terça-feira, 23 de maio de 2017

Testemunho

Por sobre o supremo júri,

A reza silenciosa
Da sentença capital:

Todos à morte
Ao prazo da sorte

Por sobre a lei:

O movimento ao léu.



sexta-feira, 21 de abril de 2017

Nubilo

Acorda.. acorda! Acorda!!
O dia está bonito.. como fazia não estava.
Não estava com fome, e geralmente acordava apenas com sede.
Espreguiçou o dia como se pudesse estalar o corpo feito um tronco crescendo
Uma linha de pó como um rio
Transposto para dar de beber a quem cultua a chuva feito o deus que nunca volta
(Deuses não existem, mas tem cheiro)
Talvez pudesse voltar a dormir
Talvez o dia no sonho pudesse ser ainda mais incrível
Talvez o crível já não interessasse mais
Os dias cinzas são tão regulares
E, no fundo, a regularidade é um sistema fechado em si mesmo
A plenitude verdadeira era o dia cinza em sua pura potência
Essa força latejante de quando nos damos conta
De quando estamos mortos tanto quanto a estrela vibrante
E o pulso na veia é o mesmo da nuvem e da seiva
E a língua seca feito o solo
Que suspira pedindo pelo seu despertar
De perto, de perto mesmo,
O ódio é o amor
E a morte é a vida
O dia cinza raiou com todo o desprezo
Quão irreparável revelação
Nessa revolução imanente do sexo
E o plexo inexorável do verso
O cinza sendo a própria escuridão brilhante
Sendo ela dormindo
Sob o manto ensurdecedor do universo
E seu silêncio cinza

quinta-feira, 13 de abril de 2017

Dialogo

Estamos aqui para a evolução, ela disse.

- Estamos aqui pelo movimento.

sexta-feira, 31 de março de 2017

Lótus

Todos somos tudo
Como o eu é o outro dormente
O nós, o eles sem precedente
O cosmo como a gosma
Ou a semente
O gozo
In(can)descente-
A promessa
A premissa
O presente.


quarta-feira, 22 de março de 2017

recorte d'A Noite dos Mil Dias

Refestelava-se das sobras que havia guardado. Era o quinto dia desde a morte da figura grotesca. E ele fazia de tudo para aproveitar ao máximo sua carne antes que ela apodrecesse.

Empanzinado dos pedaços já rançosos, ele olhava para o deserto e não saberia dizer quando poderia se alimentar novamente ou se, de algum modo, poderia sobreviver por mais alguns dias naquela clareira inóspita.

O sol, que começara a se pôr há duas semanas, completaria seu translado em poucas horas. O céu sustentava um laranja metálico e a paisagem anunciava o frio implacável que estava por vir. No outro polo do horizonte, a escuridão se descortinava, enquanto um dos olhos era deglutido calmamente.

Para sobreviver a Noite dos Mil Dias era preciso se mover, e assim o fez. Começou sua procissão pelo deserto arrastando a carniça do monstruoso gigante. A cada jornada seu fardo se tornava mais leve.

Depois do sexto dia, nada mais era visto, a não ser a parca luz das estrelas. Não poderia saber se elas também estavam mortas, mas o brilho delas o alimentava tal qual o corpo apodrecido do gigante. De alguma forma, ele sabia que estava na direção certa, mesmo sem saber com precisão para onde ia, ou se ainda havia do que fugir.

domingo, 19 de março de 2017

Holismo

Governismo
Fascismo
Anarquismo
Marxismo
Capitalismo
Racismo
Ceticismo
Cristianismo
Espiritismo
Sensacionalismo
Calvinismo
Altruísmo
Sexismo
Racismo
Chauvinismo
Feminismo
Estrabismo
Cubismo
Maneirismo
Albinismo
Budismo
Construtivismo
Arcadismo
Pós-modernismo
Absolutismo
Iluminismo
Nepotismo
Sionismo
Wahabismo
Sofismo
Platonismo
Batismo
Cismo
Behaviorismo
Belicismo
Hinduísmo
Minimalismo
Sincretismo
Totalitarismo



Tudo
Cabe
No esmo,
O ermo
Abismo

quarta-feira, 15 de março de 2017

(Numa ponte-aerea qualquer)


As cidades

Cedo
A idade
Do colosso
Tempo (tal qual os carros)
Irrelevante

Relevo das nuvens
Sublimantes
Naves

Fora
Vida

Ave mãe
A que seguimos
Protestantes

Ao caso
Consternado
Da morte
Irreparável irrelevante(!)

Somos céu
Seremos água
Ou chão
O não
Desconcertante

O grão
O pão
A ponte etérea
Vacilante
Dos olhos entre os vãos

(Minúsculos) amantes
À turbulenta
Sorte dos gigantes

E o alado inabalado
Que sustenta
Do milímetro distante
Ao mais próximo infinito

Instante.


quarta-feira, 8 de março de 2017

Mulher

Mulher
Muita
Mulher
Muda

Que floresce
Que fecunda

Regenere
O gênero

A mulher
vida
A mulher
morte

Que dá
Que tira

Pandora
Helena
Julieta
Natalia
Rosalina

Na fogueira
Nos olhos

A mulher última
Lágrima
Prima
Esperança



Haicai em câmera lenta

(Há mais combinações de palavras possíveis em um haicai do que átomos no universo)

Brincar de infinito
Enquanto a lenta
Bigorna nos esmaga

.

domingo, 5 de março de 2017

Uroboros


A gravidade que engole estrelas
Submetida as fronteiras de um copo

Como o cosmos nos veste em corpos

Dizem que é preciso saber voltar
Embora não nos lembrem como fomos.


quarta-feira, 1 de março de 2017

auto-conselho pro futuro


O amor - um copo cheio de perdão -
E a coragem que à revelia nos condena a realidade
(Que nos traga todo dia)

No fosso de nossos erros, sermos capazes de perdoar, arrepender e mudar.

terça-feira, 17 de janeiro de 2017

Blockbuster

Etern o começo
O quase
Que me preenche em seus
Espaços
Os quais me se gue me m seus passos
Que me pisam
Os seus cadarços
Que meatam nos teus atos
Na sinopse das sinapses
Dos meus lapsos:

Você

domingo, 15 de janeiro de 2017

Aforismo alcoolico pt.1

Eu tento
Tentaculos de fogo
Eu tendo
A morte
Sendo amor

sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

Alma

Atravessa-me o rio
Flutua-me sem que possa pegá-lo
Tal qual os encontros
E a matéria sublime que sintetizam os sonhos
Palavras e figuras
Destiladas pelo rio
Que corre em todas as direções

De sua densa lama
Nos fazemos homens, mulheres, crianças,
Velhas formas a serem deformadas pelo rio
E serem de novo a lama
Sob sua turva água,
que não dá pé.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2017