sábado, 25 de setembro de 2021

Aforismo ao vagalume

 Eu converso com o eco

Montanhas são paredes construidas pelo acaso

Ou pela razão ilógica do sistema

Sou o próprio sentido

Do universo que habito

Isso deveria ser fantástico

Ao invés de desesperador

terça-feira, 7 de setembro de 2021

N95

 Respiro

Um espirro

Um esporro

Sofrido


E relaxo

Com o vento

No cabelo

Raspado


Inspiro

A expiração

Nessa máscara

Hermética


E penso

O futuro

As crianças

Sem nome


Digito

Um poema

Sem tema

Um lembrete


Como foto

E o Otto

No ouvido

Escuto


Olvido

De mim

Como sendo

Um vírus


Um ser

Disperso

No universo

Onipresente


Sem deixar 

de ser

Também

Um acidente

domingo, 5 de setembro de 2021

Inventário

Não tenho muito,
Mas concedo aos vivos todas minhas
Brutas certezas.

Mas levo ao tumulo, aos vermes
A maior riqueza:
A lancinante dúvida

Espero com ela
Germinar uma nova árvore
Que dê frutos,
Que dê sementes
E que por fim dê em novas árvores, florestas.

Esta floresta de dúvidas
Irá salvar meus netos
Do deserto movediço do real.

sexta-feira, 20 de agosto de 2021

Os autoconselhos pt. 1,11

 O orgulho é uma projeção do ego. 

Uma sombra, uma névoa do que de fato somos. 

Somos apenas o reflexo de tantos afetos que recebemos e reproduzimos.

Somos muito mais os outros do que nós mesmos. 

E quanto mais nos esquecemos disso, mais pesados ficamos.

A vida é movimento. Precisamos de leveza pra dançar. 

terça-feira, 29 de junho de 2021

Amarga

 Quando do estomago

Vaga a onda de palavras

Proferidas e que abrem

As feridas escondidas,

Já não resta nada 

A que pese consertar.


Tenta-se um drama

Uma falsa promessa

Ou uma prova de amor.


Não resta nada, nada.

Apenas memórias

Delinquentes e

Ululantes como a lua,

E tão distantes como tal.

quarta-feira, 26 de maio de 2021

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Nem um comentário.

Nem 1.


Apenas o rio

Que caudaloso escorre

Porque não poderia ser de outra forma.

Despedaço

Conecto


O côncavo

Ao convexo


A pausa

Ao peso


Reflito

Sobre


O conflito

Do reflexo


A dualidade

Da singularidade


Aceno

Como despeço


-me ao pedaço

Que fui inteiro.




terça-feira, 25 de maio de 2021

Insone vigilância

 Ouço um verso, e me compadeço aos limites dos sentimentos invisíveis.

Sou feito de pele e palavra. E me dou conta disso depois dessa temporada isolando meus olhos da poesia.

Pelo frio ou pelos lábios treinados dos meus filhos, tenho a singela testemunha do sublime.

Dá-me a vontade de compartilhar e também de dividir ao meio a angústia que é ver passar o tempo e também servir ao seu laboro. 

Em cada hábito e cansaço, um milímetro a mais dos finos fios dourados da nuca do Francisco ou dos cílios indecifráveis do Arthur.

Cerco-me agora como um soldado que se espreita na trincheira. Cerco-me de palavras, munido dos sentidos mais atentos. Aguardo vigilante... não sei bem o quê.


sexta-feira, 25 de setembro de 2020

Faminto

Convergem

Ao virgem fim

Ao nada

As infinidades

Possíveis

Do impossível

A passividade

De um asteróide

Deslizando no éter

E a potência

De um novo verso

Vertido no espaço

A ideia como

Forma concreta

A morte disforme

Da fome

E também o amor

quinta-feira, 3 de setembro de 2020

A Masterclass de como ser um futuro master de masterclasses.

 


Um aluno entra na sala de aula. Só tem ele, e mais de 30 professores que não param de ensinar.. todos ao mesmo tempo.


O aluno acaba sendo expulso de sala por faltar com a atenção. 


Os professores continuam ensinando.. todos ao mesmo tempo, até que algum aluno entre novamente na sala de aula.

quarta-feira, 5 de agosto de 2020

A hora do lobo

Nessa hora, sinto que perdi a arte de ser o fiel da balança. O melhor que posso fazer é assistir o inferno queimar sem que eu jogue gasolina. O sentimento é o mesmo de olhar para o espelho e se reconhecer como um monstro. Não sou pai, ou filho, ou sequer humano.. sou um animal indisposto - incapaz de lidar com a beleza, mesmo quando ela também se manifesta em seu estado bruto, em sua absoluta natureza. 

sexta-feira, 5 de junho de 2020

Autorretrato

De dia, a fauna completa dos sentimentos te desenha.
A noite, uma aquarela incerta te respinga
O passar dos meses feito óleo marca suas sombras.
E os anos te esculpem por décadas a fio.
O tempo remodela sua forma.
De uma poesia concreta, resta um bit insondável no meio do espaço.

O acaso cai
Como o sereno
A minha boca
Aberta pro vazio.

quarta-feira, 27 de maio de 2020

Uivo sideral

Se a cadência
Desta torta Terra
Estica a noite pelo dia

Brindo ao breu e ao vento

Sou a demência
Que resiste em guerra
Contra a apatia

E se o silêncio
Que sustenta
A morte me assovia

Brindo ao movimento

Sou inconsciente,
A própria sorte
Dou a vida por outro dia.



sábado, 16 de maio de 2020

Paralaxe

Diz um velho ditado
De um povo que não sabia dizer:
"Seco meus pés em um rio
E aqueço meu corpo no frio"


quarta-feira, 11 de março de 2020

Haicovid

Na calmaria de uma cidade vazia
Um vírus em sua completa solidão
Flutua no ar...