O fundo é todo escuro,
No escuro é tudo fundo
E tudo é fruto, no fundo.
Escuro fecundo de tudo -
Nado com ele e me curo
Do imenso raso do mundo.
Do lodo, contudo, refundo
Imerso no mar profundo
Todo o sublime imundo.
E faço pontes dos muros
E murmuro os marulhos
Do dilúvio do mundo.
O puro escuro é azul.
terça-feira, 17 de abril de 2018
sábado, 14 de abril de 2018
quinta-feira, 12 de abril de 2018
Metadata
No diálogo com o fosso descobrimos o silêncio entre os espaços. E caminhamos com mil pernas em direção ao trabalho. Somos vigiados pela lógica - ela que boa e velha nunca entenderá o fosso e sua multidão de silêncio. E prosseguimos na procissão dos nossos sonhos. Novos sonhos que brotam como moscas na carne fresca do nascer da noite.
domingo, 8 de abril de 2018
Carta garrafa
Órbita mórbida
Da qual gravito
Satélite insólito
Linha lânguida
Mar de detritos
Atrito constrito
Farofa de pedra
Controle remoto
Selva infinito
Da qual gravito
Satélite insólito
Linha lânguida
Mar de detritos
Atrito constrito
Farofa de pedra
Controle remoto
Selva infinito
terça-feira, 27 de março de 2018
Poema deformado
Surjo
Sujo
Ao relento
Desatento
Ao desatino
Eu tento
Exercito
o constante
Faço do quase
Um dever indevido
Vacilante
Sou devoto
Do conflito
E confundo
O raso
Com profundo
Comprovo
O cedo
Com o atraso
E refaço
O todo
Dos pedaços
E atropelo
O tropeço
Numa dança
E quando
Me canso
Repouso
Na forma
Da queda
Eu pauso
E reformo
A revolução
E deformo
O defeito
Em perfeito
Preservo
Sem reservas
Ou direção
No formol
Da palavra
Eu sirvo
E verso
E sorvo
A vida
Repleta
De falta
Completa
O tudo
Parcial
Ao modo
Do todo
Eu semeio
Seguro
De si
Sou um furo
Na roda
No asfalto
Ou no morro
Renasço
Na forma
De um ponto
Eu destroço
Um final
Decomposto
Em potência
Um início
Deposto
Ao fatal
Sujo
Ao relento
Desatento
Ao desatino
Eu tento
Exercito
o constante
Faço do quase
Um dever indevido
Vacilante
Sou devoto
Do conflito
E confundo
O raso
Com profundo
Comprovo
O cedo
Com o atraso
E refaço
O todo
Dos pedaços
E atropelo
O tropeço
Numa dança
E quando
Me canso
Repouso
Na forma
Da queda
Eu pauso
E reformo
A revolução
E deformo
O defeito
Em perfeito
Preservo
Sem reservas
Ou direção
No formol
Da palavra
Eu sirvo
E verso
E sorvo
A vida
Repleta
De falta
Completa
O tudo
Parcial
Ao modo
Do todo
Eu semeio
Seguro
De si
Sou um furo
Na roda
No asfalto
Ou no morro
Renasço
Na forma
De um ponto
Eu destroço
Um final
Decomposto
Em potência
Um início
Deposto
Ao fatal
quinta-feira, 15 de março de 2018
Blue(s) dot
Coragem
Predicador de mil balas
As veias do dedo que atira
Latejam palavras em sacos pretos
O sangue
Na forma da voz
Diluída em chuva sem fim
Num pedaço quase esquecido da terra
Aquele tecido consciente do universo
Onde tecem o inexorável
Com a agulha da violência
Predicador de mil balas
As veias do dedo que atira
Latejam palavras em sacos pretos
O sangue
Na forma da voz
Diluída em chuva sem fim
Num pedaço quase esquecido da terra
Aquele tecido consciente do universo
Onde tecem o inexorável
Com a agulha da violência
domingo, 11 de março de 2018
Estrofe atrofica
A cadencia acalmada dos palpites no peito
Vibra postulante o acaso do porvir
O harmonico ritmo dos encontros
Jaz livre como sempre jazz:
Caia no real antes que ele caia em você
quarta-feira, 7 de março de 2018
Água mole
O desastre tem seu manual. E o passo-a-passo de como te destruir da forma mais precisa possível. Comece pelo desejo, passe pelas entranhas e termine pelo fio da navalha. Uma cirurgia do avesso. E quando tudo começar de novo, se prepare. A dor é só o detalhe que te lembra da recorrência. A sempre igual sobremesa, te obrigarão a provar mais uma vez. Em camera lenta, o espanto é uma forma de esquecimento. Eu deixo o pão na geladeira pra apodrescer aos poucos.
sexta-feira, 2 de março de 2018
Turbulento
Céu da cor de camelo
Relâmpagos
Propósitos e destinos
Sonhos em gaiolas de Faraday
Inócuos a sobrevivência da paisagem.
