espécie, feito a palavra ao congelar o sentimento. Que a possessão do frio dure até o fim de sua era. E que, no segundo seguinte, nos recompense ao acordar do instante, tendo vivido todos os sonhos. E que o degelo nos contemple da partilha e do despertar inteligível de que o frio é apenas a memória sintomática do tempo de que é preciso nos acolher e estarmos juntos para, enfim, sobrevivermos.

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