quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Interlocutor

O copo está na metade. O corpo também. Mas essa luta contra a própria condição é o que faz do cansaço, virtude. As poucas mulheres deste boteco irradiam alguma aura incompreendida. Cada qual a sua frequência. E já faz um tempo que não passo por aqui. As pernas morenas de uma delas me remetem ao sol da semana passada. Realmente, faz no mínimo alguns meses. O meu humor é condicionado àquelas curvas. Estou cinza como as nuvens que não haviam, e torto feito os tornozelos. Iminentemente triste como a chuva prestes a cair da contramão. No entanto, ela continua imutável por baixo da saia. E mesmo indo às esquinas que nunca fui, abrindo-se à homens que desconheço, ponho-me a fitá-las contemplativamente. A plenitude dessas pernas é um atol de inspiração. Fazem exatos 2 meses e meio que não passo por aqui. Por alguma razão, essas pernas me cantaram parabéns àquela altura. O copo está no fim, o corpo está no fim, e só quero essas pernas pra ter que voltar de algum lugar.



Nenhum comentário:

Postar um comentário