Relâmpagos
Propósitos e destinos
Sonhos em gaiolas de Faraday
Inócuos a sobrevivência da paisagem.
segunda-feira, 29 de janeiro de 2018
Bolho
Nesta bolha
cabe um olho
Que olha bolhas
de outros olhos
Que embolam-se
em outras bolhas
Que burbulham
Sem parar
Eu bolo bolhas
De olhares outros
Bolhas novas de
olhos bobos
Espumas belas
de velhas bolhas
Liquefeitas e perfeitas
Que infinitas
Cabem em tão singela
hermética bolha
que protege
Tenue
a vasta
amplidão de olhos
E suas tão
imprescindíveis
Superfícies
bolhas de que viemos
Circunscritos
E vagueiam incertas
Sustentando no vazio
A leveza de ser
prestes a estourar.
cabe um olho
Que olha bolhas
de outros olhos
Que embolam-se
em outras bolhas
Que burbulham
Sem parar
Eu bolo bolhas
De olhares outros
Bolhas novas de
olhos bobos
Espumas belas
de velhas bolhas
Liquefeitas e perfeitas
Que infinitas
Cabem em tão singela
hermética bolha
que protege
Tenue
a vasta
amplidão de olhos
E suas tão
imprescindíveis
Superfícies
bolhas de que viemos
Circunscritos
E vagueiam incertas
Sustentando no vazio
A leveza de ser
prestes a estourar.
sexta-feira, 26 de janeiro de 2018
Alegal
Entre a reminiscência fascistóide
E a esperança polainodebilóide
O sempre presente perplexo
Que condena toda condenação
E garante o pesar de tudo:
Somos, enfim, apesar da Lei!
E a esperança polainodebilóide
O sempre presente perplexo
Que condena toda condenação
E garante o pesar de tudo:
Somos, enfim, apesar da Lei!
quarta-feira, 17 de janeiro de 2018
Lua
Pela noite
Pernóstica
Vagueia
Acústica
Lua
Despótica
Luz
Pela noite
Ilhada
Pelada
De sombra
Se assanha
De nada
Apenas reflexo
De um lado
Invisível
Lua
Farsante
Estrela
Indescente
Crânio
Brilhante
Relevo
De sombras
Sobra
Branca
Da escuridão
Pernóstica
Vagueia
Acústica
Lua
Despótica
Luz
Pela noite
Ilhada
Pelada
De sombra
Se assanha
De nada
Apenas reflexo
De um lado
Invisível
Lua
Farsante
Estrela
Indescente
Crânio
Brilhante
Relevo
De sombras
Sobra
Branca
Da escuridão
sexta-feira, 12 de janeiro de 2018
Guardanapo
Escrevo este registro para o fim. Peço que o mostrem a mim no momento em que não mais lembrar de nada. A demência começa a tomar conta e talvez quando colocar os olhos nisto já serei como uma criança que olha o próprio rosto como quem olha o vazio. Peço que se assim estiver, que leia esta carta com uma harmonia que me faça se sentir em casa. E se por acaso não tiver mais a lembrança do prazer do retorno ou que não lembre mais o que seja um lar, que me acaricie com as palavras. Se a semântica não me fizer sentido ou se o som já não me apresentar a melodia, que me toque com toda a impressão que essa carta possa lhe ter. Não se esqueça disso. Se não me sobrar nem mesmo o tato e até mesmo o afago me causar estranheza, me incendeie junto com este texto até que os deuses sintam o cheiro do que já fui um dia.
sexta-feira, 5 de janeiro de 2018
Traça
Praga
Traça que invade
cada dimensão do agora
Faz doer o abraço
Apodrecer os pedaços
Enferrujar os navios
Corpo-pele do espaço
Somos teus filhos
Você, completa de ausência
Gestante do tempo
Sem idade
Das rugas, segundos e eras,
Oh sempre querida Saudade.
Traça que invade
cada dimensão do agora
Faz doer o abraço
Apodrecer os pedaços
Enferrujar os navios
Corpo-pele do espaço
Somos teus filhos
Você, completa de ausência
Gestante do tempo
Sem idade
Das rugas, segundos e eras,
Oh sempre querida Saudade.
quinta-feira, 4 de janeiro de 2018
Silvo
Sobre a sóbria sobra
Se assoberba a sombra
Se assoma ao sangue
A supurosa sorte
O surdo sopro
A entresala do silêncio
Acena sem saída
O sibilante sim
O incenso seco
O sereno
E o som secreto do sepulcro
Sucumbem todos
A secreta sina
De que somos
Mais
Sensíveis a si
Do que (e somente se) ao ser
Se assoberba a sombra
Se assoma ao sangue
A supurosa sorte
O surdo sopro
A entresala do silêncio
Acena sem saída
O sibilante sim
O incenso seco
O sereno
E o som secreto do sepulcro
Sucumbem todos
A secreta sina
De que somos
Mais
Sensíveis a si
Do que (e somente se) ao ser
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