A procissão de carros
E o retorcido aço
O zumbido da ambulância
O ambulante
Sob o indiferente sinal
Corpos abraçados
Desfigurados
E um menor abandonado
O biscoito é 1 real
A procissão de carros
E o retorcido aço
O zumbido da ambulância
O ambulante
Sob o indiferente sinal
Corpos abraçados
Desfigurados
E um menor abandonado
O biscoito é 1 real
Na escuridão completa,
Ouço sons insondáveis,
Impossíveis,
O som da sobrevivência
Sapos férteis,
Insetos sibilantes,
Presas livres
Pássaros a espreita,
Seres primos,
E plantas à esperança da luz.
Eu olho as estrelas
Há anos-luz.
Assisto ao passado,
Astros primos.
Na escuridão,
Em plena comunhão
O céu e o abismo.
Aceito todos os cookies.
Despido sobre a vigilância dos robôs
E suas taras numéricas exponenciais,
emulo alguém inexorável.
Sigo em plena competição com a esfinge.
Limito-me a ser, apenas o possível, um paradoxo possível:
Um cookie envenenado.
Miragens,
Milhares delas espalhadas
Pelas memórias
Pelas melhores memórias
As mulheres
Pelas melhores mulheres
Os milésimos
Os melhores milésimos
Momentos mínimos
No entanto, os melhores
E contudo, miragens.
- Eu queria voltar ao fim da nossa conversa. Sinto que se eu perder esse fio vou ficar perdido no labirinto que trilhamos até aqui.
- Você sempre romantizando, fazendo algum tipo de metáfora.. trocadilho..
- Como assim?
- Fio.. labirinto…
- Ah sim.. alguma força subliminar que me faz te projetar como um minotauro. Singular, bruto, e absolutamente isolado, incompreensível..
- É assim que você me vê?
- Não sei.. acho que isso que de alguma forma bizarra, essas minhas referências acabam me trazendo.
- Isso não seria só algum tipo de apropriação pra reforçar aquilo que sempre no final do dia você tem sobre si mesmo.. sempre se vendo como algum tipo de herói.
- Não acho que faz sentido.. eu não me vejo assim. Herói?
- Você é daquele tipo de que se desconecta da própria providência.. sempre tentando.. colocando os outros, o mundo como um obstáculo a ser vencido.. sendo protagonista, mas sem nunca se autoanalisar, um herói bem típico.
- Já vi que perdemos o fio..
- Pode ser.. eu pago a conta dessa vez.
- Já quer ir embora?
- A gente não acabou de acabar?
- Eu acho que a gente só está começando..
- Meu deus…
- Pensa nisso que você disse.. como a gente de alguma forma, tendo uma DR..
(- Mais uma DR!)
-... tentando resolver o nosso relacionamento, ou sobreviver apesar dele, a gente não acaba entrando no abismo da filosofia humana.. da razão.. do sentido de todas as coisas universais.
- Aonde que eu disse isso?
- Você sempre se faz de bruto, mas sempre manda essas indiretas bem sentimentais..
- Como assim?
- Vem falar que eu romantizo, e me chama de herói trágico, um narcisista..
- Porque é isso que você parece sempre se apresentar.. sem nem se dar conta.
- Pode ser.. mas aí quem está romantizando é você.. se fazendo de tragédia, ou do silêncio dos astros.. desse muro que não deixa nem ser pintado ou pichado de qualquer coisa..
- Você pode me pintar do que quiser.. não ligo pra isso.
- É claro que liga. Aliás, essa é a razão primordial da gente estar nessa DR. Talvez o amor seja esse impulso de pintar e se deixar pintar constantemente..
- Talvez a gente esteja nessa DR porque você acha que existe algum sentido em continuar tentando.. buscar algum tipo de reação do silêncio constante.. achar que algum dia alguém vai derrotar o minotauro.. ou ainda achar que existe algum minotauro quando na verdade todos morreram tentando sair do labirinto. Talvez você devesse amar as pessoas como elas são..
- Pode ser.. fiquei pensando aqui em qual frase eu picharia na sua testa se você fosse um muro... "só Jesus expulsa demônios das pessoas"... Vamos voltar daonde terminamos? Prometo que não vão ter trocadilhos dessa vez..
- Jesus...
A frase, um resvalo. Tantas coisas que deixaram de ser ditas pela vergonha. Tantos sem vergonha ditados pelas coisas. De repente, de alguma forma, eu me torno um daqueles seguranças de shopping que desliza sobre os patinetes do futuro que já existem. Não sei bem o que estou protegendo, mas a sensação parece boa. Existo por conta de uma suposta insegurança e designado a missão de controlar não sei o que e nem porquê. Mas o deslize é fenomenal...
Eu converso com o eco
Montanhas são paredes construidas pelo acaso
Ou pela razão ilógica do sistema
Sou o próprio sentido
Do universo que habito
Isso deveria ser fantástico
Ao invés de desesperador
Respiro
Um espirro
Um esporro
Sofrido
E relaxo
Com o vento
No cabelo
Raspado
Inspiro
A expiração
Nessa máscara
Hermética
E penso
O futuro
As crianças
Sem nome
Digito
Um poema
Sem tema
Um lembrete
Como foto
E o Otto
No ouvido
Escuto
Olvido
De mim
Como sendo
Um vírus
Um ser
Disperso
No universo
Onipresente
Sem deixar
de ser
Também
Um acidente
O orgulho é uma projeção do ego.
Uma sombra, uma névoa do que de fato somos.
Somos apenas o reflexo de tantos afetos que recebemos e reproduzimos.
Somos muito mais os outros do que nós mesmos.
E quanto mais nos esquecemos disso, mais pesados ficamos.
A vida é movimento. Precisamos de leveza pra dançar.
Quando do estomago
Vaga a onda de palavras
Proferidas e que abrem
As feridas escondidas,
Já não resta nada
A que pese consertar.
Tenta-se um drama
Uma falsa promessa
Ou uma prova de amor.
Não resta nada, nada.
Apenas memórias
Delinquentes e
Ululantes como a lua,
E tão distantes como tal.